Sete Áreas Descentralizadas de Saúde do Ceará (ADS) têm alta significa de Covid-19 em sete dias

Dados das duas últimas semanas epidemiológicas mostram que o acréscimo mais acentuado ocorreu na ADS de Camocim, com 90,9% casos positivos a mais. Já a ADS de Fortaleza aparece na lista com um aumento de 21,6%

Escrito por Barbara Câmara | Felipe Mesquita | Itallo Rocha ,
Legenda: O aumento de casos tem preocupado as autoridades sanitárias do Estado
Foto: FOTO: HELENE SANTOS

Embora o Ceará não tenha, por ora, um cenário epidemiológico que configure uma segunda onda da Covid-19, o aumento de infecções pelo novo coronavírus SARS-CoV-2 continua acendendo um alerta nas autoridades sanitárias. Um dos indicadores mais recentes, aferido pelo Diário do Nordeste na plataforma IntegraSUS, indica que sete Áreas Descentralizadas de Saúde (ADS) do Ceará, entre elas a Capital, tiveram um incremento nos diagnósticos positivos de Covid-19. A reportagem analisou os dados das Semanas Epidemiológicas 42 (11 a 17 de outubro) e 43 (18 ao último dia 24) para atestar o aumento da circulação viral.



O maior salto ocorreu na ADS de Camocim, que reúne cinco municípios, como Barroquinha e Granja, onde os casos passaram de 11 para 21, isto é, um acréscimo de 90,9%. A ADS de Itapipoca (Amontada, Itapipoca, Miraíma, Trairi, Tururu, Umirim e Uruburetama) teve 70,5% de alta após o número aumentar de 17 para 29. Na sequência, a ADS de Baturité, onde estão Guaramiranga, Mulungu e outros seis municípios, contabilizou elevação de 23,5%. Em Cascavel, com sete cidades, os infectados saíram de 104 para 127, um aumento de 22,1%.

As ADS de Fortaleza (Capital, Aquiraz, Eusébio e Itaitinga) e Maracanaú (Acarape, Barreira, Guaiuba, Maracanaú, Maranguape, Pacatuba, Palmácia e Redenção) anotaram o mesmo acréscimo de 21,6% após os testes passarem, respectivamente de 715 para 870 e 162 para 197. A lista termina com a ADS de Tauá (Aiuaba, Arneiroz, Parambu e Tauá), que aponta um crescimento de 13,2%, uma vez que os resultados positivos de Covid-19 saíram de 98 para 111.

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Contudo, o titular da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), Carlos Roberto Martins, o Dr. Cabeto, afirmou que apesar da aceleração dos casos, é cedo para atestar a chegada de um novo pico da doença, semelhante ao ocorrido no mês de maio no Ceará. Em pronunciamento na última quinta-feira (29), ele minimizou essa possibilidade. "Observamos aumento de um pequeno número de casos em algumas regiões. Não podemos falar ainda em segunda onda, seria precoce, mas estamos tomando os cuidados para monitorar", frisou.

Outras 15 ADS anotaram recuo dos casos, com destaque para a de Limoeiro do Norte, que teve baixa de 94,5% após o total de contaminados chegar a 66 na SE 43 contra 100 da SE 42. A de Tianguá tabulou redução de 54,3% (114 para 52), seguida pela ADS de Crateús, com 45,5% de diminuição (305 para 166); Canindé, de 53 para 29 (-45,2%) e Icó, de 199 para 100 (-44,7%).

Por outro lado, seis ADS registraram adição nas mortes por SARS-CoV-2. A de Quixadá, que engloba 10 cidades, computa 300% de aumento (1 para 4 mortes). A de Sobral, na Região Norte, e a de Canindé tiveram 100%. A de Juazeiro do Norte, que passou de 5 para 8 falecimentos no intervalo, calcula 60%. Completam a lista: Fortaleza (42,8%) e Tauá (33,3%).

Tendência

Fortaleza também foi citada no Boletim InfoGripe, elaborado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), como uma das dez capitais brasileiras que apresentam sinal de crescimento moderado ou forte na tendência de longo prazo - seis semanas - de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e de Covid-19. Os dados analisados nesse boletim se referem ao período entre os dias 18 e 24 de outubro. Além da capital cearense, Aracaju (SE), Florianópolis (SC), João Pessoa (PB), Macapá (AP), Maceió (AL), e Salvador (BA) apresentam sinal forte de crescimento. Já Belém (PA), São Luís (MA) e São Paulo (SP) têm sinal moderado. A Fiocruz destaca, ainda, que Fortaleza é uma das capitais que já completaram ao menos um mês com tendência constante de crescimento a longo prazo em todas as semanas.

Na análise da epidemiologista Caroline Gurgel, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), os dados do IntegraSUS já são suficientes para indicar que uma segunda onda do coronavírus já está se formando e vai acontecer.



"Nós ainda tínhamos uma população vulnerável. Pela quantidade de casos que tivemos, não se atingiu a imunidade de rebanho. Houve um relaxamento, não só pela abertura do comércio, como também as pessoas passaram a ficar mais confortáveis e confiantes de que não iam mais adquirir a doença, ou conheceram pessoas que tiveram e nada aconteceu. Acaba tendo aquela sensação de falsa segurança", pondera.

Gurgel, que também é virologista, reforça o efeito das aglomerações, que se tornaram mais comuns ao longo dos meses, e o fato de que basta um infectado assintomático para transmitir e afetar um montante de pessoas.

"Podemos voltar a vivenciar a superlotação de hospitais, sim, se não houver uma conscientização nesse momento, agora. As pessoas devem tentar evitar ir para grandes centros, locais fechados que não permitam a circulação de ar. E o uso de máscara é obrigatório, não tem como pensar em abrir mão", diz.

Exames

Nessas circunstâncias, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informou ontem que a partir da próxima terça-feira (3) iniciará a quarta etapa do inquérito sorológico em Fortaleza para aferir quantas pessoas têm anticorpos contra o SARS-CoV-2 ou que ainda estão vulneráveis à doença pandêmica. O diferencial dessa nova fase, que se estenderá até o dia 13 de novembro com a testagem de 3.300 pessoas de 112 bairros da Capital, detalhou a Pasta, será a sorologia através da coleta de sangue venoso ao invés dos testes rápidos.

"Esse momento da pesquisa é muito importante porque a gente vai observar a circulação viral em diferentes territórios de Fortaleza e também poder quantificar o percentual da população que está suscetível à Covid-19. A gente convida a todos para fazer parte dessa pesquisa, recebendo os coletadores e os agentes comunitários de saúde", conclama a secretária executiva de Vigilância e Regulação da Sesa, Magda Almeida.

 

 

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