Um ano do desabamento na Maraponga: 15 moradores ainda aguardam indenização

Grupo de inquilinos entrou com ação na Justiça ainda em 2019. Até o momento, não recebeu nenhuma ajuda por parte dos proprietários ou da Prefeitura de Fortaleza; defesa dos donos diz que eles "continuam abertos para negociações amigáveis"

Escrito por Redação ,
Legenda: Prédio desabou em junho de 2019
Foto: Thiago Gadelha

As lembranças do desabamento parcial do edifício residencial Benedito Cunha, na Maraponga, ressurgiram para a nutricionista Emanuelle Lima, de 29 anos, no último dia 1º, quando o incidente completou um ano. Cerca de um mês após a data, ainda em 2019, a família de Emanuelle e outras nove entraram com uma ação conjunta na Justiça e desde então ainda aguardam indenização dos proprietários do prédio. Ao todo, são 15 moradores nessa luta.

A nutricionista estava no apartamento acompanhada pelo marido, o filho, de um ano e dois meses na época, e outros dois familiares quando o prédio começou a ruir. “Nós vimos todos os nossos bens, tudo que a gente batalhou anos para conquistar, sucumbir. Meu filho saiu nu de lá. Foi uma situação que só de lembrar dá vontade de chorar”, relembra.
 
Segundo Emanuelle, desde o dia do incidente, nenhum apoio foi prestado por parte dos donos do imóvel. “A gente só o quer o que já é nosso direito. Nem uma indenização por danos morais nós temos”, afirma. A ex-moradora do prédio hoje reside com a mãe, ainda na Maraponga, e relata passar por dificuldades. 

A gente até tentou se reerguer no começo desse ano, mas veio a pandemia e tudo complicou ainda mais. É muito angustiante viver assim, sem ter perspectiva de que algo dê certo para que possamos seguir a vida”, diz.

Foto aérea de edifício desabado na Maraponga, em junho de 2019
Legenda: Prédio desabou na Maraponga em junho de 2019
Foto: Gustavo Pellizzon

Como a família de Emanuelle, a do também morador e empresário Neto Barbosa, de 36 anos, também estava dentro do prédio no momento do incidente. De acordo com Neto, os proprietários conseguiram um acordo com 20% das 16 famílias que residiam no prédio apenas pelos bens materiais. 

“Nunca teve ajuda. Nem dos proprietários, nem da Prefeitura, nada. (Os proprietários) Fizeram um acordo com poucas famílias e só. Não teve indenização por dano moral, nem ajuda psicológica e muito menos auxílio moradia. A gente se resolveu do jeito que cada um conseguiu. Uns moram com familiares, outros com amigos e por aí vai, até a Justiça determinar algo”, pontua.

Acordo

De acordo com o advogado do grupo de moradores, Marcelo Magalhães, houve uma reunião extrajudicial em fevereiro deste ano para tentar um acordo junto com o advogado dos proprietários do prédio. “Tentamos a conciliação, reduzimos em 50% o que pedimos inicialmente e até hoje aguardamos resposta da outra parte. O imóvel foi bloqueado para pagamento às famílias, que seguem sem nenhuma reparação”.

Por causa da pandemia do novo coronavírus, o processo está parado, conforme Magalhães. “Estamos na fase de instrução, para que seja colhido provas e o juiz possa dar o veredito no final”, explica.

De acordo com o advogado dos donos do residencial, Jerônimo de Abreu Júnior, os senhores Arisol Parente Portela e Solimar Parente Portela, responsáveis pelo prédio "continuam abertos para negociações amigáveis", informou em nota.

Segundo a defesa dos proprietários do condomínio, "o processo envolvendo o litígio com os proprietários dos apartamentos está tramitando de forma regular". Contudo, eles argumentam que os veículos dos donos do edifício e o próprio terreno estão indisponíveis, conforme a Justiça, para garantia de pagamento de indenizações.

Desabamento 

No dia 1º de junho de 2019, o prédio residencial Benedito Cunha, localizado na Travessa Campo Grande, na Maraponga, teve a estrutura comprometida após a ruptura de algumas colunas de sustentação. O edifício ficou inclinado e teve as paredes rachadas, correndo risco de desabar a qualquer momento.

Na época, 16 famílias deixaram os pertences dentro do imóvel e precisaram ser retiradas pela Defesa Civil e pelo Corpo de Bombeiros. Outras 12 casas ao redor do prédio também foram interditadas. Já no dia 28 de junho, o edifício foi totalmente demolido.

De acordo com a Polícia Civil, em 1º de outubro do mesmo ano, as investigações, feitas por oito peritos criminais com a presença de engenheiros, apontaram que o prédio foi construído em um solo sensível à presença de água e com erros de projeto e execução.

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