Isolamento: precauções já eram rotina para pacientes com câncer

Evitar espaços aglomerados é a recomendação dada aos pacientes por oncologistas, devido à baixa imunidade causada pelos tratamentos de quimioterapia e radioterapia; os hábitos de higiene também são reforçados

Escrito por Barbara Câmara , barbara.camara@svm.com.br
Legenda: Pacientes com câncer sem histórico de doenças respiratórias continuam indo às sessões de quimioterapia
Foto: Foto: Fabiane de Paula

As medidas para prevenir o contágio por coronavírus e evitar a disseminação do mesmo chegaram como um difícil processo de adaptação para a maioria das pessoas. Para outras, porém, essa realidade era rotina: pacientes com câncer já cumpriam o isolamento social como recomendação médica, e o uso de máscaras também já fazia parte do dia a dia.

Os hábitos da advogada Helen Marques, 26, tiveram de ser readequados desde novembro do ano passado, quando ela iniciou as sessões de quimioterapia para tratar do Linfoma de Hodgkin, câncer que se origina no sistema linfático. Segundo ela, o clima é "tenso", de atenção redobrada aos cuidados de higiene, mas as recomendações não são diferentes daquelas dadas às demais pessoas.

"Eu tenho asma, então tenho que ter cuidado pra não ter nenhuma crise alérgica e ir para a emergência. Mas não tem nenhum cuidado 'especial'. No caso do meu câncer, que é no sangue, é mais arriscado, então eu não posso ficar indo em farmácia nem supermercado. No geral, são cuidados que todos devem ter. Pra mim, não mudou tanto, porque eu meio que já estava em uma fase de quarentena antes", relata.

A médica que acompanha o tratamento de Helen recomendou que as saídas de casa para atividades essenciais fossem restritas a uma vez na semana. "Eu deixei pra ir no mercado na vez que fui me vacinar contra a gripe. Chegando em casa, lavei tudo e depois fui tomar banho", conta.

Ela passa por sessões de quimioterapia no Centro Regional Integrado de Oncologia (Crio), e já costumava ir acompanhada somente da mãe. Agora, a orientação vale para todos os pacientes. Nas duas últimas sessões, porém, Helen passou a ir sozinha, como forma de colaborar e evitar aglomeração no hospital. "Eu nunca senti nenhum efeito adverso no momento da quimioterapia. Clinicamente, estou muito bem. Consigo me movimentar, ir sozinha, ir dirigindo", afirma.

Imunidade

Outra paciente, que pediu para não ser identificada, revela que não recebeu orientações diferenciadas por conta da pandemia. Aos 33 anos, ela passa por sessões de quimioterapia em um hospital no Rio de Janeiro uma vez por mês, para tratar o câncer no ovário, diagnosticado em 2017. Ela viaja para fora do Estado por determinações de seu plano de saúde. Com as restrições para voos, ela está em contato com o médico que a acompanha para saber se é possível aumentar o espaço de tempo entre as sessões, uma vez que seu quadro é estável. Quanto aos cuidados de prevenção com o coronavírus, ela segue as indicações divulgadas em meios de comunicação.

"Tem um período depois de aplicar a medicação da quimioterapia que a minha imunidade realmente baixa mais. Como já faz um bom tempo desde a minha última sessão, acredito que esteja normal agora. Não falaram nada no hospital pra mim, mas estou tomando minhas precauções". Ela conta, ainda, que seu pai de 65 anos também está em tratamento para um câncer na cabeça. Ele recebe os medicamentos no Crio, em Fortaleza, e também não recebeu nenhuma recomendação especial dos médicos. "É a mesma coisa que dizem pra todo mundo. Evitar sair", diz. O quadro de saúde dele, segundo a paciente, é estável.

Além da hipertensão, diabetes e doenças respiratórias, o câncer é uma das comorbidades que integram o grupo de risco para Covid-19. Por isso, são adotadas precauções, em especial, durante os procedimentos quimioterapia e radioterapia, conforme explica Leonardo Pontes, oncologista e chefe da Quimioterapia do Crio. Ele explica que pacientes com sintomas respiratórios ou febre são aconselhados a não irem até a unidade. "Os pacientes e acompanhantes que chegam têm sua temperatura verificada e são questionados sobre os sintomas. Só entram depois dessa triagem", pontua. "A gente também tenta otimizar os atendimentos, adiando as consultas de retorno e priorizando as de diagnóstico, e os pacientes que já estão em tratamento".

Leonardo Pontes ressalta que as recomendações sobre isolamento social já eram comuns para pacientes com câncer antes da pandemia. "A gente já pedia pra esses pacientes evitar locais com aglomeração, lugares fechados, porque já era uma preocupação com a imunidade baixa. Ele destaca, ainda, que muitos pacientes vindo do interior para serem atendidos no Crio tiveram atrasos em suas consultas e tratamentos após algumas viagens de ônibus serem suspensas, como medida de contenção do coronavírus. "Os pacientes que não conseguirem vir podem entrar em contato com a gente para remarcar, e a gente dá a orientação", diz.

Procedimentos

No Instituto do Câncer do Ceará (ICC), foi estruturado um comitê local para atender às demandas da nova realidade da Covid-19. Os tratamentos e cirurgias oncológicas também continuam normalmente na unidade. Cirurgias de menor gravidade, como as de pele, foram adiadas para depois do fim do período de isolamento no Estado, de acordo com o oncologista Reginaldo Costa, porta-voz do ICC. As medidas adotadas no local incluem agendar horários para evitar aglomerações nas recepções e nos locais de tratamento. "Já existia toda uma rotina para evitar infecção cruzada, então tudo isso está sendo reforçado", diz. Pacientes que fazem apenas consultas periódicas para exames de acompanhamento também foram orientados a ficarem em casa.

"A gente tem tido uma preocupação maior porque existe uma prática de pacientes virem em ônibus de municípios do interior, sendo deixados no início do dia nas portarias do nosso hospital", alerta. Segundo Reginaldo Costa, a instituição não pode solucionar o problema de maneira prática. "É uma situação complexa. Embora tenhamos criado locais de acolhimento para essas pessoas, alguns ainda ficam nas imediações do ICC", pontua.

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