Caem atendimentos de síndromes respiratórias em postos de saúde

Dados da Secretaria de Saúde de Fortaleza mostram que atendimentos a sintomáticos de Covid-19 cresceram entre as primeiras quinzenas de abril e maio, mas têm diminuído ao longo deste mês, indicando possível redução de contágio

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Legenda: Órgãos apontam queda na procura por postos de saúde de casos de síndromes respiratórias agudas
Foto: FOTO: JOSÉ LEOMAR

A procura de pacientes com síndromes respiratórias agudas por postos de saúde de Fortaleza diminuiu, na segunda quinzena de maio, e a queda deve ser consolidada ao fim do mês. Dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) revelam que a quantidade de atendimentos de casos suspeitos de Covid-19 nas unidades básicas cresceu substancialmente entre 1º de abril e 17 de maio - mas registrou redução diária entre 19 e 21 deste mês. A projeção é de que a quinzena finalize com 17.760 atendimentos deste tipo nos postos, contra 19.181 contabilizados nos primeiros 15 dias de maio.

O Ceará tem mais de 37 mil casos confirmados de Covid-19, e outros 46,7 mil em investigação, conforme atualização do Integra SUS, da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), às 17h43 dessa terça-feira (26). O número de mortes pela doença no Estado chegou a 2.603. Só em Fortaleza, são 20.789 confirmações e 1.769 óbitos na contagem.

Entre 16 e 31 de março, quando os casos do novo coronavírus começaram a se alastrar por toda a cidade, foram realizados 5.575 atendimentos médicos de síndromes respiratórias agudas nos 113 postos de saúde de Fortaleza, cerca de 11,3% de todas as assistências registradas nas unidades básicas (49.287). Na primeira quinzena de abril, o número caiu: dos 31.098 atendimentos médicos gerais nos postos, 3.396 foram de síndromes gripais.

Depois disso, os números só cresceram. Na segunda quinzena de abril, quando houve recomendação de que as pessoas procurassem precocemente os postos de saúde em caso de suspeita de Covid-19, os casos atendidos tiveram salto significativo: dos 42,2 mil atendimentos, 9.930 foram de suspeitas da nova doença. Nos primeiros 15 dias de maio, o número chegou a 19.181, quase 35% dos 54,8 mil atendimentos totais nos postos da Capital.

Tendência

A projeção, contudo, é de que haja queda nesses atendimentos típicos de casos suspeitos do novo coronavírus: de acordo com a SMS, a segunda quinzena de maio deve findar com 17.760 atendimentos de pacientes gripais, cerca de 7% a menos do que o registrado nos 15 dias anteriores.

Analisando os dados dia a dia, a quantidade de vezes que os postos foram procurados por pacientes com suspeita de Covid-19 tem declinado desde o dia 19 de maio, quando foram contabilizados 1.661 atendimentos - contra 2.110 do dia anterior. Já no dia 20, foram 1.531 assistências, reduzindo para 1.284 no dia 21 deste mês. A diminuição em quatro dias foi de aproximadamente 40%. Antes disso, o pico de procura de pacientes gripais pelos postos havia sido atingido no dia 11 de maio, com 2.139 atendimentos.

O prefeito Roberto Cláudio reconheceu que ainda é cedo para afirmar se é uma tendência consolidada, mas atribuiu a já visível redução da procura dos postos às medidas de isolamento rígido, em vigor desde o dia 8 de maio. "Um dos primeiros sinais consequentes do isolamento social é a redução da demanda por serviços de saúde. Tivemos pelo menos quatro dias consecutivos de queda do número de pacientes diagnosticados com síndrome gripal nos postos. É uma tendência muito recente, mas pode ser um sinal, que coincide com o que temos ouvido sobre a rede privada", declarou o gestor.

Estado

Na última sexta-feira (22), o secretário da Saúde do Ceará, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, Dr. Cabeto, declarou - mesmo sem apresentar dados - que os números de óbitos e de atendimentos para pacientes com sintomas da Covid-19 em hospitais públicos e privados têm reduzido em todo o Estado. "Há indícios da redução no número de atendimento das emergências, UPAs, do número de internações e da gravidade dos pacientes quando chegam às emergências", apontou, em coletiva de imprensa.

O epidemiologista Antônio Lima, gerente da Célula de Vigilância Epidemiológica de Fortaleza, reforça que "vem se observando uma estabilização no número diário de casos novos e de óbitos na Capital", o que pode indicar que o pico foi atingido. "A gente pode ter atingido um platô, o topo de uma curva, e a partir daí comece uma tendência de descendência. Para que se confirme essa tendência e possa iniciar um processo de flexibilização, é muito importante que aumente nossa taxa de isolamento", pontua.

O retorno gradual seguro às atividades, segundo o gerente, é condicionado à confirmação da redução de novos de casos. "Esse processo (de flexibilização) só é possível de se iniciar com segurança. Temos que ter um menor número de casos diários, uma tendência de diminuição de óbitos e, sobretudo, uma condição assistencial melhor, tanto na rede pública, como na rede privada - que se, de fato, confirmarmos essa tendência (de redução), a gente alcançará", avalia Antônio.

Redução

A queda da quantidade de pacientes que procuram as unidades de saúde públicas e privadas com quadros gripais e respiratórios "foi uma repercussão clara do isolamento social mais rígido", como analisa o infectologista do Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), Keny Colares. "Não tenho os números, mas colegas de unidades públicas e privadas têm observado uma redução da procura, de fato. Aparentemente, o isolamento funciona, mesmo não sendo tão rigoroso quanto imaginávamos", pontua.

A repercussão do declínio de novos diagnósticos na ocupação de leitos também pode ser uma realidade em médio prazo. "No Hospital São José, há muitas semanas não víamos três ou quatro leitos vazios, sem ter gente correndo para ocupá-los. Houve uma certa melhora, significa que alguma coisa diferente aconteceu", relata o infectologista.

A melhora da situação pandêmica, contudo, não é indicativo para flexibilizar medidas de isolamento decretadas pelo Governo do Estado, conforme opina Keny. "Se abrirmos tudo, em uma ou duas semanas, a doença virá muito pior, porque antes não estava em toda a cidade como agora. Outros países tentaram fazer uma abertura maior, e a doença voltou. O retorno, quando será e como será, deve ser muito bem planejado, para não perdermos o que conquistamos, e todo o esforço ter sido em vão", alerta.

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