Bombardeios estadunidenses a tropas pró-Irã no Iraque deixam 25 mortos

O governo estadunidense havia prometido uma "resposta firme" à intensificação dos ataques contra seus interesses no Iraque, o que Washington atribui a facções pró-Teerã

Escrito por AFP ,

Ao menos 25 combatentes iraquianos morreram na fronteira entre Iraque e Síria, em bombardeios de represália do exército dos Estados Unidos contra uma milícia pró-Irã, no domingo (29). Os ataques estadunidenses ainda deixaram 51 feridos, entre combatentes e comandantes, mas o balanço pode aumentar, advertiu o Hashd al Shaabi, coalizão de paramilitares formada para lutar contra o grupo Estado Islâmico (EI) e integrada em sua maioria por forças de segurança iraquianas.

O governo estadunidense havia prometido uma "resposta firme" à intensificação dos ataques contra seus interesses no Iraque, o que Washington atribui a facções pró-Teerã. O governo do Irã afirmou que os ataques demonstram que Washington "apoia o terrorismo" porque as Brigadas do Hezbollah – a milícia alvo do ataque de domingo à noite - pertencem a Hashd al Shaabi.

Os bombardeios estadunidenses se concentraram em bases e depósitos de armas das Brigadas na fronteira entre Iraque e Síria, afirmou o porta-voz do Pentágono, Jonathan Hoffman. O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper, disse que os ataques foram bem sucedidos e não descartou ataques adicionais, se "necessário". "Os ataques foram bem sucedidos. Os pilotos e as aeronaves retornaram à base de forma segura", declarou Esper à imprensa depois que caças F-15 atacaram cinco alvos.

O secretário americano de Estado, Mike Pompeo, afirmou que Washington "não aceitará que a República Islâmica do Irã execute ações que coloquem em perigo os americanos". Vários políticos iraquianos consideram uma "ameaça" a presença de 5.200 soldados estadunidenses em seu território.

O porta-voz militar do primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi denunciou uma violação da soberania iraquiana, enquanto as Brigadas do Hezbollah pediram a "expulsão do inimigo americano".

Outra facção pró-Irã, Asaib Ahl Al Haq, um dos grupos armados mais poderosos do Iraque e cujos líderes foram alvos recentemente de sanções de Washington, afirmou que a "presença militar americana se tornou um fardo para o Estado iraquiano e, sobretudo, uma fonte de ameaças". "Agora é imperativo fazer o possível para expulsá-los por todos os meios legítimos", afirma o grupo em um comunicado.

O número dois do Parlamento iraquiano, que pertence ao movimento do líder xiita Moqtada Sadr, pediu ao Estado que "adote as medidas necessárias" ante os ataques dos Estados Unidos, assim como a influente organização Badr, outro grupo armado pró-Irã.

Vários deputados também defendem uma denúncia do acordo Iraque-EUA que autoriza a presença de tropas de estadunidenses no Iraque, um país que também enfrenta a revolta da população contra o governo. 

Crise social e política 
Desde 28 de outubro foram registrados 11 ataques contra bases militares iraquianas que abrigam soldados ou diplomatas estadunidenses, um aumento sem precedentes nos lançamentos de foguetes contra interesses americanos no Iraque.

Alguns ataques atingiram as imediações da embaixada dos Estados Unidos na Zona Verde de Bagdá, uma das áreas mais protegidas da capital. Um militar iraquiano morreu e vários ficaram feridos nos 10 primeiros ataques. No 11º, sexta-feira, faleceu um estadunidense. 

O balanço poderia ter sido muito mais grave porque comandantes da polícia iraquiana e da coalizão internacional antijihadista tinham um encontro previsto para o local.

Os ataques aos interesses estadunidenses ou a bases de grupos pró-Teerã também fazem temer algo que os dirigentes iraquianos advertem há meses: que EUA e Irã utilizem o Iraque como campo de batalha. Nos últimos meses, o Irã reforçou sua influência no Iraque em detrimento dos Estados Unidos, coincidindo com uma revolta sem precedentes contra o governo. 

Depois da demissão do governo iraquiano há quase um mês, a República Islâmica e seus aliados no Iraque pressionam para colocar um de seus homens no cargo de primeiro-ministro. A instabilidade política foi desencadeada pela pior crise social registrada no país, que deixou cerca de 460 mortos e 25 mil feridos

Os manifestantes protestam contra as autoridades e seus parceiros iranianos e paralisaram a administração e as escolas em quase todas as cidades do sul do país. Desde sábado (28), eles conseguiram interromper pela primeira vez depois de um mês a produção - de 82.000 barris por dia - de um campo petrolífero no sul iraquiano.