Covid-19: Grupo distribui 8 mil quentinhas para pessoas vulneráveis

Organização desenvolve atividades desde março, quando as demandas por alimentos e produtos de limpeza se intensificaram em periferias atingidas pela pandemia do novo coronavírus em Fortaleza e busca apoio para dar mais ações

Escrito por Redação ,
Legenda: Voluntários produzem quentinhas para distribuição desde 20 de março
Foto: FOTO: TIAGO LOPES 

Olhar com atenção para quem está em situação de vulnerabilidade social em Fortaleza é uma demanda urgente e ampliada pela pandemia do novo coronavírus, como observam aqueles que doam trabalho e tempo para minimizar os danos. Esse cuidado com outro impulsa o grupo "Auê do Amor" a levar comida bem feita, produtos de higiene, informação e afeto para 24 comunidades em situação de vulnerabilidade social como Vila Velha, Pirambu e Vicente Pinzón, em Fortaleza. Quase 4 mil quentinhas são distribuídas em dois dias da semana, atualmente, pelo projeto.

Desde o dia 20 de março, quando as atividades começaram, o projeto distribuiu quase 16 toneladas de alimentos, 8.579 refeições prontas, 1.000 kits com produtos de higiene pessoal e coletiva, como água sanitária e desinfetante, além de 900 máscaras de tecido e descartáveis. São cerca de 30 voluntários, distribuídos entre as atividades de cozinha, compra e entrega de alimentos. Empresas como panificadoras e distribuidoras também integram o grupo.

Iniciativa da empresária Mariana Marques, de 37 anos, as arrecadações ganharam volume e engajamento em pouco mais de um mês. "A gente trabalha todos os dias, o pessoal das compras atende a cozinha e a equipe de logística que negocia a entrega de cestas básicas", explica.

Do trabalho voluntário, anterior ao ambiente de pandemia, Mariana guarda na mente a situação de uma pessoa com deficiência visual vivendo debaixo de uma marquise. "O que significa um jantar quente para aquela pessoa. Saber do nosso papel olhando para uma pessoa extremamente vulnerável que, além de estar na rua, está com fome e sede que foi outra coisa que me marcou", acrescenta.

Preparar

Comida digna, como define o grupo, exige 12 horas de preparo a cada dia na produção de quentinhas que passam, também, pelas mãos da chef Marina Araújo, de 29 anos. "Foi uma coisa muito natural planejar isso porque hoje a sociedade está precisando, eu sou cozinheira e não me via fazendo outra coisa. Eu acho que quando a gente faz as coisas com o coração, energia, força, com verdade, isso contagia as pessoas".

Essa transmissão da vontade de ajudar ampliou a equipe de oito pessoas, capaz de produzir 500 quentinhas, para 12 voluntários que alcançaram a entrega de 3.705 refeições em um único dia. "Nós cozinhamos às terças e às quintas e, nos outros dias, a gente descansa porque é um trabalho muito exaustivo", destaca.

Os voluntários se reúnem por volta de 8h30 na Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco, com espaço cedido ao grupo, onde começam a higienizar o ambiente e os alimentos para o preparo. No início da tarde, às 15h, começa a montagem das marmitas e dos lanches para, então, às 19h30, o envio ser feito.

A equipe da logística não entra na cozinha e, durante o processo, todos os voluntários usam luvas e máscaras de proteção. “Começamos com cinco pessoas trabalhando de forma bem enxuta, para não gerar aglomerações e todas as pessoas não convivem com grupo de risco, estão em quarentena total e só saem para cozinhar”, pontua Marina.

Os insumos são utilizados de forma planejada para evitar desperdícios de alimentos e reduzir a quantidade de lixo, como explica. “Existe um grande potencial nutritivo desses alimentos, então a gente faz tudo que é de descascar, talos, a gente guarda para fazer caldos, o brócolis a gente usa 100 %, em sopas e in natura”.

Do abalo psicológico causado pelas consequências da pandemia em Fortaleza, Marina encontrou motivação para ajudar aqueles que estão em situação de vulnerabilidade. Suas raízes da cozinha nasceram observando sua mãe fazer bolos e doces para complementar a renda doméstica. “Quando eu fui crescendo, e entendendo o que a cozinha significava, eu fui ficando cada vez mais satisfeita porque o alimento é a força da vida e isso me comove muito e me faz pensar no sentido original”, relata.

Compartilhar

Mariana Marques destaca que o apoio de representantes nos bairros atendidos possibilita a realização das atividades. "O papel da liderança comunitária é fundamental porque é quem cadastra, decide junto com a comunidade para onde vai os alimentos, marcam o dia, arranja espaço físico para quando o caminhão chega e faz a distribuição", lista.

Com esses contatos, o “Auê do Amor” se adequa às reais necessidades das pessoas alcançadas, como os kits de higiene e atendimento ao grupo em situação de rua, como frisa Mariana. “Só acredito que a gente pode mudar o país dentro dos parâmetros da auto organização. Claro, exigir do Estado e da iniciativa privada apoio, mas como sociedade civil a gente precisa de uma organização impecável para que a gente possa dar suporte ao que a gente recebe e tem capacidade de mobilização”, ressalta.

Ficar em casa, e se proteger da infecção pelo novo coronavírus, é um privilégio e a relevância do isolamento físico ainda precisa ser reafirmada nas comunidades, como avalia a publicitária Amanda Gizelly, de 24 anos. "Somos todos moradores de periferia e, nesse momento de pandemia, a gente está abraçando (os movimentos sociais) cada vez mais".

“Você não está sozinho. Já jantou hoje? Hoje você vai jantar e bem”, faz parte do diálogo afetivo que os voluntários têm com as pessoas beneficiadas pelo projeto. Amanda explica que a distribuição dos alimentos, kits de higiene e materiais educativos, priorizam as mães chefes de família e os núcleos mais numerosos vivendo na mesma casa. Nos dias de distribuição ela nota a boa receptividade das pessoas que pedem para serem lembradas.

Devido às limitações de insumos e de produção, são organizados os bairros para a entrega dos alimentos em que o grupo viabiliza um carro para levar as marmitas. "Temos que tirar coisas boas dessa pandemia porque, quando terminar, as pessoas vão continuar com fome, a gente não pode esquecer e ideia é que o movimento continue após a Covid-19", conclui.

+
Contato
Quem quiser colaborar deve entrar em contato pelo Whatsapp (85) 9973 5365. O grupo pode buscar doações em quantidades acima de 50 kg.

Coleta
Os insumos devem ser levados até a “Casa Elabore”, na Rua Marcos Macedo, 827, na Aldeota, entre 10h e 17h. Porém, são 
priorizadas doações por transferência bancária devido às recomendações de isolamento.

 

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados