Gafanhotos invadem condomínio

As crianças não brincam mais na área externa do condomínio: ficam mais tempo em casa, com medo do inseto

Escrito por Renato Bezerra e Camila Marcelo - Repórteres ,
Legenda: Quando os galhos não são suficientes para estabelecer morada, os insetos ficam espalhados pela calçada, nas janelas, por todo o jardim do local
Foto: Foto: Nah Jereissati

Não se sabe mais o que é folha ou gafanhoto nas árvores de um condomínio de casas na Sapiranga; isso quando ainda sobra o verde pendurado. Esse é o cenário recorrente há meses depois da invasão dos bichos, que se alimentam das árvores e jardins das residências, preocupando os moradores do local.

A espécie come quase o equivalente ao seu peso corporal em material vegetal todos os dias. Quando os galhos não são suficientes para estabelecer morada, os insetos ficam espalhados pela calçada, nas janelas, no para-brisa dos carros e por todo o jardim do local.

Não somente as plantas sofrem com a infestação. As crianças não brincam mais na área externa e ficam em casa com medo do inseto, que pode ter de 1,5 a aproximadamente 10 centímetros, considerando as espécies maiores do mundo.

"Você fica praticamente sem poder usar as áreas comuns, porque eles estão tomando conta de tudo. Ficam em cima dos carros. E atrapalha a convivência mesmo. Não é um bicho que pica mas, mesmo assim, as crianças não querem mais brincar no jardim, por medo", afirma Renata Gondim, advogada e síndica do condomínio Lugano.

Segundo a síndica, não se trata de um problema de dedetização, uma vez que o serviço foi realizado, mas os gafanhotos continuam aparecendo em grande quantidade. "Isso foi em 27 de março, a primeira dedetização. Morreram muitos. A gente tirava gafanhoto aqui de carrinho de mão. Morreu a primeira leva. Quando foi quinze dias depois, começou a aparecer pontualmente, mas outra espécie, aquela verde", lembra.

 

A aparição de gafanhotos sempre foi normal na área, porém nunca nessa dimensão. "Sempre foi muito controlado, nunca teve uma infestação dessa forma. Em fevereiro, quando aumentou a quadra chuvosa, a gente começou a ver a reprodução incrível de uma espécie deles, o gafanhoto soldadinho, ainda todos filhotes, pretinhos, pequenininhos".

A moradora afirma, ainda, já ter entrado em contato com a Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), que prometeu verificar de perto o problema, mas até o momento ninguém foi enviado.

Chuvas

Segundo a bióloga Francisca Soares, o "boom" de gafanhotos no período chuvoso é normal. Como destaca, eles costumam procriar nessa época de umidade e, provavelmente, por não ter os seus predadores por perto - aves como cotovia, pardal, além de anfíbios e algumas cobras -, o habitat esteja em desequilíbrio. O professor do curso de ciências biológicas da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Hugo Fernandes, explica que a interferência do homem no ambiente, como na caça de aves, pode agravar o problema, mas esclarece que fatores diversos podem motivar uma proliferação de gafanhotos em um determinado local.

"Claro que, com o avanço da urbanização, a diversidade de animais cai, havendo um decréscimo no número de predadores. Mas a Sapiranga é uma área ambiental importante, que tem muitas lagoas, várias espécies de árvores. Pode ser um fungo que esteja interferindo nos sapos. Para saber mesmo é preciso um estudo na área", diz. A reportagem tentou contato com a assessoria de comunicação da Seuma, neste domingo (7), mas as ligações não foram atendidas.

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