Ex-moradores de prédio demolido na Maraponga ainda aguardam indenização

Aos dois irmãos proprietários do edifício que desabou parcialmente em junho deste ano, foi pedida uma indenização de R$ 2 milhões. Ambos foram indiciados, ontem (1º), pela Polícia Civil, após o fim do inquérito policial

Escrito por Barbara Câmara , barbara.camara@svm.com.br
Legenda: Edifício foi totalmente demolido no início do último mês de julho
Foto: Foto: Nilton Alves

Pouco mais de três meses se passaram desde a demolição do edifício Benedito Cunha, na Maraponga, que havia desabado parcialmente no dia 1º de junho. Foram também por três meses que Joice Elias, 32, ficou abrigada na casa de sua sogra, dividindo um cômodo com o marido e a filha, à espera de uma resposta na Justiça. Ela faz parte do grupo de 14 ex-moradores do prédio que ainda aguardam a indenização.

A próxima etapa do processo judicial acontecerá em uma audiência de conciliação marcada para o dia 8 de novembro, em que deve ser discutida a ação indenizatória. Os ex-moradores pedem aos proprietários R$ 2 milhões por danos morais e materiais pela demolição do edifício. Os dois irmãos, donos do imóvel, foram indiciados ontem (1º) pela Polícia Civil, após a conclusão do inquérito policial e das perícias.

As investigações concluíram que o prédio foi construído com erros de projeto e execução, em um solo sensível à presença de água. De acordo com o advogado Marcelo Magalhães, cada ex-morador "tem um valor de indenização diferente, que foi calculado a partir do dano sofrido ou das estimativas de perda".

Acordo

"A nossa família não recebeu nada. Os proprietários não nos procuraram mais para tentar algum acordo. No começo, eles falaram. A proposta era devolver o que conseguissem retirar do prédio, e dar algum valor a mais. Ainda bem que eu não aceitei, porque eles não tiraram quase nada", revela Joice Elias.

Entre os bens inutilizados pela demolição, estava o carro da família, um Chevrolet Classic. Joice chegou a pedir a um dos proprietários que pagasse, pelo menos, o valor do veículo, para que pudesse dar entrada em um novo. A resposta foi negativa. "Algumas famílias aceitaram a proposta deles, e depois se arrependeram", diz. "Não acho justo conosco. (A indenização) não é favor, é responsabilidade".

A espera por uma definição na Justiça continua, mas a necessidade de retomar a rotina, não. Ao fim de agosto, a consultora ambiental conseguiu mudar-se para um novo apartamento, também na Maraponga. O apoio e as doações de familiares dela e de seu marido foram essenciais para que pudessem começar a se restabelecer, dando os primeiros passos na direção de uma "vida normal".

"A gente se hospedou com família, mas é aquela coisa, né? Acaba deslocando a pessoa, mexendo com tudo. A minha filha tem sete anos e é muito apegada com rotina. Ela chorava, sentia falta do quarto dela, dos brinquedos que se perderam. A gente precisava se organizar logo, tentar voltar ao que era antes", diz.

O apartamento ainda não foi totalmente mobiliado, mas o "chá de casa nova" organizado pelos parentes fez a diferença. Os eletrodomésticos estão sendo adquiridos aos poucos pelo casal. Para Joice, é preciso ser o mais realista possível. "É a força pra recomeçar. Existem horas que a gente tem medo de se endividar. Não acumulamos dívida, mas parcelamos tudo. Estamos nos planejando".

Falta

Em setembro, Greicy Lima, 33, completaria dois anos como moradora do edifício Benedito Cunha. Hoje, lhe sobraram dois travesseiros e algumas peças de roupas encontradas após a demolição. "Lá, morávamos só eu e meu namorado, tinha mais espaço. Sinto falta de tudo".

A fisioterapeuta continua hospedada na casa dos pais de seu namorado, no Montese, onde esteve desde o desabamento parcial do prédio. A expectativa, para ela, se resume a dois eixos: a audiência no próximo mês, e um novo apartamento para alugar. "A gente planeja conseguir outro espaço, mas agora não temos condições. Estamos aguardando a indenização", lamenta.

A defesa dos proprietários do prédio foi procurada para se manifestar sobre o indiciamento deles no inquérito da Polícia Civil e o pagamento das indenizações, mas não atendeu às ligações e mensagens da reportagem ao longo do dia.

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