Para evitar aglomeração, moradores de condomínio assistem a show de cantor pela janela em Fortaleza

Moradora quis trazer alegria para os vizinhos e fomentar o trabalho de artistas locais.

Escrito por Nícolas Paulino ,
Legenda: Condôminos participaram de apresentação à distância, com o artista no hall.
Foto: Foto: Reprodução

Em meio à pandemia do novo coronavírus, moradores de um condomínio do bairro Manoel Dias Branco, em Fortaleza, puderam vivenciar um show diferente na noite desta sexta-feira (18). Para evitar aglomerações, durante cerca de duas horas, eles assistiram à apresentação de um cantor pelas varandas dos apartamentos.

A aposentada Aldenice Bezerra sentiu “vontade de ouvir uma boa música porque nossa vida social está muito restrita” e “queria proporcionar essa felicidade, não guardar só pra mim”. “Por isso, tive a ideia de deixá-lo lá embaixo, para todo mundo assistir”, conta ela, que conseguiu liberação do síndico com a condição de que as pessoas ficassem nas varandas.

Através da observação de outros apartamentos, Aldenice sentia certa apatia nos vizinhos, assim como a dificuldade de alguns pais em entreter as crianças. “Vejo que as pessoas tentam se alegrar mais no domingo, mas pensei: ‘estou sentindo essa alegria agora, e ela não tem dia e não tem hora”, conta.

Além de entreter e alegrar os vizinhos, a aposentada explica que a iniciativa quis chamar atenção para o trabalho de artistas locais, que interromperam shows em bares e restaurantes e buscam outras alternativas para garantir renda.

O cantor cearense Vinny Fist garante que nunca havia feito uma apresentação nesse molde, tendo duas torres residenciais como arquibancada. "Pra mim, foi espantoso porque nós, artistas, precisamos muito da presença, do calor do público ali pertinho da gente. Ficou aquele gostinho de querer estar perto do pessoal, mas foi uma forma acima de tudo responsável de cuidar da saúde", revela.

Legenda: Vinny Fist cantou por cerca de duas horas.
Foto: Foto: Reprodução

Saúde mental

O síndico Glauber Cintra conta que, desde o início do isolamento, uma moradora que canta e toca violino já realizava pequenas apresentações da própria varanda. Ele salienta que as iniciativas dos condôminos ocorrem “sempre com bastante cuidado para manter o distanciamento”. “Estabelecemos uma série de medidas para suspender a realização de eventos, mas alguns moradores têm feito ações para alegrar um pouco o ambiente”, lembra.

Larissa Borges, médica pediatra e espectadora do show, percebe o poder da arte como apoio à saúde mental durante o isolamento. “O distanciamento tem sua eficácia comprovada, mas junto com ele vêm sentimentos de medo, angústia e ansiedade por não sabermos quando isso vai acabar. Essa experiência foi um momento de socialização porque, mesmo que da varanda, deu pra gente se ver, esquecer um pouco o que está acontecendo e curtir aquela boa música, que proporciona um momento de prazer, de relaxamento”, destaca.

Segundo Aldenice Bezerra - que preferia o anonimato, mas foi descoberta pelos colegas -, o maior objetivo do show foi atingido. “Vizinhos que nem conhecia entraram em contato, muita gente ligando e agradecendo. Não pensei que faria tanto bem. Espero que as pessoas saibam interpretar esse momento, de olhar para o outro, de ter empatia”, declara a aposentada.
 

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