Desafio Jovem acumula dívida e pede apoio para se manter

Com custos mensais de R$ 60 mil, a instituição, prestes a completar 40 anos, não alcança nem 40% desse valor

Escrito por Redação ,
Legenda: Além do tratamento destinado aos internos, a instituição atua na prevenção do uso de drogas e na ressocialização dos dependentes que de lá saíram. O tempo de permanência de um interno na ONG varia de seis a nove meses
Foto: Foto: Bruno Gomes

Prestes a completar 40 anos de serviços oferecidos à sociedade cearense, a casa de internação Desafio Jovem do Ceará, localizada no bairro Parangaba, vive uma forte crise financeira. Com custos mensais que giram em torno de R$ 60 mil, a instituição não alcança nem 40% desse valor, acumula dívidas e reduz a capacidade de atendimento de dependentes químicos. Atualmente, a Organização Não Governamental (ONG) vive apenas de doações.

Em virtude das dívidas que concentra, principalmente com a Companhia Energética do Ceará (Coelce) e com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), a Casa está desde o início de 2012 sem ter convênios com o Governo. A estrutura, que tem capacidade para atender até 40 dependentes químicos simultaneamente, conta, no momento, com apenas 13 internos, e cada um custa em torno de R$ 3 mil mensais à instituição.

O Desafio Jovem conta com uma equipe de 30 profissionais, entre educadores físicos, professores, psicólogos, assistentes sociais, teólogos e agentes terapêuticos, que presta auxílio diário aos internos, com atividades das 6h às 21h. Além do tratamento, a instituição também atua na prevenção do uso de drogas e na ressocialização dos dependentes que de lá saíram. O tempo de permanência de um interno na ONG varia de seis a nove meses.

Usuários

Em nível ambulatorial, no qual os usuários de drogas recebem atendimentos terapêuticos e psicológicos, a Casa já chegou a fazer até mil atendimentos por mês. No entanto, devido à falta de recursos para custear um maior número de profissionais, atualmente esses atendimentos caíram para cerca de 250 mensais. Até 20 pedidos de acolhimento chegam por dia à instituição, que, por conta da crise financeira, necessita fazer uma rigorosa triagem.

"Todo dia, pessoas nos procuram, e é muito doloroso dizer um não. Mas, mesmo sem poder internar, a gente oferta o ambulatório, onde a gente trata o dependente, que retorna para casa. Há casos em que o ideal seria o internamento, mas, infelizmente, não conseguimos manter todos", lamenta Wesley Moreira, coordenador e captador de recursos da ONG. "A gente prefere ter só 13 internos para poder dar total assistência a eles. A nossa preocupação é que a demanda, principalmente dos usuários de crack, é muito grande, e a gente não tem como aumentar esse número de internamentos", completa Moreira.

O estabelecimento não cobra mensalidade dos internos, que contribuem com o que podem. "A gente não cobra pelo internamento. As famílias chegam aqui em situações muito críticas, porque, às vezes, tudo que tinham em casa o parente já vendeu ou trocou por conta do vício. Então, é difícil (financeiramente) manter esses jovens aqui", explica o coordenador. Somente dependentes acima de 18 anos são internados no Desafio Jovem.

A casa de internação se divide em dois níveis: ambulatorial, denominado de Programa de Atenção Psicossocial (PAS), e internamento, o Programa de Acompanhamento Terapêutico (PAT). Segundo Gilberto Rebouças, coordenador do PAT, há cinco frentes de trabalho na recuperação dos usuários de drogas. "Acreditamos que a dependência química é uma doença multissetorial, então nós trabalhamos em cima de cinco pilares. A gente intervém na área educacional, para que ele seja reinserido ou volte aos estudos, na área psicológica, para que ele possa resolver seus dilemas existenciais, na área social, para que ele possa resolver seus problemas com a família, na área espiritual, pois acreditamos que a fé é um fator motivador para tirar as pessoas das drogas, e na área cognitiva, que faz com que a pessoa melhore o déficit de atenção e memória", destaca Rebouças.

Atividades

A programação diária dos internos conta com atividades físicas, aulas de supletivo de 1º e 2º graus, cinco refeições, encontros religiosos e consultas psicológicas e terapêuticas. Uma vez ao mês, os dependentes recebem visitas de parentes.

Outra forma encontrada pelo Centro para tratar dos dependentes se resume a levá-los a ambientes públicos que, enquanto dependentes, eles não usufruíam. "Como o usuário de droga se acostumou a associar prazer e diversão ao uso de drogas, a gente busca mostrar a ele alternativas para provar que não é necessário o uso de droga para ser feliz. A gente faz trilhas, vai à praia, ao cinema, ao shopping, a museus, ao Centro Dragão do Mar", ressalta o coordenador.

Há 15 dias internado, um dos usuários não poupa elogios à instituição. "Aqui, não é só uma casa de recuperação, mas um lugar onde você trabalha o seu espiritual", avalia.

"Para quem realmente quer largar a dependência química, aqui é o lugar. Eu tô bem, primeiramente com Deus, com minha recuperação e comigo mesmo", diz outro dos internos, que prefere não se identificar.

Mais informações:

Desafio Jovem do Ceará
Endereço: Av. Silas Munguba, 565, bairro Parangaba
Telefone para doações:
(85) 8805-4075

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