Moradores realocados após explosão em prédio não conseguem buscar remédios e outros pertences

Prédio atingido por explosão na Av. Santos Dumont passa por demolição e moradores da vila ao lado precisam ser realocados para hotel a fim de evitar outros acidentes

Escrito por Redação ,
Moradores reclamam que não conseguem buscar seus pertences
Legenda: Moradores reclamam que não conseguem buscar seus pertences
Foto: Kid Júnior

Para além dos danos físicos que a explosão causou no prédio localizado na Avenida Santos Dumont, no bairro Papicu, moradores de uma vila no entorno viram suas rotinas serem transformadas com o evento. Na noite de sábado (26), por medida de precaução, a Defesa Civil de Fortaleza isolou as casas e os moradores foram realocados para um hotel, custeado pela empresa de telefonia Oi. Com previsão de retorno rápido, muitos deixaram animais e remédios controlados em casa, mas ao tentarem retornar após 3 dias, encontraram dificuldade de recolher alguns pertences.

Conforme a Defesa Civil, as casas só serão liberadas após a avaliação final da estrutura. “Somente após a conclusão dos trabalhos, com a retirada dos resíduos sólidos e a limpeza do terreno, o órgão fará uma vistoria nas casas para avaliar se houve algum dano em decorrência da demolição”, aponta. 

Há cerca de 25 anos morando na vila de casas, localizada na rua Doutor Zamenhof, Francisca Leiliane Xavier, 28 anos, nunca havia vivido uma situação similar. O susto da explosão, seguido da necessidade de sair de casa, trouxe também a preocupação com pertences esquecidos na residência.

“A gente saiu no sábado de noite, só pegou a roupa do corpo, praticamente”, aponta. No caso de sua mãe, Ermina Xavier, 65 anos, que mora na casa vizinha, a angústia de sair de casa foi tão grande, que esqueceu até o essencial, como os remédios para pressão e coração.

“Porque como foi um desespero grande de querer tirar a gente no local. Eles disseram que era só três dias. Até doente está”, compartilha a filha.

Como a Ermina não recorda o nome do medicamento, Leiliane não tem nem como comprar mais. “Ela está muito preocupada. Pessoas idosas querem estar no seu canto, ainda mais ela que vive à custa desses remédios”, explica. Ao longo da semana, tentou retornar para buscar, mas não teve acesso. Pela tarde de hoje (30), deve voltar mais uma vez, na esperança de conseguir. 

Liberação

Considerando uma curta estadia no hotel, a autônoma Rebeca de Sousa da Silva, 26 anos, não pegou nenhuma roupa ou outros utensílio para aguardar a chegada da filha que espera na barriga. Gestante de 40 semanas, cerca de 9 meses, Rebeca se encontra no período em que a criança pode nascer “a qualquer hora”. 

“A saída foi tão rápida, que acabei pegando tudo errado. Era uma pressa de deixar a gente entrar. Não peguei tudo. Está tudo lá trancado. Até agora, não consegui retornar. O que eu tenho mesmo é só um pacote de fralda e a banheira da criança”, declara. 

Na pressa em sair de casa, Rebeca chegou a esquecer inclusive alguns documentos necessários para levar ao hospital. Na terça-feira (29), conseguiu entrar brevemente para pegar os papéis exigidos. No entanto, não teve tempo para buscar as roupinhas, fraldas e a bolsa que havia preparada especialmente para receber a Maria Eloá. “Entrei, mas foi muito rápido. Agora o meu desespero é esse, não ter o que preciso para a minha filha”, diz.

Assim como Rebeca, José Ilan Feitosa, 23 anos, conseguiu retornar para casa e buscar seu gato e os remédios controlados de sua mãe, Ângela Feitosa, 49 anos. "Eles garantiram que eram poucos dias e por isso teve gente que deixou animal dentro de casa, remédios. Nem isso podia tirar mais”, comenta. 

Impactos

O autônomo Marcos Antônio Gonçalves, 36 anos, responsável por fazer salgados, compreende o porquê da retirada dos moradores do local, mas percebe que a medida trouxe muitas consequências para aqueles que viviam da renda produzida no local. Na vila é possível encontrar serviços como borracharia, padaria e até cabeleireiro. Se com a pandemia já haviam sido impactados com a redução na renda, a saída do local de trabalho prejudicou ainda mais

“Está tudo parado. Soma o prejuízo de domingo até hoje, já tem alimento perdido na geladeira. Fora contas que tem a pagar no final do mês. Pago dinheiro de pensão. Faço esse dinheiro nas duas últimas semanas do mês”, compartilha. Sem previsão de um retorno, os moradores esperam por uma finalização rápida do serviço de demolição.

“Não sei como vai ser. O impacto é grande, sem trabalhar. Por conta da pandemia, já estava difícil. Parando de vez, de uma hora para outra, ficou quase impossível”, acrescenta Marcos, que vive na vila desde os seus 18 anos. 

Demolição 

Após ser danificado por explosão, o prédio na Avenida Santos Dumont está passando pelo processo de demolição. De acordo com a empresa de telefonia Oi, em nota, “a conclusão da demolição vai depender da evolução dos trabalhos, que têm condições complexas decorrentes do estado em que o prédio ficou após a explosão”.

Para reduzir os riscos às casas da vila, a Oi enviou um ofício para a Defesa Civil, que realizou a retirada temporária dos 43 moradores cadastrados pelo órgão. Além disso, também “se colocou à disposição do poder público”, ficando responsável pelos custos de logística para a retirada temporária dos moradores, incluindo transporte, alimentação e hospedagem em hotel.

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