Testando casos prioritários, laboratório no Hemoce tem até 90% de exames positivos para Covid-19

Coordenador explica que índice vem aumentando mesmo entre pacientes já internados com suspeita; com fila de mais de 15 mil testes em todo o Estado, casos menos prioritários podem esperar semanas pelo resultado.

Escrito por Nícolas Paulino ,
Legenda: No Laboratório de Diagnóstico da Covid, funcionários como os pesquisadores Bruna Mara Ribeiro Teles, Mauriclécio Ponte e Veridiana Pessoa participam de uma rotina intensa de testagens.
Foto: Foto: Reprodução

Um laboratório de emergência de biologia molecular para detectar casos de covid-19 foi instalado no Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce) há 12 dias, no bairro Rodolfo Teófilo, em Fortaleza. A unidade foi habilitada para desafogar o Laboratório Central do Ceará (Lacen) com a demanda crescente por testes da doença, e vem constatando entre 80% e 90% de positividade nos exames que realiza.

A informação é de Fábio Miyajima, um dos coordenadores do laboratório e especialista em Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz no Ceará (Fiocruz-CE). Até esta terça-feira (21), a unidade havia processado mais de 500 amostras e liberado mais de 400 resultados para conhecimento do sistema de saúde. 

Segundo Fábio, as amostras enviadas ao local são “demanda prioritária” do Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ) e de outros hospitais definidos pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). Ele projeta que, em breve, também podem chegar exames do Hospital Leonardo da Vinci e do hospital de campanha do Estádio Presidente Vargas.

O coordenador avalia que o índice de positividade pode estar enviesado porque as amostras são de pacientes já internados com sintomas da doença. 

“Inicialmente, do HSJ, uma em cada três amostras dava positivo. Agora, com os hospitais abarrotados, leitos de UTI 100% tomados, temos um índice que está aumentando mesmo dentro dessa amostragem específica. Provavelmente, estamos em vias de atingir o pico da epidemia”, diz o pesquisador. 

Montagem rápida

“Trouxemos vários equipamentos da Fiocruz e a engenharia fez as adequações necessárias, em caráter de urgência”, afirma. Em uma semana, estava pronto para iniciar as análises RT-PCR, através de biologia molecular, que é considerado o método mais confiável para o diagnóstico da covid-19.

“Algumas amostras vêm de internações graves, então estamos implantando escala de priorização, por urgência. Se fosse só uma amostra, daria pra pegar amostra de manhã e soltar o resultado à tarde. Na máquina, demora 2 horas, mas o Estado tem uma fila enorme”, afirma antes de descrever um longo processo de etiquetagem e liberação dos exames. 

Na manhã desta quarta-feira (22), o Ceará tem 15.228 casos suspeitos da Covid-19 em investigação, de acordo com a plataforma IntegraSUS, da Sesa. “Todos são importantes, mas os casos menos prioritários são colocados no final da fila e podem levar semanas. Não é falta de vontade nossa, é a realidade que estamos enfrentando”, reconhece Miyajima.

Fábio explica ainda que, embora seja o mais confiável, o teste RT-PCR negativo não significa necessariamente que a pessoa não esteja doente. Ela pode estar ainda no período de incubação ou já recuperada da Covid-19, ou mesmo contaminada por outros vírus respiratórios, como adenovírus e influenza. “Se o exame deu negativo, a única coisa que os gestores podem fazer é não internar esse paciente junto com quem tem confirmação de Covid”, recomenda.

Voluntariado

Ao todo, a equipe do laboratório possui 17 pessoas, entre funcionários do Hemoce, residentes de Farmácia do HSJ e alunos voluntários de doutorado da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Fiocruz. Para dar conta da fila, eles trabalham sete dias por semana. “Tem que ter gás e dedicação porque essa é uma causa humanitária”, destaca Miyajima.

Para o coordenador, a pandemia escancara deficiências na produção de insumos e na quantidade de laboratórios de referência em todo o Brasil. Ele afirma que, na unidade de emergência do Hemoce, já foram solicitados mais recursos ao Governo do Estado e também à Fiocruz.

Expansão

O especialista também lembra que, em breve, o Lacen e o Hemoce devem ganhar reforço de três novos centros de testagem para covid-19: a Universidade de Fortaleza, o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimentos de Medicamentos (NPDM) da Universidade Federal do Ceará (UFC)  e, no Interior, a Universidade Federal do Cariri (UFCA), em Barbalha.

“A descentralização é absolutamente necessária. Acredito que esses novos centros não estão longe de iniciar. Espero que possam começar rapidamente porque, mesmo depois que o pico passar, a testagem vai continuar por muito tempo. A política mais eficaz tem três pontos: testar em massa, rastrear os casos e tratar a doença”, descreve Miyajima.

Mortes por Covid-19 em Fortaleza

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