Capital avança em alfabetização e índices de Português e Matemática

Acompanhamento individualizado de alunos, formação continuada do corpo docente e parcerias com famílias e entidades vêm impulsionando bons indicadores em competências e habilidades. Efeitos da pandemia se impõem como desafios a serem superados pela área.

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Legenda: Letramento adequado nos anos iniciais é um dos principais fatores para o desenvolvimento escolar
Foto: Helene Santos

Educação de qualidade é um termo defendido comumente pela população e pelos gestores públicos. Contudo, a área precisa de investimentos constantes para que os indicadores educacionais cresçam e, quando atingirem um patamar ideal, se mantenham. Nos últimos oito anos, a rede municipal de Fortaleza acumula bons resultados em avaliações da Educação Básica para crianças e adolescentes, ampliando habilidades na alfabetização e nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática - embora, historicamente, esta última ainda represente um entrave.

A Capital cearense multiplicou o número de alunos no nível desejável de alfabetização, de acordo com o Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece-Alfa) 2019, que avalia a qualidade do ensino nos 184 municípios do Estado. Em 2013, ela era a lanterna. No ano passado, atingiu a posição 125 no ranking. Os dados mostram que 94,5% dos alunos finalizaram o 2º ano do Ensino Fundamental sabendo ler e escrever, resultado superior à média cearense de 92,7%.

Já o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2019 da rede municipal de Ensino destacou Fortaleza como a 5ª capital brasileira com a melhor média nos anos iniciais (do 1º ao 5º ano) e 4º lugar nos anos finais (do 6º ao 9º ano), além de ficar acima da média geral brasileira e de todas as regiões do País.

Os benefícios são celebrados pela titular da Secretaria Municipal de Educação (SME), Dalila Saldanha, que assumiu a Pasta há quatro anos. Para ela, o êxito está em investir em ações desde a base, garantindo um direito "essencial na vida de qualquer pessoa": o letramento. O processo foi reorganizado à luz do Programa Aprendizagem na Idade Certa (Mais Paic), do Governo do Estado.

Entre as linhas de ação, ela destaca a formação continuada e a valorização de professores, incluindo a seleção de gestores por mérito; a reestruturação e reforma da rede de ensino; a criação dos distritos de educação; o fortalecimento da parceria com as famílias, e um "rígido controle" da frequência escolar diária, desde 2017.

"Essa iniciativa parece muito básica, mas tem um impacto gigante no processo porque a gente garante a permanência das crianças na escola. Só conseguimos aplicar as estratégias que a rede organizou, um currículo inovador, se ela estiver na escola. Foi um processo fundamental para combater a reprovação e garantir a aprendizagem", descreve.

Nukácia Meyre Silva Araújo, doutora em Educação e professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece), elogia a metodologia municipal a partir da atualização constante do material didático e do uso de softwares como o Luz do Saber, do Estado, agregados ao ensino tradicional. Segundo ela, é preciso desenvolver tanto o letramento matemático como linguístico, cujas linguagens são essenciais para viver e interagir em sociedade.

"Quanto mais cedo e quanto mais o aluno estiver seguro no percurso de alfabetização, mais ele vai ter sucesso em ler, escrever e ser capaz de encontrar tanto as adequações quanto os enganos que outros querem provocar", explica a especialista.
Nukácia defende ainda que, no ensino, a escola considere as novas interações no mundo digital que exigem também a interpretação de imagens, vídeos e áudios.

Além da proposta pedagógica, a gestão municipal também precisa lidar com um contingente cada vez maior de assistidos. Atualmente, são cerca de 231 mil alunos matriculados em 582 unidades, entre escolas, Centros de Educação Infantil (CEIs) e creches parceiras. O número representa 5% a mais que os 220 mil registrados no ciclo anterior, de acordo com o Censo Escolar.

A secretária Dalila Saldanha também comemora a ampliação da rede de ensino integral da cidade. Fortaleza atingiu, em 2019, o primeiro lugar em cobertura percentual de matrículas na modalidade, com 49,4% dos estudantes usufruindo do sistema, ofertado em 27 Escolas de Tempo Integral, 162 CEIs e programas de fortalecimento da aprendizagem, que atuam na ampliação da jornada escolar para alunos do 1° ao 9º ano.

"Desde 2013, todos os novos equipamentos de educação infantil abertos são de tempo integral. Temos um amplo espaço para oferecer atividades principalmente ligadas ao esporte, à cultura e ao lazer", garante. "Todas as nossas unidades cumprem exatamente os mesmos protocolos e recebem exatamente os mesmos materiais. À medida que vamos identificando uma necessidade de maior apoio, estamos lá com nossa rede de formadores". Para Rui Aguiar, coordenador do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Ceará, o desafio da nova gestão municipal é garantir as conquistas de aprendizagem alcançadas até 2019 e identificar quais necessidades de ensino não foram garantidas durante a pandemia.

"Mesmo que os alunos tenham tido aulas remotas, algum conteúdo que será importante para o futuro se perdeu. Também é importante manter o investimento na coordenação pedagógica porque educação é equipe: o professor na sala de aula e bons gestores e coordenadores dando apoio", detalha.

A preocupação é compartilhada pela consultora de vendas Liliane Nunes, mãe de Joel, de 10 anos, estudante da rede municipal. Ela se orgulha do filho "adiantado" uma série, cursando o 6º ano, mas percebe que o rendimento dele caiu durante a pandemia. "Ele começou a sentir falta dos amigos e a ter dificuldade nas tarefas. Precisei procurar as professoras e coordenação, e me pediram para ficar calma", lembra.

Adaptação

As expectativas de mãe e filho, que tiveram Covid-19, é que as atividades sejam normalizadas no início de 2021. Até lá, Liliane valoriza a assistência da escola. "Todos os dias enviam as tarefas, mandam mensagem, perguntam como a família está. O colégio sempre esteve presente e, quando não deu pra fazer alguma tarefa, entendeu", afirma.

A Prefeitura já iniciou a aquisição de chips de celular para fornecer internet a 230 mil alunos da rede. Porém, a professora Nukácia Meyre, da Uece, reforça que somente a disponibilização de dispositivos não é suficiente: é preciso encontrar um equilíbrio entre a manutenção da segurança dos alunos e o conteúdo ministrado remotamente.

"Para as crianças das séries iniciais, e até das outras etapas, é difícil ficar na frente da tela durante muito tempo. Se elas passam quatro horas na escola, não podem assistir à aula durante quatro horas no computador ou no celular. Não dá só para transpor, e diversas adaptações precisam ser feitas", observa.

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