Sonhar para resistir

Escrito por Renato Bezerra , renato.bezerra@svm.com.br

Em época de pandemia de coronavírus, bombardeados por notícias ruins, medo e com incertezas de sobra, o refúgio, muitas vezes, vem dos sonhos. Na manhã da terça-feira, 31 de março, acordei feliz. Durante meu merecido descanso, fui levado ao Aterro da Praia de Iracema, em um treino de corrida com direito a pé na areia, vento no rosto e barulho das ondas quebrando na praia. Junto a mim, um amigo querido, que nem sequer tem a prática de correr como costume, mas como um leal companheiro neste cenário atual e difícil tem se mostrado, foi projetado para meu lado na atividade que tanto amo.

O nome disso não é outro, a não ser saudade. De viver a cidade, de me exercitar ao ar livre, sentir as ruas, estar com pessoas queridas. Assim que peguei o celular, vi a mensagem de uma amiga que me deixou ainda melhor. Eu estive no sonho dela naquela mesma noite. "Sonhei que eu ganhava uma barrinha de prestígio e corria pra te dar. Bom dia", disse no texto. Ela sabe que o chocolate em questão é um dos meus favoritos. É interessante perceber como esse gesto simples foi capaz de nos conectar, desmontando, ainda que em campo imaginário, a barreira do isolamento social.

Ainda pela manhã, nas conversas virtuais pelo WhatsApp, amigos começaram a relatar sonhos felizes, na mesma noite. Estamos todos ansiosos para o retorno à vida normal? Sim, é evidente. Mas no sonho de outra amiga, isso já era realidade. E para brindar essa nova fase, nosso grupo se reencontrou em um luau na Praia da Sabiaguaba, cantando, se divertindo, bebendo, e tirando fotos em imóveis antigos. Segundo ela, fiquei responsável pela organização do ensaio, acredito eu, por gostar muito de fotografias.

O casamento, agendado para maio próximo - mas já incerto a essa altura - foi o objeto de sonho de uma terceira amiga, ansiosa por um desfecho. "Sonhei que tava entrando no meu casamento. Era um jardim. Meu vestido era de renda, simples. Minha maquiagem rosa, quando começava a entrar percebia que tava de óculos e o jogava pro lado". Relata. Se pudesse, tenho certeza, tudo o que ela gostaria era de estar mesmo jogando seu óculos no chão, se isso significasse a realização de seu objetivo tão esperado.

Assim como nós, muitos devem estar projetando seus mais íntimos desejos e/ ou momentos felizes ao lado dos seus durante a dormida, pois nos sonhos o território é livre. É lá onde podemos tudo, independentemente de pandemia. Não sei por quanto tempo mais tudo isso se estenderá. Deixo aqui meu mais profundo querer por um desenredo positivo, para que nossos afetos voltem a ser físicos, nossa cidade possa ser ocupada novamente, nossa vida possa seguir seu curso habitual. O que nos resta? Sonhar.

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