Dom Fragoso morre na Paraíba

Escrito por Redação ,
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Foto: José Maria Melo
O ex-bispo da Diocese de Crateús, Antonio Batista de Fragoso, mais conhecido como dom Fragoso, morreu na madrugada de ontem, vítima de infarto fulminante, em João Pessoa, Paraíba. Aos 85 anos, dom Fragoso estava internado, há algum tempo, em um hospital da Capital paraibana, onde tinha se submetido a cirurgia para tratar de complicações no coração.

Dom Fragoso foi bispo da Diocese de Crateús durante 34 anos, de 1964 a 1998. Defensor dos princípios da Teologia da Libertação, notabilizou-se pelo trabalho pastoral junto aos pobres e trabalhadores rurais. No período da ditadura, combateu severamente as atrocidades cometidas pelos militares, solidarizando-se com as vítimas do regime militar e denunciando no exterior as torturas praticadas contra os presos políticos.

Dom Fragoso ganhou projeção internacional por ter implantado, de forma pioneira, um novo estilo de Igreja, que serviu de modelo na América Latina. “Ele rompeu com a estrutura rígida e hierárquica da Igreja, que distanciava os bispos e a base: os cristãos”, relembra Mário Albuquerque, ex-preso político e atual presidente da Associação 64/68 Anistia.

Segundo Albuquerque, dom Fragoso fez uma opção radical pelos pobres, enfrentando forte resistência dos setores mais conservadores, tanto da Igreja como da sociedade. “Por conta disso, foi muito perseguido pelos militares e ficou célebre uma frase dele, quando era acusado de subversivo: “Subversiva é a realidade social do Brasil”.

Líder religioso respeitado no Brasil e exterior, dedicou quase toda a sua vida à missão pastoral. Depois que deixou a Diocese de Cratéus, em 1998, aposentou-se e foi morar com a família, num bairro popular de João Pessoa. Filho de José Fragoso da Costa e de Maria José Batista da Costa, nasceu aos 10 de dezembro de 1920 no sítio do Riacho Verde, PB. Entrou no Seminário Arquidiocesano em João Pessoa, em 1934, ordenando-se sacerdote no dia 2 de julho de 1944.

Foi Assistente Eclesiástico do Círculo Operário de João Pessoa e da Juventude Operária Católica (JOC) do Nordeste. Em maio de 1957, assumiu a função de Bispo Auxiliar de São Luiz do Maranhão até 1964. Foi ‘Padre Conciliar’ no Vaticano II, de 1962 a 1965. Foi nomeado Bispo Diocesano de Crateús, em 1964, onde permaneceu até maio de 1998.

Sobre a experiência de mais de três décadas no comando da Diocese de Cratéus, dom Fragoso fez, em uma de suas últimas entrevistas, o seguinte comentário: “O sonho que, durante anos foi sendo inspirado dentro de mim, encontrou, nos 34 anos de pastoreio em Crateús, o chão para germinar. Fui descobrindo que esse povo, marcado pela dureza do Polígono das Secas, nos Sertões de Crateús e dos Inhamuns, tem uma resistência e uma sabedoria humana que desafia os séculos”.

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