Ceará é o 4º estado no país com mais familiares que se dedicam apenas a cuidar de idosos

Pesquisa aponta que 11,9% da população, no Ceará, dedica-se a essa função. Elisângela de Sousa, operadora de telemarketing, faz parte dessa estatística

Escrito por Redação ,
Legenda: Elisângela de Sousa cuida da mãe após deixar o emprego
Foto: Arquivo Pessoal

Em meio a pandemia do novo coronavírus, os idosos são considerados grupo de risco, pela idade e por vários problemas de saúde que vêm junto com ela. Nesta quinta-feira (4), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou uma pesquisa que mostra que familiares têm se dedicado cada vez mais a cuidar desse grupo, em todo país. O Ceará ficou em quarto lugar no ranking de estados onde familiares se dedicam a cuidar de idosos, com 11,9% da população. 

A nova realidade da operadora de telemarketing, Elisângela de Sousa, de 43 anos, exemplifica esse crescimento no estado. Com a necessidade de ajudar a mãe nessa fase mais delicada da vida, a operadora de telemarketing deixou o emprego e resolveu dedicar-se apenas a mãe. “Nessa fase, nessa idade, o que ela [a mãe] está precisando, é de segurança. Então eu tive que parar [tudo] e dizer ‘tem que ser eu’, porque se eu deixasse ela na mão dos outros, não ia dar certo”, conta Elisângela. A idosa, Maria do Socorro Pinto, tem 84 anos está na fase de que precisa de ajuda até mesmo para ações mais básicas, como tomar banho. 

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD-C 2019) o número de familiares que cuidavam de idosos com mais de 60 anos, passou de 3,7 milhões em 2016, para 5,1 milhões em 2019. A pesquisa também pontua que o brasileiro tem se dedicado mais a rotina doméstica, passando de 81,3% em 2016 para 85,7%,em 2019. Para a analista do IBGE, Alessandra Scalioni Brito, esse aumento pode ser efeito da crise do mercado de trabalho, levando a queda da renda das famílias. 

Mudanças 
 
Apesar de ter sido uma escolha acertada, não impediu os impactos sofridos na vida de Elisângela. Além da mudança de rotina, houve a mudança no padrão financeiro. “O meu financeiro sempre foi bom para a estabilidade da família, agora sem o meu financeiro, eu tive que cortar muitos gastos. O que é mais difícil é que com meu [dinheiro] completava o dela, porque o que ela ganha, não dá para suprir nem a necessidade dos remédios”, ressalta. 
 
A pesquisa destaca que mulheres se dedicam o dobro de horas aos afazeres domésticos e ao cuidado com pessoas. Dentre os cuidados com idosos citados, são apontados as ações como monitorar ou fazer companhia em casa, em 83,4% dos casos, e auxiliar nos cuidados pessoais, no caso de 74,1% dos casos. “No geral, sem discriminar ocupados e não ocupados, a quantidade de horas trabalhadas a mais por mulheres é crescente ao longo dos anos, passando de 9,9 horas a mais em 2016 para 10,4 horas a mais em 2019”, destaca a analista.
 
A operadora de telemarketing, além de se dedicar apenas às atividades domésticas, lida com os dois tipos de cuidados citados, no seu cotidiano. “Eu lido com aquela rotina de medicação, de banho, porque ela já está nessa fase. Eu tinha uma rotina agitada, então a minha rotina mudou totalmente”, pontua. "Tive que abrir mão do meu mundo para ajudar ela nesse momento”, destaca.
 
Por maiores que tenham sido os impactos dessa mudança, Elisângela destaca que a paz de espírito por estar ao lado da mãe, nesse momento tão delicado, é o que lhe motiva a seguir com essa escolha. “Eu estou dando o meu melhor no momento de vida da minha mãe, mesmo com a rotina do idoso, que não é uma rotina fácil. Então, só em saber que ela está viva, está com saúde, no meio dessa pandemia. [É] um sentimento de dever cumprido”, finaliza.

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