Morre o pai da antropologia moderna

Escrito por Redação ,
Legenda:
Foto:
O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, um dos grandes intelectuais do século XX, faleceu aos 100 anos

Paris A morte do filósofo e antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, anunciada ontem em Paris, foi lamentada pela comunidade intelectual de todo o mundo. Considerado o antropólogo mais marcante de seu tempo, Claude Lévi-Strauss, que renovou o estudo dos fenômenos sociais e culturais, principalmente os relacionados aos mitos, faria 101 anos no próximo dia 28. Ele sofria do mal de Parkinson.

Apesar da complexidade de sua obra, Lévi-Strauss conseguiu levar a etnologia ao grande público através de "Tristes Trópicos", obra científica escrita em 1955. Esse estudo dos comportamentos sociais dos índios brasileiros, de forte conteúdo autobiográfico, só não levou o prestigiado prêmio Gongourt porque não era um romance.

O acadêmico Jean d´Ormesson, que ocupava a cadeira vizinha do etnólogo na Academia Francesa, saudou "o maior sábio francês". "Era um homem de uma cultura muito grande, de uma grande benevolência. Ele tinha uma cultura literária absolutamente extraordinária e se tornou uma espécie de ícone internacional", acrescentou.

"Ele era extraordinariamente acessível a toda a Academia", disse a historiadora Hélène Carrère d´Encausse, também membro da Academia.

Presença no Brasil

A morte do antropólogo também teve um impacto especial sobre os cientistas sociais brasileiros. O intelectual ajudou a fundar a antropologia no Brasil ao participar, ao longo da década de 1930, de uma missão francesa que ajudou a fundar a Universidade de São Paulo (USP). Lévi-Strauss, considerado o pai da antropologia estruturalista, lecionou Sociologia na USP entre 1935 e 1939. O pensador foi pioneiro no estudo sobre as formas de organização e comportamento dos povos indígenas do continente americano.

Com base em pesquisas e expedições feitas no Brasil com povos indígenas de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia, Lévi-Strauss escreveu em 1955 o livro Tristes Trópicos. "Ele permitiu contato íntimo com a mentalidade indígena", diz a professora do departamento de antropologia da Universidade de Brasília (UnB) Marcela Coelho de Souza que considera o trabalho de Lévi-Strauss imprescindível.

"Sua obra é incontornável se queremos entender como pensam os índios", diz a professora citando também outros livros americanistas como as chamadas "obras mitológicas": O cru e o cozido (1964); Do mel às cinzas (1966); A origem das maneiras à mesa (1968) e O Homem Nu (1971). Para a professora, que é coordenadora do curso de graduação de antropologia na UnB, o pensamento de Lévi-Strauss não está superado. "Ele é um clássico e assim cobre muitas leituras. Sua análise pode ser lida e utilizada ainda hoje diante de outros paradigmas", defende.

PROTAGONISTA
Experiência no Brasil

Claude Lévi-Strauss

Em diversas viagens ao interior do Brasil - no Paraná, Goiás e Mato Grosso, Lévi-Strauss passou pela experiência de conviver com tribos indígenas. O relato dessa exploração por terras brasileiras transformou-se no livro "Tristes Trópicos", de 1955, que lançou o pensador à fama.

CLASSES DISPUTADAS
Aulas eram um "verdadeiro show"

Coordenador do Programa de Estudos dos Povos Indígenas da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, José Ribamar Bessa Freire foi aluno do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss.

Bessa Freire acompanhou entre os anos de 1981 e 1982 as aulas de Lévi-Strauss na Universidade de Sorbonne, na França. "Eram aulas muito concorridas, um verdadeiro show", diz Bessa Freire. "Em um auditório onde cabiam cerca de 300 pessoas, tínhamos que sentar no chão", afirma.

"Os cursos de Lévi-Strauss eram concorridíssimos, além dos alunos que estavam matriculados, os outros professores também paravam suas aulas para assistir", diz Bessa Freire.

"Eu tinha aulas com o Maurice Godelier (antropólogo francês, ex-diretor da Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais) e ele parava tudo o que estava fazendo para ir nas aulas de Lévi-Strauss", comenta.

Bessa Freire destaca a grande perda com a morte de Lévi-Strauss e lembra que segundo o próprio antropólogo, a etnografia brasileira estava entre as "melhores do mundo". Ele foi um pesquisador muito importante para o Brasil", afirma.

Depoimentos

"Suas contribuições revolucionaram a antropologia contemporânea"
Fernando Henrique Cardoso
Ex-presidente da República do Brasil

"Lévi-Strauss foi um dos maiores etnólogos de todos os tempos"
Nicolas Paul Sarkozy
Presidente da França