Itália registra um recorde mundial de mortes pelo novo coronavírus 

País europeu contabilizou, ontem, 627 mortes por coronavírus em 24 horas, um número recorde em um país que já tem um balanço de 4.032 mortos

Escrito por Redação , mundo@svm.com.br
Legenda: Filho enterra a mãe, vítima da Covid-19, no cemitério de Seriate, na Lombardia (Itália)
Foto: Foto: AFP

O recorde mundial de mortes pelo novo coronavírus da Itália, o primeiro foco europeu da pandemia, está ligado a vários fatores, segundo os cientistas: idade média da população, organização de saúde e método de contagem dos contaminados e falecidos.
A Itália registrou 627 mortes por coronavírus em 24 horas, um número recorde em um país que já tem um balanço de 4.032 mortos, entre 47.021 infectados. A Itália representa, agora, 36,6% de todas as mortes pelo vírus no Planeta. A região da Lombardia, onde os hospitais estão lotados, continua pagando o preço mais alto, com mais 381 mortes (2.549 no total). 

O coronavírus, que afeta mais seriamente os idosos ou pessoas com outras patologias, mata os mais doentes da Itália, o país com mais idosos no mundo depois do Japão.

A Itália tem uma taxa de mortalidade de casos em torno de 8,5%. “Encontramos uma mortalidade consideravelmente maior em países com populações mais velhas em relação aos países mais jovens”, disse o demógrafo e professor de saúde pública Jennifer Downd. Ela ressalta que as medidas de distanciamento social para conter a transmissão de vírus devem considerar “a composição da população por idade, contextos locais e nacionais e os laços sociais entre gerações”. 

Para combater a pandemia, ele sugere, portanto, garantir “que o vírus não entre em contato com pessoas mais velhas, para as quais pode facilmente ser fatal”. Na Itália, “a família numerosa é um dos pilares da sociedade em que os avós vão pegar os netos na escola, cuidar deles, talvez fazer compras para os filhos de 30 a 40 anos, expondo-se perigosamente ao contágio”.

Os especialistas também questionam o fato de que a Itália foi logo atingida pela pandemia, imediatamente após a China. “Quando perguntado por que a Itália, eu respondo que não há uma razão específica”, afirmou o professor Yascha Mounk, da Universidade Americana Johns Hopkins. 

“A única diferença é que o contágio chegou lá cerca de dez dias antes de na Alemanha, nos EUA, no Canadá, e se esses países não reagirem rápida e decisivamente, se tornarão o que a Itália é hoje”, alerta. Alguns especialistas também consideram que o país foi pego “de surpresa”, sem tempo para se preparar, ao contrário de seus vizinhos. 

Serviços saturados

Os serviços hospitalares foram rapidamente saturados e os médicos tiveram que escolher quem tratar, como revelaram vários testemunhos publicados pela imprensa.

Especialistas apontam que o rápido aumento da fatalidade de casos Covid-19 na Itália, especialmente na Lombardia, foco da pandemia na península, é uma consequência do número sem precedentes de pacientes que necessitam de terapia intensiva simultânea, que também tem duração média de várias semanas. Nessas condições críticas, é dada prioridade aos pacientes com melhores chances de sobrevivência, o que significa que a qualidade do atendimento diminui, apesar do sistema de saúde da Lombardia ser considerado eficaz.

Segundo especialistas, a alta taxa de letalidade na Itália também é explicada pela política de detecção que, segundo o governo, deve ser realizada “apenas em pessoas sintomáticas”. Essa decisão exclui pessoas potencialmente positivas que não apresentam sintomas. Esse não é o caso de países que, como a Alemanha ou a Coreia do Sul, optaram por um sistema que permite detectar muitos infectados, embora quase não apresentem sintomas. Como consequência, a taxa de mortalidade diminuiu com a contagem do número de casos leves. 

Caos na Espanha

O coronavírus matou mais de 1.000 pessoas na Espanha, onde vários serviços de emergência estão sobrecarregados. Já são quase 20.000 casos no país.

Óbitos na França

A epidemia de coronavírus já deixa 450 mortos na França, 78 novos falecimentos nas últimas 24 horas, e 5.226 doentes hospitalizados, desses cerca de 1.300 em cuidados intensivos.