Igreja Católica inicia um novo ciclo com o papa Francisco

Escrito por Redação ,

A renúncia do papa Bento XVI, em 11 de fevereiro, abre a porta para todo tipo de conjecturas sobre seu possível sucessor e para um período de incerteza inédito na Igreja Católica em 700 anos. Ele deixa para trás as questões centrais colocadas pelo mundo moderno, que Joseph Ratzinger, fiel à sua doutrina, resolveu combater reforçando o tradicionalismo. Os dilemas da maior denominação cristã do mundo, com 1,2 bilhão de fiéis, agravaram-se sob Bento XVI.

Sai a austeridade de Joseph Ratzinger, entra o carisma de Jorge Mario Bergoglio. A renúncia de Bento XVI causou admiração, assim como o anúncio de um latino-americano como seu sucessor. Francisco assume vários desafios. Fotos: Agência Reuters

A redução de novos padres, que foi atenuada (mantém o quadro em cerca de 405 mil homens), porque houve aumento de sacerdotes na Ásia e na África. Entre 2004 e 2010, a Europa perdeu cerca de 9.000 padres. Paradoxalmente, Bento XVI aumentou a representatividade de cardeais eleitores europeus, que somam pouco mais que 50% do colegiado. Bento XVI sempre advogou uma igreja menor e mais fiel, contra os relativismos da sociedade de consumo ocidental.

O diálogo com as demandas mais cotidianas dos católicos, como o planejamento familiar e a prevenção da Aids, foi evitado pelo religioso, nestes sete anos de pontificado, e, não raramente, truncado por declarações desastrosas.

A aproximação com outras religiões, especialmente o islamismo, teve percalços, assim como o combate à pedofilia. Politicamente, até porque o mundo não é o da Guerra Fria vivida por um gigante estrategista como João Paulo II, a Igreja Católica perdeu peso.

Uma passagem bíblica da barca de São Pedro no Mar da Galileia é utilizada por Bento XVI para descrever os sete anos e à frente da Igreja. Mesmo com a voz trêmula em cinco línguas diferentes no último sermão, às vésperas de completar 86 anos, o alemão termina seu pontificado com mais uma mensagem de força.

Para Joseph Ratzinger, durante o período de pontificado, 'as águas foram conturbadas e o vento soprou contra, como em toda a história da Igreja'. Investido do cargo desde 19 de abril de 2005, Bento XVI faz uma emocionada despedida. Ele relembra momentos de 'alegria e luz' de seu papado, mas também períodos de dificuldade, quando 'parecia que Deus estava dormindo'.
Uma multidão estimada em 150 mil pessoas, muitas com faixas nas quais se lia 'Grazie' (obrigado em italiano) toma a Praça de São Pedro para dar adeus e ouvir o último discurso do pontífice. Sua renúncia entra em vigor às 20h do dia 28 de fevereiro (16h em Brasília).

O anúncio do sucessor de Bento XVI é uma surpresa tão grande quanto a sua renúncia. Pela primeira vez na história da Igreja Católica, a escolha da maioria dos 115 votantes no Vaticano recai sobre um cardeal da América Latina. Outra mudança pioneira é o papa se chamar Francisco, nome simbólico para um religioso da Companhia dos Jesuítas. O arcebispo de Buenos Aires, que havia sido o segundo mais votado quando o eleito foi Joseph Ratzinger (em 2005), não está entre os mais cotados.

Francisco é como passa a ser chamado o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, 76, arcebispo de Buenos Aires, escolhido papa no dia 13 de março. É o primeiro pontífice latino-americano da história. Também é a primeira vez que o cargo é entregue a um membro da Companhia de Jesus.

Ele obtém 77 votos dos 115 cardeais com direito a voto que participaram desde o dia 11 do conclave, na Capela Sistina, no Vaticano. Filho de italianos e torcedor do San Lorenzo, Bergoglio é eleito no segundo dia de conclave, após um total de cinco votações.

Em seu primeiro pronunciamento, o papa diz que os cardeais o encontraram no fim do mundo. 'Vocês devem saber que o dever do conclave era dar um bispo para Roma. E parece que os cardeais foram encontrá-lo no fim do mundo. Obrigado pelas boas-vindas'. O novo papa pede uma oração pelo agora papa emérito Bento XVI e depois pede que os fiéis orem por bênçãos a ele.

Conforme a tradição, o resultado é anunciado por meio da emissão de uma fumaça artificialmente colorida de branco, pela chaminé da Capela Sistina. A escolha é confirmada pelo som dos sinos da Basílica de São Pedro, às 19h06 (às 15h06, no horário de Brasília).

Papa vem para a Jornada Mundial

Na primeira viagem internacional desde que é indicado como sucessor de Bento XVI, papa Francisco é aclamado na Jornada Mundial da Juventude (JMJ)

Em julho, o papa preside a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), na primeira viagem internacional do argentino Jorge Mario Bergoglio desde que é indicado como sucessor de Bento XVI, em março. 'Eu aprendi que, para termos acesso ao povo brasileiro, é preciso entrar em seu grande coração. Então, permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta dos corações dos brasileiros', diz o papa, de 76 anos, que quebra vários protocolos de segurança para se aproximar dos fiéis.

Durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o papa pede que os jovens não se submetam a modismos, sejam autênticos e que 'suem a camisa' na vivência da religião. Foto: Agência Reuters

Na chegada, milhares de brasileiros e estrangeiros lotam as ruas do Centro do Rio para ver o papa Francisco, o primeiro sumo pontífice da América Latina. Eles comemoram a rápida passagem do papamóvel pela região e se emocionam mesmo com os poucos segundos de aceno dele. No Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, o Pontífice ataca a idolatria ao poder e reforça sua devoção em Maria na celebração de missa para 15 mil fiéis.