Bairro Jangurussu lidera ranking de adoção de espaços públicos em Fortaleza

A iniciativa faz parte do Programa Adoção de Praças e Áreas Verdes da Prefeitura de Fortaleza, que conta com 481 adoções

Escrito por Natali Carvalho , natali.carvalho@svm.com.br
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Legenda: Cuidados com o espaço atraíram mais pessoas e contribuíram com os comerciantes locais
Foto: Thiago Gadelha

Existem locais na cidade que se tornam memória fixa entre os moradores, como uma lembrança concreta da vida ao longo dos anos. Quando criança, Dafne Azevedo e outros residentes do bairro Jangurussu tinham medo de andar pela Avenida Bulevar III 275, que, segundo ela, era apenas uma rua de piçarra, deserta e escura. Com o tempo, se tornou uma pista de areia batida, usada irregularmente para descarte de lixo. Hoje o local está praticamente irreconhecível, com cores, gente, comércio e lazer.

Há dois anos, o esposo dela, José Wandemberg Azevedo, concluiu o processo de adoção pelo Programa Adoção de Praças e Áreas Verdes, promovido pela Prefeitura de Fortaleza, que permite o cidadão comum adotar espaços públicos, como praças, efetivando a responsabilidade compartilhada no gerenciamento da Capital.

Agora existem 481 pontos, como a Avenida Bulevar em toda a Capital. Em 2020, foram 79 adoções espalhadas pelas regionais.

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Legenda: Espaço infantil montado e preservado pelos moradores na Praca Tereza Neuman Zaranza Lima
Foto: Thiago Gadelha

“Uma Varjota na periferia”, explica Wanbemberg sobre a transformação feita pelos moradores após a adoção do perímetro na avenida. Os moradores da periferia faziam o deslocamento para regiões mais nobres de Fortaleza em busca de territórios em que pudessem se divertir com “segurança, beleza, conforto, um ambiente que fosse bacana”, explica o também empresário. Com a ajuda de outros residentes, o processo de repaginada foi iniciado. Instalação de luzes, arborização e até mesmo colocação de pisos intertravados. “Nós merecíamos isso, serviu para compreendermos que não precisávamos ir para longe, que aqui na periferia poderíamos ter um local maravilhoso”. 

Avenida/ Adoção/ Espaço/ Árvore
Legenda: A iniciativa faz parte do Programa Adoção de Praças e Áreas Verdes da Prefeitura de Fortaleza, que em 2020 teve 79 novas adoções
Foto: Fabiane de Paula

De acordo com Aline Gomes, gestora e mestranda em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Ceará (UFC), essa nova forma de ocupação dos espaços da cidade é motivado pelo pertencimento. Por morarem nos bairros, as pessoas conhecem as demandas de maneira singular, de uma forma que líderes políticos não compreendem, e a partir disso sabem exatamente como melhorar aquela área.

“Você trabalhar a questão das cidades e dos moradores. É um ganho para os dois lados. É a possibilidade que a Prefeitura tem de descentralizar, de procurar saber quais são as suas limitações. Esses programas são importantes, pela participação da população na cidade. Pois, eles entendem que aquele espaço é deles, é público e que se tiver organizado, os ganhos são deles. Então, é interessante que a cidade seja mais ocupada”, explica.

A iniciativa de Wandemberg impulsionou outras adoções no bairro. Conforme informações da Secretaria Municipal do Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), o Jangurussu é líder na adoção de espaços, somente em 2020, foram 37 novas adoções somente em 2020, contemplando 29 canteiros centrais, seis praças e duas áreas verdes. Somente na Avenida Bulevard III, foram firmadas 31 parcerias de adoções de canteiros centrais por meio do programa. Na mesma Avenida, mas no número 40, Adriel de Alencar fez sua adoção.

“Eu não tenho fotos de como era antigamente, era tão feio que não tinha porque registrar”, explica com humor. A motivação, neste caso, foi econômica. “Eu decidi adotar para melhorar o espaço, deixando ele mais aconchegante, para que eu pudesse trabalhar e atrair mais clientes”.

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Legenda: Moradores aproveitam área verde do bairro para plantar
Foto: Thiago Gadelha

A ocupação desses espaços pela população, significa uma cidade mais saudável, sociável e segura, pois inibe a sensação de abandono e insegurança que um espaço desocupado possa oferecer, explica Natasha Matos, graduanda em Ciências Sociais e bolsista do Laboratório de Estudo em Política, Educação e Cidade pela UFC. Ela relata que a partir disso, outras práticas espontâneas de troca entre os moradores do entorno podem culminar, inclusive, no surgimento de atividades comerciais, como venda de comida, de roupas para atividade física ou ofertas de entretenimento para crianças. Conforme depoimento de José e Adriel, foi isso que aconteceu após as adoções, as pessoas passaram a utilizar os espaços para se tornarem trabalhadores autônomos. 

Responsabilidade compartilhada

De acordo com Edilene Oliveira, coordenadora de Políticas Ambientas da Seuma, o programa de Adoção de Praças e Áreas Verdes existe desde 2013. Com a iniciativa, já foram economizados pelo Município, em manutenções e construções, cerca de 3 milhões de reais. Segundo a coordenadora, no início as adoções predominavam na região mais nobre da cidade e eram feitas por empresas. Atualmente, as adoções acontecem em sua maioria nos bairros periféricos da cidade.

O adotante passa por um acompanhamento pela Secretaria Regional e pela Seuma, “nós sempre tentamos dar essa assistência, porque é uma responsabilidade compartilhada. O cidadão está ajudando a cuidar do espaço público. Então, nós também temos essa atenção junto ao cidadão”, conclui.

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Legenda: Localizado na Rua Verde 43, campo de futebol utilizado por crianças, jovens e adultos também foi revitalizado por moradores
Foto: Thiago Gadelha

Para participar, o interessado deve se dirigir à Secretaria Regional competente ao espaço a ser adotado. Onde irá preencher os seguintes documentos: Requerimento, Formulário de Adoção, Carta de Intenção e Plano de Trabalho, contendo informações sobre o adotante e sobre a área de interesse da adoção. 

Além disso, o adotante deverá levar a documentação comprobatória necessária. Pessoa física, jurídica ou associações podem participar. A partir disso, o munícipe aguarda ser chamado para assinar o Convênio de Adoção, para posterior celebração e assinatura deste documento pelo prefeito. É importante frisar que o adotante não recebe ajuda de custo pela prefeitura.

 

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