Pirambu resgata o folclore

Escrito por Redação ,
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O que pode levar crianças de pouco mais de quatro anos de idade ou senhoras que há muito ultrapassaram os 60 a dançar, durante duas horas seguidas, todas as noite de segunda e quarta-feira? E, ainda, a brincarem e sorrirem indiferentes às agruras do dia-a-dia e ao choque de gerações, em um piso desgastado de uma quadra mal- iluminada de um bairro da periferia?

É o Boi da Juventude o responsável pelo feito, ou melhor, pela peripécia de unir crianças, adolescentes, jovens e anciões no Centro Social Urbano Virgílio Távora (CSU) do Pirambu.

E não é só uma tradição do folclore popular brasileiro que esse bailar cômico-dramático resgata. Reunindo ritmos que vão da marcha ao samba e organizado em cortejo, com personagens humanos e animais, o bumba-meu-boi eleva a auto-estima de seus participantes; dá-lhes alegria, motivação, além de socialização.

Criado há sete anos, o grupo Boi da Juventude hoje reúne cerca de 80 brincantes, que, a cada ensaio na quadra do CSU, mesclam danças com representações de animais como a ema, a burra e o até o fantástico e metamorfoseado jaraguá.

Alento para crianças humildes ou adultos sofridos, o grupo mantém viva uma manifestação popular que surgiu através da união de elementos das culturas européia, africana e indígena e que, na contemporaneidade, no bairro do Pirambu foi passada de pai para filho.

O “vaqueiro” Zé Ciro Rocha, 49 anos, encarna um pedacinho dessa tradição e a passou para seus seis filhos, todos também brincantes. Tradição essa retratada, ainda na participação de Ceci de Sousa Gomes, 71 anos, desde o primórdio do Boi da Juventude. E também uma “apaixonada pelo Boi”.

Recursos

Na realidade, no Grande Pirambu, a existência resiste aos anos, pois o boi-bumbá entre os moradores do bairro vem de muito antes do Boi da Juventude, que agora receberá recursos da ordem de R$ 14,3 mil reais. Isso porque, através da Organização Não-Governamental (ONG) Instituto da Cidade, o trabalho de resgate dessa cultura popular — surgida no Nordeste brasileiro, no século XVIII, e que depois se espalhou pelas demais regiões do País — foi aprovado no Edital das Artes, lançado pela Fundação de Cultura, Esporte, e Turismo de Fortaleza (Funcet).

Os recursos, informa a coordenadora da ONG, Norma Paula Moreira, irão para a manutenção e infra-estrutura do Boi da Juventude, incluindo indumentárias e também a melhoria na quadra onde acontecem os ensaios.

“Precisamos melhorar a iluminação e colocar na quadra refletores”, acrescenta.O coordenadora do Instituto da Cidade adianta, ainda, que o trabalho em grupo visa elevar a auto-estima dos brincantes. Outra meta é propiciar aos integrantes, além do prazer da dança, conhecimentos sobre samba, marcha, baião, xote...

“O bumba-meu-boi é mesmo assim, rico em ritmos musicais”, diz Davidson Ferreira, que durante os ensaios transforma-se no Capitão-do-Boi. É isso mesmo: com quepe, camisa e calça brancas, semelhante a um oficial da Marinha.

No meio da quadra, o capitão alegremente coordena os ensaios. Faz as vezes de comandante dessa opereta. Chega a suar. “Isso aqui é muito importante. Vai além do lazer. Integra e motiva as pessoas”, informa à reportagem.

PROTAGONISTA
Adolescente interpreta vários personagens

Francisco Eduardo

Espécie de curinga no grupo Boi da Juventude, tem 15 anos, toca, dança, canta e interpreta vários personagens desse folguedo. Morador da Rua Santa Inês do bairro Pirambu, declara que o boi é tudo para ele.
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