Templos católicos de Fortaleza cumprem papel importante na pandemia

Com missas transmitidas por redes sociais e "trabalho social voltado aos vulneráveis", a Igreja Católica segue na missão de estar próxima aos fiéis, movimento ainda mais importante durante a pandemia do novo coronavírus

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Legenda: Igrejas católicas da Capital mantêm portas fechadas por medidas de saúde coletiva
Foto: Thiago Gadelha

Pela primeira vez na história do Ceará, as igrejas católicas mantiveram suas portas fechadas por mais de quatro meses. Mesmo a distância, o papel desempenhado é fundamental, seja para aliviar as dores físicas ou para fazer entender a importância do respeito às normas de isolamento social, recomendadas pelos órgãos de saúde.

"É um momento histórico e primordial. Nunca, no Ceará, a Igreja ficou tanto tempo fechada. Penso que seu grande papel social é o cuidado pela vida", defende o padre Josieldo Nascimento, vigário paroquial do Santuário de Fátima. Para ele, a Igreja evita a formação de aglomeração, e, por consequência, a disseminação do novo coronavírus entre os fiéis.

Reinventar

Com a impossibilidade dos encontros físicos, Paula Kayanne Ferreira, jovem arquidiocesana do Encontro de Jovens com Cristo (EJC), movimento presente em 37 igrejas da Capital, conta que foi preciso descobrir novas formas para seguir acompanhando e engajando milhares de jovens.

"Pegou a gente de surpresa, mas foi, também, um momento de união. A gente deu uma parada para enxergar o próximo. Observo que criamos várias ferramentas virtuais, as lives, os terços marianos, com palestras que não só abrangem o mundo da religião mas também o cuidado consigo e com o outro e com a saúde mental. Praticamente, todo fim de semana temos pelo menos duas ou três lives acontecendo".

Mudança de formato

A suspensão das atividades presenciais apresentou, também, o desafio para os párocos adaptarem o antigo formato de missa para as realizações virtuais.

Na perspectiva do padre Rafhael Silva Maciel, da Arquidiocese de Fortaleza, embora o processo de mudança tenha sido mais fácil para alguns, a maioria precisou aprender a utilizar as plataformas digitais. "Muitos padres talvez nem sequer conheciam as redes sociais como conhecem hoje, e isso foi uma exigência do período que estamos vivendo", explica.

Por meio das plataformas online, foi possível transmitir missas, catequeses e até momentos de pregações com algumas pessoas.

"O importante foi essa abertura de espírito, que houve de dentro do clero, da vida dos religiosos, para essas novas tecnologias", aponta. Dessa forma, acredita que uma ponte de comunicação foi criada, do modo mais prático, para se chegar aos fiéis no período do isolamento social devido à Covid-19.

Raphael acredita que, mesmo com o retorno gradual das atividades presenciais nos templos físicos, as redes sociais devem permanecer como legado do período da pandemia para a vida espiritual dos fiéis.

"Isso abriu novos horizontes para os sacerdotes, padres e para a igreja. Acho que a pastoral da comunicação vai ter muito a aprender na utilização das redes sociais", avalia.

No Santuário de Fátima, o padre Josieldo é um exemplo da mudança. Ele celebra duas missas por dia, transmitidas pelo YouTube, Facebook e Instagram, além de uma versão em rádio pela Internet. "São muitas opções, e chegamos a ter mais de mil pessoas acompanhando", revela.

Pela tela do celular, a cozinheira Maria do Livramento Rodrigues, 47, passou a assistir, dentro da sua própria casa, as cerimônias que antes ajudava a organizar e testemunhava pessoalmente a cada fim de semana. "Eu não assisto todo dia, porque meu celular descarrega muito ligeiro. Vejo mais na segunda e na sexta-feira, quando tem adoração, às 17h".

Antes da pandemia, a rotina de Maria era agitada. Ela frequenta o Santuário de Fátima desde os 9 anos de idade, e, quando adulta, passou a dar formação para crianças e ajudar a organizar as missas - até durante feriados. Quando as atividades foram interrompidas, o impacto foi forte.

"No começo, foi horrível. Agora a gente vai se acostumando, mas ainda dá saudade de estar na igreja, fazendo as coisas sem parar. As pessoas diziam que eu era a primeira a chegar e a última a sair. E eu gosto mesmo de trabalhar para Deus, para Nossa Senhora. É muito melhor estar lá ajudando do que estar só em casa. Se Deus quiser, a gente volta logo", anseia.

Retomada

Embora o plano de retomada das atividades no Estado permita a reabertura dos templos com capacidade reduzida, o arcebispo Dom José Antônio Tosi Marques, da Arquidiocese de Fortaleza, reforçou que ainda não é o momento de reabertura. A decisão foi divulgada por meio de uma carta circular publicada em junho, e as missas presenciais ainda não têm data prevista de retomada.

Para o padre Josileudo Queiroz Façanha, pároco da Paróquia São José Operário, em Caucaia, a decisão é acertada. "Não tem faltado às pessoas esse acompanhamento espiritual por meio das plataformas digitais. A gente não pode esquecer que isso é momentâneo. Quando houver uma maior seguridade, a gente vai voltar e, ainda, mais certos de que a nossa igreja tomou a decisão correta", ressalta.

Por enquanto, a Igreja segue realizando ações de solidariedade e contribuindo. Segundo padre Josieldo, durante a pandemia, foram intensificadas as ações de entrega de cestas básicas e quentinhas para pessoas em situação de rua. "É a experiência da Igreja de Fátima, do Cristo Rei, de tantas igrejas que têm promovido os almoços, essas ações para pessoas mais necessitadas".

Já Kayanne, jovem do EJC, ressalta que os eventos virtuais geram uma rede de doações. "Muita gente ficou desempregada e teve a renda afetada. Precisam de ajuda", ressalta.

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