Boris Johnson defende nova eleição geral caso o Parlamento proíba brexit sem acordo

O premiê participa de uma sessão de perguntas no Plenário nesta quarta-feira (4)

Escrito por Folhapress ,
Legenda: Boris diz que realizará o brexit em 31 de outubro, mesmo que não haja um acerto firmado com a UE que detalhe como ficarão as coisas após a saída do país do bloco
Foto: BRU / AFP

Dois dias após dizer que não queria novas eleições, o premiê Boris Johnson desafiou a oposição a convocar uma votação geral caso o Parlamento aprove uma lei que impeça a retirada do Reino Unido da União Europeia sem um acordo.

Boris diz que realizará o brexit em 31 de outubro, mesmo que não haja um acerto firmado com a UE que detalhe como ficarão as coisas após a saída do país do bloco. Esses termos são debatidos desde 2016 e há grande dificuldade para chegar a um consenso. 

"Eu convido o líder da oposição [Jeremy Corbyn] a confirmar que se essa lei de rendição [o veto à saída sem acordo] for aprovada, ele permitirá as pessoas deste país expressar sua visão sobre o que ele está propondo entregar em seu nome, com uma eleição em 15 de outubro", disse Boris, no Parlamento. O premiê participa de uma sessão de perguntas no Plenário nesta quarta-feira (4). 

Na segunda-feira (2), Boris disse que não desejava um novo pleito. "Não há circunstâncias nas quais eu pedirei a Bruxelas mais prazo. Nós estamos partindo em 31 de outubro, sem 'ses' nem 'mas'", disse. "E sem uma eleição. Eu não quero uma eleição, vocês não querem uma eleição."

O Parlamento votará nesta quarta (4) uma proposta para proibir o governo de realizar o brexit caso não exista um acordo com a UE, o chamado "no deal". Boris se opõe a essa proposta e considera que sua aprovação significaria que o Parlamento não confia em seu governo. Portanto, para ele, novas eleições são necessárias. 

Johnson perde força

O premiê perdeu a maioria na terça-feira (3), quando um parlamentar do Partido Conservador migrou para a oposição. Além disso, outros conservadores passaram a tomar posição contrária a Boris. 

Também na terça, os parlamentares aprovaram uma medida que dá ao Parlamento, e não ao Executivo, o poder para definir a agenda parlamentar. No entanto, há pouco tempo para agir. Na semana que vem, as atividades serão paralisadas, pois o premiê pediu uma suspensão de cinco semanas. Com isso, o trabalho será retomado só na segunda quinzena de outubro, a poucos dias da data do brexit. 

Essa suspensão, apontada como estratégia para reduzir os debates, gerou diversos protestos no fim de semana por todo o país. Nesta quarta-feira (4), um tribunal da Escócia declarou que a suspensão do Parlamento pedida por Boris foi legal. O questionamento havia sido feito por parlamentares contrários ao brexit. Outras duas ações judiciais sobre a mesma questão estão em curso, em Belfast e em Londres.

O brexit foi aprovado em um plebiscito em 2016, com 52% dos votos. Segundo uma pesquisa do Yougov feita após o anúncio de suspensão do Parlamento, os conservadores teriam 33% dos votos em uma eleição geral, contra 22% dos trabalhistas, 21% para os liberais-democratas e 12% para o Partido do Brexit.

Em condições normais, as eleições gerais no Reino Unido ocorrem a cada cinco anos. A próxima está marcada para 2022. No entanto, elas podem ser antecipadas se houver apoio de dois terços dos membros do Parlamento. 

A votação fora de época também pode ocorrer se for aprovada uma moção de desconfiança contra o premiê e, em 14 dias, não houver acordo para a formação de um novo governo.

A última eleição geral foi realizada em junho de 2017, de modo antecipado. A então premiê Theresa May esperava conquistar uma prova de apoio popular, mas seu governo acabou ficando com menos representantes do que tinha antes.