Covid-19: crianças e adolescentes somam 8 óbitos e mais de 153 casos

Faixa etária até 19 anos apresenta sintomas mais leves, mas exige cuidado para evitar a intensificação do quadro clínico e a propagação do novo coronavírus para idosos ou pessoas com doenças crônicas, mais vulneráveis

Escrito por Redação ,
Legenda: Fora do grupo de risco, crianças podem transmitir a doença a idosos, alerta especialista.
Foto: Foto: Camila Lima

Longe dos grupos de risco e do foco dado a pacientes infectados pelo novo coronavírus, as crianças e adolescentes de até 19 anos já somam 153 confirmações de Covid-19 no Ceará, segundo números do IntegraSUS até as 17h de segunda-feira (20). Apesar de, em geral, apresentar sintomas mais leves da doença, o público infantil deve ser acompanhado para evitar a propagação do vírus e o agravamento de quadros clínicos.

No Ceará, são 83 crianças de 0 a 4 anos infectadas pelo novo coronavírus; outras 20 têm entre 5 e 9 anos, e mais 15 estão na faixa etária de 10 a 14 anos. Os adolescentes entre 15 e 19 anos somam 35 casos. Das mortes, todas atingiram pequenos de até 4 anos de idade.

O infectologista pediátrico Robério Leite avalia que ainda não há uma resposta científica para os casos brandos em pessoas mais jovens, mas indica que crianças pequenas ou com doenças crônicas podem ser mais afetadas. "Fica difícil estabelecer qual a proporção de crianças que tem se infectado, em comparação com os adultos, porque com a indisponibilidade de testes, são muito direcionados para os casos sintomáticos e mais graves", acrescenta.

Margarida Melo, 39, estava com os dois filhos nos Estados Unidos quando notou os primeiros sintomas da Covid-19 em Ana Lívia, 9, e depois em Carlos Eduardo, 12. "No início, achei que fosse só mesmo a mudança de temperatura e que ela estava gripadinha, mas três dias depois meu filho também apresentou tosse, dor de garganta e dor de cabeça", lembra.

Os sintomas foram administrados com antitérmicos, mas com a persistência da febre as crianças receberam recomendação do uso de máscaras e de álcool em gel. De volta a Sobral, na região Norte, onde vivem, e após exame, a Covid-19 foi confirmada. "Doze dias depois do exame, chegou o atestado positivo para os dois. Eles ficaram de quarentena, assim como eu e meu marido. Nós (pai e mãe) fizemos teste rápido e deu negativo", comenta.

Os desafios que a doença impõe ganham outra dimensão diante do olhar de receio e preconceito dos vizinhos. "Foi muito difícil. Já faz mais de quarenta dias, mas o preconceito das pessoas é o mesmo?", relata a mãe. Segundo ela, mensagens falsas sobre os filhos chegaram a circular nas redes sociais.

Receio

O temor pelo preconceito motivou, inclusive, o pedido de Liduína (nome fictício) para não ser identificada pela reportagem. A filha contraiu Covid-19 aos nove meses, três dias após receber a visita de uma turista de Portugal. "A gente já estava usando máscaras, e as pessoas olhavam com medo, porque ainda não tinham esses cuidados na época", relembra.

O pai da criança foi o primeiro a ter febre alta, tosse e dor no corpo. "Minha bebê começou a agravar, a tosse foi ficando mais carregada, apresentou quadro de diarreia e a gente procurou uma unidade hospitalar quando ela começou a ter problema respiratório", lembra a mãe. Foram dois dias internada em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e outros dois na enfermaria do hospital. Os primeiros casos confirmados de Covid-19, no dia 15 de março, foram divulgados no mesmo período que a família foi testada. "A gente sabia que era uma coisa muito nova, acho que ela foi a primeira bebê a ser diagnosticada. Fiquei com medo disso", assume.

Os três testaram positivo, e o pai teve a doença associada à influenza H1N1. A pequena, além dos problemas respiratórios, passou por dificuldades para se alimentar e teve indisposição durante o processo infeccioso, mas já está recuperada e não faz uso de nenhum medicamento. Neste cenário, a família cumpriu 21 dias de quarentena e segue em isolamento social.

O infectologista Robério Leite analisa que a atitude da sociedade deve ser de proteção, e não de preconceito, e dá destaque ao fato de que a doença se propaga com maior rapidez. "Se não foi agora com a gente, deve ser mais adiante. O importante é que a velocidade dessa propagação se dê numa taxa tal que o sistema de saúde possa comportar a demanda aumentada que isso está gerando", conclui o especialista.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados