Covid-19: com recorde de casos e óbitos, CE tenta ampliar rede de leitos

Números registrados em apenas 24 horas são os maiores desde as primeiras contaminações no Estado. Em meio à acentuação da doença, Secretaria da Saúde busca garantir mais 560 leitos de UTI em hospitais da rede pública. Atualmente, 38 pacientes com o novo coronavírus aguardam vagas para atendimento

Escrito por Felipe Mesquita , felipe.mesquita@svm.com.br
Legenda: Hospital de Campanha do PV deve receber hoje os primeiros pacientes com Covid-19
Foto: Foto: Helene Santos

O contágio acelerado do coronavírus Sars-CoV-2 fez o Ceará atingir um patamar recorde em diagnósticos e mortes. Em 24 horas, foram mais 335 confirmações da doença e 20 óbitos, os maiores volumes em números absolutos desde o início da pandemia no Estado. Como agravante, o acúmulo de novas infecções provocou o esgotamento de vagas em leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) na rede pública, ao mesmo tempo em que a Secretaria da Saúde (Sesa) tenta ampliar a capacidade dos hospitais.

Segundo o IntegraSUS, que atualiza diariamente a situação epidemiológica da Covid-19, até as 17h de ontem, o Ceará havia confirmado laboratorialmente 2.747 pacientes contaminados e 335 mortos em decorrência de complicações respiratórias. Quando comparado ao boletim da quinta-feira (16), quando o Estado tinha 2.412 casos e 135 óbitos, o aumento de um dia para o outro foi de 13,89% e 14,8%, respectivamente.

Na mesma velocidade com que mais pessoas são infectadas, as unidades de saúde também chegam ao limite estrutural para assistência aos doentes. Em tempo, de acordo com o titular da Sesa, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, 38 pessoas afetadas pela Covid-19 aguardam das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) liberação de vagas em UTI de hospitais públicos e particulares. Isso porque 260 leitos exclusivos para a doença estão 100% ocupados.

Expansão

"Se tudo der certo, o Estado deve abrir ainda algo em torno de 560 leitos de UTI para dar suporte a essas necessidades. Estamos discutindo com parte da rede privada, reajustando, transferindo pacientes, mudando modelos, se adaptando para atender as pessoas nesse momento de tanta vulnerabilidade", assegura Dr. Cabeto.

Entre as estratégias já executadas para ampliar a oferta de leitos no Ceará, o secretário cita o aluguel de 120 leitos de uma empresa do Rio Grande do Sul. Na tarde de ontem, o governador Camilo Santana também anunciou o recebimento de mais de 20 leitos que vieram de São Paulo. Os equipamentos foram encaminhados pelo Ministério da Saúde.

Além da expansão dos leitos, a Pasta de saúde estadual também se movimenta para a compra de insumos, embora encontre dificuldades com os fornecedores que ficam na China. No início deste mês, o governo local adquiriu 700 ventiladores pulmonares mecânicos e 150 toneladas de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) de uma mesma estatal chinesa.

"Nós passamos esses dados para a cônsul da China em Recife, discutimos com ela para que pudesse interceder, fizemos uma videoconferência com os executivos da empresa quase diariamente", reforça Dr. Cabeto. Por outro lado, a alta demanda por suprimentos de saúde em todo o mundo desafia o envio. "Eles têm nos passado a dificuldade que têm sido de obter insumos, mas nos prometeram que até o fim de abril nos entregariam 200 respiradores; em maio, 400, e começo de junho, 100".

Pico

Para os próximos dias, o Instituto Ampla Pesquisa prevê que haverá uma média de 80 pacientes aguardando a desocupação de leitos de UTI e outros 80 à espera de atendimento, tendo em vista a alta dos casos. O tempo médio na fila de espera será de 9 dias, aponta. Com base no atual cenário pandêmico, as projeções estatísticas calculam que entre os dias 25 e 27 de abril, o Estado terá de 3.087 a 4.100 novos diagnósticos para Covid-19. O segundo pico da doença é estimado para os dias 20 a 30 de maio.

Contudo, o secretário da Saúde explica que as ações se moldam conforme o contexto de disseminação do vírus. Atualmente, o tempo-resposta é de até 48 horas após a solicitação. "A gente tem entre 30 e 40 esperando, e cria entre 30 e 40 leitos. Então, tem ainda leitos de 24 a 48 horas uma pessoa esperando em UPAS, no geral". Ainda segundo Dr. Cabeto, todas as unidades públicas e particulares terão que informar em tempo real a taxa de ocupação dos leitos "para que a gente possa administrar novas tragédias e em uma eventualidade, possa usar leitos privados".

O Hospital de campanha no estádio Presidente Vargas (PV), em Fortaleza, será um dos reforços para o acolhimento de pacientes com testagem positiva à Covid-19. A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informou, ontem, que a unidade tem 85% das obras concluídas e a partir das 12h deste sábado (18) deverá fazer os primeiros atendimentos.

Vagas

No primeiro momento, funcionará um bloco de enfermaria com 51 leitos. O prefeito Roberto Cláudio detalhou que já existem pacientes esperando na fila da Central de Regulação que serão transferidos no fim de semana. "São pacientes que estão eventualmente internados em UPA, Gonzaguinha ou Frotinha, que não são especializados para manejar pacientes com Covid".

A partir da entrega da estrutura, que pode acontecer até a próxima segunda-feira (20), a unidade terá 204 leitos de média e baixa complexidade com possibilidade de expansão para 336. Conforme a secretária municipal da Saúde, Joana Maciel, assim como o Hospital Leonardo da Vinci, o Batista e o IJF 2, a unidade no PV também deve atuar como retaguarda. "Você não pode ir para a emergência deles procurar atendimento para síndrome gripal. Os pacientes serão procedentes das nossas 12 UPAs", salienta.

Casos

Fortaleza concentra 83,7% da soma de todos os casos, isto é, 2.300 anotações. Dos 155 óbitos, 119 aconteceram na Capital, onde a taxa de letalidade é 5,2. Cidades da Região Metropolitana também têm incidência elevada de confirmações da doença.

Mortes por Covid-19 em Fortaleza

Nas primeiras posições estão Caucaia (71), Maracanaú (58) e Aquiraz (38). Já no interior, Sobral segue liderando com 21 casos. A Covid-19 chegou a 83 dos 184 municípios cearenses. A faixa etária mais atingida pelo coronavírus é a de pessoas com 35 a 39 anos, que contabilizam 343 casos, sendo 180 mulheres e 163 homens. Por outro lado, em relação às mortes, pacientes com 80 anos ou mais têm os maiores registros - 40 óbitos.

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