Terapia ocupacional pode ajudar no tratamento do autismo

Dentre os serviços voltados ao acompanhamento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), a prática se traduz em benefícios que são ainda mais perceptíveis quando o recurso é iniciado nos primeiros anos de vida

Escrito por Bárbara Câmara , barbara.camara@diariodonordeste.com.br
Legenda: Entre as adaptações pelas quais a sala passa, estão parte da iluminação acesa e áudio reduzido
Foto: FOTO: RODRIGO GADELHA

Quando aparentes ainda na infância, os sinais são claros: dificuldades para falar ou expressar ideias e sentimentos, mal-estar ao interagir com outras crianças, dificuldades para brincar e apresentar gestos repetitivos. Tais são os comportamentos que caracterizam o autismo, termo que resume determinadas desordens do desenvolvimento do cérebro, hoje conhecidos como Transtornos do Espectro Autista (TEA). 

Nesta terça-feira (2), a divulgação de informações sobre a doença é posta em destaque em razão do Dia Mundial da Conscientização Sobre o Autismo, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007. 

“O autista tem uma série de demandas. Para essa criança ter um bom desenvolvimento, é necessário um atendimento multidisciplinar, além de a criança ter acompanhamento para frequentar regularmente a escola”, ressalta o psicólogo clínico Adriano de Lima. Segundo ele, há uma carência de centros unificados voltados especificamente ao tratamento do autismo na rede pública de saúde. 

“Algumas pessoas fazem atendimentos pontuais nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), mas são mais voltados à medicação para pacientes que precisam por conta da hiperatividade ou agressividade”, diz. A principal demanda do autismo, porém, diz respeito ao atendimento que integra terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicopedagogos e, em alguns casos, nutricionistas. “Muitas crianças com autismo têm seletividade alimentar, não aceitam certas texturas”, pontua Adriano de Lima. Pacientes com essa característica podem vir a ter alterações de comportamento quando a família começa a tentar intervir em suas preferências, o que reforça a necessidade do atendimento multidisciplinar. 

Intervenção

Dentre os serviços voltados ao acompanhamento de pessoas com autismo, a terapia ocupacional se traduz em benefícios que são ainda mais perceptíveis quando o tratamento é iniciado nos primeiros anos de vida, permitindo melhor prognóstico. “A terapia ocupacional trabalha com o autismo a fim de oferecer ao paciente uma intervenção terapêutica que abrange as áreas de desempenho educacional, do brincar, das atividades de vida diária e da participação social”, explica Edda Araújo, terapeuta ocupacional que atua com o tratamento do transtorno há cerca de três anos. 

Na clínica, segundo ela, é abordada a terapia sensorial, necessária uma vez que toda pessoa com autismo possui algum nível de alteração sensorial. “Quando a gente trabalha com o processamento sensorial, a gente está preparando a criança para que ela tenha equipamento suficiente para dar conta da demanda de vida social, produtiva e educativa”, destaca. 
Conforme o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2012, o Ceará teve uma estimativa de 80 a 120 mil diagnósticos de autismo.

Em Fortaleza, a Fundação Projeto Diferente (FPD) foi criada em 1989 com o objetivo de desenvolver potenciais, melhorar a qualidade de vida e inclusão social de pacientes com autismo. A abordagem psicoeducacional e terapêutica é conduzida por quatro professores e contempla 61 alunos, com idades variando de 6 a 44 anos.
“A gente conta com 60 famílias. Destas, oito estão na direção e o restante são beneficiadas, cuja maioria são pessoas em situação de vulnerabilidade social. É uma instituição privada, que não tem um proprietário, mas tem responsáveis”, explica Ana Timbó, presidente da FPD. 

Segundo ela, as dificuldades financeiras são uma constante, e a Fundação conta com doações e recursos cedidos pelos pais da direção para se manter.

Aos 8 anos, o filho de Ana Timbó, Marcos Levi, também é atendido na FPD e recebe atendimento terapêutico em casa. “Quando ele tinha um ano e pouco, começou a apresentar alguns sintomas. Ele tinha autismo regressivo. Quando foi a época de falar frases, não conseguia. Aos 3, veio o diagnóstico”.

Legislação

Assinada em 2012, a Lei nº 12.764 institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e concede às pessoas com autismo todos os direitos concedidos às pessoas com deficiência. Tais direitos incluem educação profissionalizante e inserção no mercado de trabalho e atendimento prioritário.

No próximo sábado (6), em alusão ao mês de abril, de conscientização sobre o autismo, será realizado o projeto “Sábado de Diversão e Inclusão” na Praça do Bem Estrelário, no bairro Meireles. A ação é fruto da parceria entre a Associação Fortaleza Azul (FAZ) e o Projeto Ser do Bem, que foi idealizado pela C. Rolim Engenharia.

O evento, que acontece a partir de 16h, é gratuito e contará com a realização de brincadeiras lúdicas, educativas e sensoriais, com a distribuição de mudas de árvores nativas e com um espaço para a disseminação de informações sobre o autismo para o público.

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