"É preciso fomentar a democratização do acesso à universidade"

Após dedicar-se à direção e administração de diferentes setores da Universidade Federal do Ceará, Henry Campos destaca a importância de tornar a educação mais acessível, o que descreve como "transformador"

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br
Legenda: Henry Campos: "Nos tornamos um ambiente de respeito, de inclusão, com portas abertas para todos"
Foto: FOTO: FABIANE DE PAULA

A vivência acumulada a partir de uma trajetória acadêmica que teve início na década de 1970 se faz sentir no discurso e na análise tecida por Henry de Holanda Campos, reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC) desde 2015, onde graduou-se em Medicina.

Mais tarde, fez residência médica em Nefrologia no Hospital das Clínicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), mesma instituição onde concluiu o mestrado. O doutorado em Medicina veio em seguida, na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A atuação acadêmica de Henry Campos foi ainda mais longe, na França, onde tornou-se professor associado da Université Paris-Descartes.

Com a proximidade do processo seletivo que instituirá um novo docente para assumir a gestão, o professor titular da Faculdade de Medicina da UFC pondera sobre os quatro anos de mandato que terminarão no dia 7 de agosto, transitando entre os êxitos e desafios que se apresentaram.

Como avalia o seu período como chefe da administração superior da UFC?

Foram anos de muito trabalho e reconhecimento institucional. Nós dobramos o número de entradas anuais na Universidade, e o sistema de graduação se tornou mais organizado. Também tivemos um aumento na oferta do número de matrículas e de formandos, e nos tornamos uma das universidades brasileiras que mais depositam patentes nos últimos anos. Um dos nossos principais focos foi e ainda é fomentar a democratização do acesso à universidade, pública e para todos. A UFC, como todas as instituições federais, é mantida por recursos públicos, e eu acredito que é uma obrigação dar retorno para a sociedade, com profissionais engajados e projetos que envolvam contribuição social.

Como esse retorno acontece, na prática?

Nós procuramos construir currículos de graduação que trabalhem a inserção do aluno na "vida real". Isso vem acontecendo há muito tempo na Faculdade de Medicina, por exemplo, mas recentemente passou a ser comum em cursos de caráter pedagógico. Os alunos são colocados em sala de aula e vivenciam a realidade dos professores em colégios públicos. Isso acaba completando um ciclo, já que esses futuros pedagogos se formaram também em uma instituição pública, e continuarão contribuindo para essa rede em sua atuação profissional. Recentemente, vimos muitas startups sendo fundadas, muitas iniciativas com pequenas empresas. Isso é fruto do fomento ao empreendedorismo, que nós também desenvolvemos. Atualmente, contabilizamos 1.250 projetos de extensão na Universidade.

Quais outros focos foram aprimorados na UFC nos últimos anos?

Um dos nossos objetivos era de expandir a influência e a atuação da UFC para o nível internacional. Hoje, nós contamos com cerca de 180 convênios internacionais, com universidades em mais de 15 países. O investimento nos estudantes também é prioridade. Por ano, nós investimos R$ 30 milhões em bolsas de estudo, e são seis mil bolsas anualmente. São mais de 100 cursos de graduação.

Quais foram os principais desafios ao longo da gestão como reitor?

Acredito que a paralisação das obras. Em 2014, tivemos uma redução de recursos enviados pelo Governo Federal que afetou universidades em todo o País, não somente a UFC. Hoje, nós temos 22 obras paradas. Essa situação se agrava por razões burocráticas. A burocracia é um desafio que afeta, em especial, a nossa autonomia como instituição. Os recursos são curtos, e nós não podemos controlá-los diretamente, utilizando conforme as nossas necessidades, como é o caso das obras paralisadas. É preciso dirigir-se ao próprio Governo Federal, apresentar relatórios. É um processo extremamente burocrático.

Que propostas e ações espera que se perpetuem na próxima gestão?

Foi uma grande honra ter ocupado este cargo como sucessor de figuras ilustres, como o próprio fundador Antônio Martins Filho. Espero, principalmente, que a Universidade mantenha o seu compromisso social cada vez mais forte. Nos tornamos um ambiente de respeito, de inclusão, com portas abertas para todos. Que alunos do interior possam enxergar a UFC como uma instituição acessível. Além disso, tornar os currículos cada vez mais contemporâneos, atualizados, de forma a conectar o estudante à realidade e expandindo a visão que antes seria restrita ao meio acadêmico. Nós tivemos progresso e novas propostas apresentadas no âmbito cultural, principalmente depois da criação do Instituto de Cultura e Arte (ICA), que reuniu os cursos de dança e teatro. Também tivemos um destaque mundial com as pesquisas de uso da pele de tilápia para tratar queimaduras. Foram verdadeiras conquistas, mas ainda há muito o que fazer na área da tecnologia de informação, por exemplo. Acredito que todas as áreas tiveram progresso, mas esta é uma que pode ter mais atenção. Espero que a UFC continue perseguindo a excelência e siga ajudando a 'fazer o Ceará', que é sem dúvida uma de suas principais funções desde o início.

Com a saída do cargo, pretende dedicar-se mais profundamente à Medicina?

Sim, esta é a expectativa. Ainda sou professor da Faculdade de Medicina. Mas desde quando assumi a direção e administração da Pró-Reitoria de Extensão, não tive mais a oportunidade de voltar à Université Paris-Descartes. Se for possível, espero voltar até lá, ver como estão as coisas.

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