Projeto “Sala de Afetos” já atuou no fortalecimento da saúde mental de cerca de 1,2 mil educadores

Durante a pandemia da Covid-19, iniciativa cearense trabalha gratuitamente no suporte à saúde mental de educadores do Brasil, tendo entrado para a plataforma Mapa de Saúde Mental, apoiada pela Google

Escrito por Redação ,
Legenda: Após participar da iniciativa, a gestora educacional, Sissi Mendes, passou a observar mais atentamente a situação de cada professor a fim de encontrar modo de fortalecer colegas educadores
Foto: Arquivo Pessoal

As mudanças trazidas pelo novo coronavírus foram sentidas em distintas áreas de trabalho, dentre elas, na educação. Com a pandemia, o ensino presencial foi suspenso, e professores tiveram que criar novas formas de aprendizado e se apropriar de recursos tecnológicos antes não utilizados. Nesse cenário, o psicoterapeuta e psicólogo educacional Renê Vieira Dinelli criou a “Sala de Afetos – Acolhendo Professores”, a fim de fortalecer a saúde mental de educadores.

O projeto cearense, iniciado no começo de maio e que faz parte da iniciativa “Lugar do Sentir”, já atendeu cerca de 1,2 mil profissionais em mais de 20 cidades do Brasil. Em pouco mais de dois meses de funcionamento, a Sala de Afetos, virtual e gratuita, já passou a compor parte da plataforma Mapa Saúde Mental, do Instituto Vita Alere em parceria com o Google. 

“Essa ideia de escutar o professor chega para mim como esse espaço para ele falar das questões emocionais. A iniciativa Lugar do Sentir e a Sala de Afetos nascem para romper com dados e trabalhar a saúde mental desses profissionais”, aponta Renê. Além do fortalecimento, também incentiva a escuta empática, com a troca entre pares e metodologias afetivas.

Com as experiências no projeto, o psicoterapeuta percebe que o processo de mudanças tem trazido muito sofrimento para os professores, assim como medos, receios e angústias.

“Dentro das perdas e lutos, costumo dizer que o professor passa por uma perda e luto da sua sala de aula. Esse lugar de criação conjunta com os alunos foi interrompido”, pontua. 

Para ele, a Sala de Afetos também pode ajudar o professor a criar outras redes de apoio similares, trocando contatos e pensando estratégias de contados coletivos. “Depois, eles podem construir suas redes também, cada um em sua escola”, declara. 

Fortalecimento

Quando a professora e gestora da rede municipal de Maracanaú, Sissi Mendes, 54 anos, foi convidada para participar da “Sala de Afetos”, aceitou de uma vez. “Eu não titubeei pelo título. Se são afetos, deve ser tudo de bom. E foi simplesmente surreal. Eu estava participando e pensando ‘quero levar isso para a minha vida e para a minha escola'”, compartilha.

A experiência de Sissi a fez perceber que, apesar de todos estarem vivendo a mesma tempestade, cada um a vivencia em um barco diferente. “Porque a forma que estou enfrentando a pandemia e o isolamento é diferente para cada um. Eu posso estar em um barco confortável, enquanto outros estão em uma boia”, explica. 

Então, é a partir da percepção de onde se está e de como lidar com a situação que permite perceber até que ponto se é capaz de ajudar o outro. Após o projeto, a professora passou a observar mais atentamente as experiências de outras pessoas.

“Você passa a ter o olhar sensível de olhar em volta e ver que tem um professor no barquinho furado, e dizer ‘vem, sobe aqui no meu barco, tem lugar aqui comigo’”, afirma. 

Em sua perspectiva, o projeto criou um espaço de acolhimento e fortalecimento que a fez desejar que outros profissionais se sintam cuidados da mesma maneira. “Eu acho que, na educação, se você não trabalhar afetividade, você não consegue nada. A Sala de Afetos é um lembrete que tem alguém está olhando para mim, enquanto professora. Mostra que o professor também precisa de um cuidado”, declara.

Acolhida

Legenda: A “Sala dos Afetos” ajudou a pedagoga Nágela Silva Rodrigues a vislumbrar novos caminhos e possibilidades para superar as dificuldades do modo de ensino remoto
Foto: Arquivo pessoal

Para a pedagoga Nágela Silva Rodrigues, com atuação no Instituto Federal do Ceará (IFCE) do Campus Guaramiranga, a descoberta da “Sala de Afetos” veio através de outros amigos da área. Compondo a coordenação de ensino da unidade educacional, buscou realizar a mediação para o encontro pedagógico entre professores a fim de reduzir as tensões, que surgiram para esse grupo com a chegada do coronavírus. 

Conforme Nágela, a necessidade de reinventar a prática docente e aprender a assimilar as mudanças ocorridas tem exigido muito dos educadores. “Por isso que pensei que essa acolhida seria muito interessante. Era um momento para o professor estar pensando em si”, compartilha. 

Na “Sala de Afetos”, com o espaço criado para os profissionais compartilharem sentimentos, é realizada também uma pausa para autoempatia. “É usar uma pausa  para você poder olhar para si, cuidar de si, ter paciência consigo mesmo e compreender que você também tem direito de errar e de aprender em seu tempo”, explica Nágela.

Conforme aponta, passar por essa experiência lhe proporcionou conhecimentos e reflexões que não teria sozinha. A oportunidade de ter trocas com outros profissionais da educação a fez perceber que outras pessoas também estavam vivenciando dificuldades e a vislumbrar novos caminhos a serem tomados como alternativas. 

Serviço 

Para participar, é possível entrar em contato através da página do Instagram Lugar do Sentir. As inscrições são gratuitas. Os grupos fechados com escolas e universidades são agendados e acolhidos através de salas virtuais, via aplicativo, nos dias e horários determinados e com temas semanais pré-estabelecidos e divulgados na página oficial do projeto.

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