Enem em tempos de Covid-19: Pandemia impacta rotina de estudos e na saúde mental de alunos

Novo cenário social pode causar ansiedade e inseguranças em estudantes. Psicólogos apontam a importância de organizar um ambiente favorável para os estudos e cultivar momentos de descanso

Escrito por Redação ,
Legenda: Estudantes sofrem com a alteração da rotina para preparação do Enem
Foto: Foto: JL Rosa

A abertura das inscrições para Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), nesta segunda-feira (11), é uma resposta às dúvidas sobre o possível adiamento do exame devido à pandemia de Covid-19 no Brasil. Mesmo com os pedidos de mudança, o calendário da prova permanece inalterado, com aplicação presencial prevista para os dias 01 e 08 de novembro. Mas quem se prepara para fazer a seletiva avalia que a rotina de estudos virtuais prejudica o rendimento e é empecilho para entrar no ensino superior.

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É o caso de Danielly Lima, 16. Cursando o último ano do ensino médio em uma escolar particular da Capital, ela conta que, apesar do esforço dos professores, as alternativas remotas não são tão eficientes quanto às aulas presenciais. “Eu não concordo com a data. Não me sinto preparada. Na sala, se você não entendeu, o professor vai voltar e vai tirar as dúvidas”, conta. 

O distanciamento da rotina de costume reflete na nova dinâmica da estudante, principalmente na confiança sobre os estudos. "Tem dias que eu acordo e consigo fazer tudo, consigo realizar as atividades, assistir aula. Mas tem vezes se eu não consigo fazer uma coisinha, eu fico me sentido mal e insegura", lembra.

A falta desse ambiente adequado é um dos principais causadores de ansiedade, de acordo com a psicóloga Layza Castelo Branco, especialista em saúde coletiva. Apesar de avaliar cada caso como único, a profissional percebe uma tendência entre os alunos. “A maioria das pessoas que vão fazer Enem são adolescentes que passaram a vida toda estudando em um modelo presencial. Sair dessa configuração pode causar ansiedade”, reflete.

Estar separado dos amigos e colegas de turma também é um agravante. “Muita gente pensa nos impactos das aulas, se as aulas estão sendo suficientes. Mas não levam em consideração que aquele aluno estava em um contexto de socialização que vai sentir falta”, pondera Layza. 

Impactos

Casos de ansiedade, depressão e síndrome do pânico estão aparecendo com mais frequência. O bem-estar físico também é afetado pelas mudanças. “Os impactos psicológicos se revertem muitas vezes no corpo. Tem estudantes que estão somatizando, com falta de ar, dor de barriga, não tem dormido, nem se alimentado direito”, pontua a psicóloga Ticiana Santiago. Ela, que tem doutorado em educação, avalia ainda as adaptações como desfavoráveis para liberação de endofirma. O hormônio é responsável pela sensação de bem-estar no organismo. "Não da para focar só nos estudos", aconselha.

Renato Campos, 20 anos, tenta medicina pela terceira vez este ano e, com o cenário da pandemia, já percebe os efeitos em sua preparação para o vestibular. “Apesar de existirem meios virtuais, eles andam longe do acompanhamento presencial. A maior dificuldade é conseguir manter o ritmo de estudos da rotina, pelas dificuldades encontradas de estudar apenas em casa”. 

Estudante da Academia Enem, pré-vestibular gratuito da Prefeitura de Fortaleza, ele conta que apesar de estar conseguindo se adaptar minimamente à nova realidade, sabe que muitos concludentes deste ano estão sendo prejudicados na preparação. “Principalmente os estudantes das escolas públicas, que não possuem meios viáveis de se manter uma preparação para um vestibular tão acirrado como o Enem tem se tornado”, compartilha.

A estudante de escola estadual Sheyla Maria, 18 anos, já sentia ansiedade quanto ao futuro antes da pandemia, com as mudanças, precisou encontrar novos meios de tentar lidar com as angústias, medos e frustrações.

“Está sendo difícil me controlar com tudo o que está acontecendo nessa pandemia e me concentrar nos estudos. Para quem iria concluir o ensino médio, muitos com o desejo de entrar na tão sonhada faculdade, acaba entristecendo, sabe?”, diz Sheyla. 

Cuidados

O momento pede moderação, inclusive na rotina de estudos. Pensar outras atividades que não a de sala de aula ajuda a reduzir a pressão e auxilia o foco. “Correr em casa, pular, vai ajudar a liberar as endorfinas. Se movimentar, dançar, para que se tenha uma válvula de escape. Colocar momentos terapêuticos dentro da rotina, colocar pequenas metas exequíveis. Encontrar o possível”, indica Ticiana. 

A família também precisa aprender a ceder esses espaços para os estudantes. “A família acaba atrapalhando a não lidar com essas questões. Criar uma rede de apoio”

Segundo a psicóloga Yuska Garcia, com atuação há mais de dez anos em escolas, é importante também criar novos ambientes de estudo. “O quarto precisa ter um ambiente favorável para que o jovem possa se concentrar durante algumas horas, estar distante de distrações como televisão, celular, videogame. Você precisa organizar esse ambiente, se alimentar bem, fazer pausas, realmente fazer esse intervalo do recreio. Para, levanta, vai ao banheiro, depois retorna. É importante procurar entender também qual a forma que você se concentra mais”.

Danielly já segue os passos na tentativa de reduzir o desconforto. A estudante conta com o suporte de pessoas queridas, tanto na família quanto com professores e colegas. “Quando me sinto muito ruim, procuro conversar com os meus amigos, com os meus professores que estão sendo me motivando. Saio um pouquinho do foco dos estudos, vou ver um filme. Volto bem melhor”, reflete.

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