Covid-19: pacientes com sintomas devem iniciar uso "imediato" de cloroquina, dizem especialistas

Uso do medicamento foi debatido por médicos do Ceará e de outros estados durante videoconferência; compra “preventiva”, porém, não é recomendada

Escrito por Barbara Câmara , barbara.camara@svm.com.br

O uso de cloroquina ou hidroxicloroquina de forma precoce em pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19 tem sido indicado por alguns profissionais de saúde. A recomendação do uso do medicamento logo que surjam os primeiros sintomas da doença foi feita por especialistas do Ceará e de outros estados brasileiros durante uma videoconferência, que reuniu médicos e cientistas nessa quarta-feira (8). 
 
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), porém, ressalta que as substâncias ainda não tiveram eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19. A Agência já aprovou a condução do primeiro estudo sobre a cloroquina e a hidroxicloroquina no Brasil, e os resultados dessa e de outras pesquisas são necessários para que se chegue a uma conclusão quanto à segurança e à eficácia desses medicamentos no tratamento da nova virose.
 
Durante a conferência promovida pelo grupo Lide Ceará, a imunologista Nise Yamaguchi, membro do Departamento de Oncologia do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, afirmou que o uso da medicação deve ser feito logo no primeiro sintoma, e que, em muitos casos, é melhor iniciar o tratamento ainda enquanto se espera a chegada dos resultados de teste para o novo coronavírus. 
 
“Depois do segundo dia até o quinto dia do surgimento de sintomas, é a janela imunológica para começarem os desenvolvimentos de todas as inflamações”, afirma Nise. “Eu acho que nós estamos falhando em todo momento que não indicarmos o tratamento precoce. Não podemos tentar salvar a casa depois que ela já está toda queimada. Por mais que seja necessário ter todos os cuidados, a cada momento em que não estivermos tratando os pacientes e dando condições para que eles sejam encaminhados e orientados, teremos consequências gravíssimas. Espero que essa resistência mude, que a gente tenha oportunidade de tratar mais precocemente”, pontua a imunologista.
 
Em análise da evolução da Covid-19 em pacientes, o médico cirurgião Pedro Batista Jr., diretor executivo da operadora de saúde Prevent Sênior, observou que o primeiro e segundo dias com sintomas são os padrões fundamentais de introdução de uma medicação como a cloroquina, uma vez que ela “influencia na replicação do vírus”, que agride o organismo e gera inflamações.

Se introduzimos o medicamento, é preciso entender o período de atuação dele, que leva de 48 a 72 horas pra ter uma eficiência adequada", destaca Pedro.

Ação conjunta

O protocolo de tratamento com cloroquina ou hidroxicloroquina também inclui o uso do antibiótico azitromicina e do zinco. As substâncias devem ser utilizadas em conjunto nos pacientes, pois, segundo Yamaguchi, o zinco favorece a ação da hidroxicloroquina, e a azitromicina impede uma das etapas de replicação do vírus dentro da célula. “A ação conjunta dessas três medicações faz com que a diminuição da carga viral seja mais rápida, e isso facilita que o sistema imunológico possa desenvolver anticorpos contra o vírus”, detalha.

Para o infectologista cearense e médico do Hospital São José, Anastácio Queiroz, a vantagem do protocolo é atribuída ao fato de que os medicamentos e os efeitos colaterais são bem conhecidos por médicos. Dr. Anastácio enfatiza, porém, que os pacientes devem ser avaliados antes e durante o tratamento, realizado em cinco dias. 
 
“Há uma preocupação com a hidroxicloroquina para pessoas que têm algumas alterações cardíacas. O ideal é que o indivíduo seja monitorado. Para pessoas acima de 60 anos, mesmo sem comorbidades, é recomendado que faça um eletrocardiograma antes de começar as medicações”, destaca.
 
Ainda durante a conferência, o infectologista destacou que, de forma geral, a medicação é segura, e que as possibilidades de surgirem efeitos colaterais durante os cinco dias de uso são menores. “Nós sabemos, por exemplo, que o vírus Sars-CoV-2, que causa a Covid-19, tem receptores no coração. Se você deixa pra tratar tarde, pode usar a droga no coração que já não pode receber o medicamento. Por isso se recomenda que, se for pra usar, que use o mais cedo possível, porque a pior coisa é ter que internar o doente em uma situação muito grave”. 
 
Distribuição 
 
Em relação ao abastecimento das substâncias no País, Nise Yamaguchi acredita que a cloroquina já existe em quantidade suficiente, uma vez que é produzida pelo Exército e distribuída. Ela lembra que o sal utilizado na produção da hidroxicloroquina estava em falta, mas deve chegar ao Brasil nesta semana.  
 
“Há uma questão logística de distribuição. Talvez não vá chegar em todos os lugares em quantidade grande, mas a minha opinião é que se deve priorizar nesse momento a distribuição para as áreas mais contaminadas. As pessoas devem evitar comprar preventivamente, porque não há estoque que dê certo”, pondera a imunologista. 

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