Aplicativos desenvolvidos pela Universidade de Fortaleza auxiliam em tratamentos de saúde no CE

Pesquisadores criam sistemas para autogestão da qualidade da voz, alertas no tratamento de doenças renais e propostas lúdicas para interação com crianças

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
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Legenda: Christina Praça, professora em Saúde Coletiva da Universidade de Fortaleza, buscou soluções para docentes com problemas na voz
Foto: Camila Lima

A tecnologia avança e, com ela, contribuições na área da saúde se tornam cada vez mais importantes e eficazes. Pacientes se beneficiam dos resultados de pesquisas lideradas por estudiosos conquistando melhor qualidade de vida. Aplicativos desenvolvidos na Universidade de Fortaleza (Unifor) ganham espaço mundialmente e são exemplos de como a tecnologia aplicada ao setor de saúde impacta diretamente a rotina da população.

Grupos de pesquisadores vinculados à universidade desenvolveram três aplicativos que chamam atenção por suas aplicações práticas: o ‘VoiceGuard’, ‘Interautismo’ e 'Renal Health'. No caso do aplicativo ‘VoiceGuard’, ele é capaz de ajudar a melhorar a voz dos professores atuantes em escolas da Rede Pública Municipal. Foram os problemas na voz, recorrentes em docentes no ambiente escolar, que inspiraram a fonoaudióloga Christina Praça, professora em Saúde Coletiva da Universidade de Fortaleza a criar a ferramenta digital VoiceGuard em 2016. “Eu sempre fui inquieta com a saúde vocal do professor porque, como professora, a gente vê que a voz é a principal ferramenta de trabalho desses profissionais e durante a formação acadêmica não tem disciplina que os prepare para cuidar da saúde vocal”, observa.

Foram pensados alertas para indicar esforço excessivo, nível intenso de ruídos no ambiente, falta de ingestão de água, além de análises da qualidade da voz e lembretes das consultas periódicas aos especialistas. “A gente se depara nos ambulatórios de fonoaudiologia com professores que chegam já com a doença instalada, roucos, com a voz trepidando ou falhando. Isso interfere na qualidade de vida deles, na saúde emocional e no aprendizado dos alunos”, justifica a pesquisadora.

Neste cenário, como avalia Christina Praça, muitos profissionais precisam se afastar do trabalho por prejuízos na voz. Realidade observada em números na sua pesquisa que consultou 300 professores da rede municipal de ensino de Fortaleza. O grupo relatou estar exposto há mais de seis fatores de risco para a voz, como ruído ambiental, falta de condicionamento térmico adequado e falta de ingestão de água. Além disso, os profissionais destacaram apresentar, em média, seis sintomas de dificuldades na fala.

Com conhecido sobre essa realidade, foi estabelecida parceria com a Secretaria Municipal de Educação (SME) para validação da tecnologia na rede. O aplicativo também foi validado em Portugal, onde o estudo teve continuidade, e deve ganhar versão para espanhol e francês nas próximas atualizações. Mesmo sem aulas presenciais por causa do novo coronavírus, a ferramenta evidencia a sua relevância devido ao desgaste do trabalho remoto. “Voz e emoção são coisas que estão muito atreladas e esse momento de pandemia gerou uma série de instabilidades, inclusive, nos professores”.

O aplicativo agora faz parte de um programa de saúde com foco na voz. “A gente acredita em pesquisa atrelada à responsabilidade social, tiramos uma tese publicada da gaveta e entregamos para a sociedade dizendo um muito obrigado aos professores que colaboraram com a pesquisa aos responderem os questionários”, explica Christina Praça.

Pacientes

Desde o ano de 2015, outro grupo de estudiosos da Universidade de Fortaleza trabalha em um programa voltado para beneficiar a rotina de pacientes com problemas nos rins.
Em 2018 foi disponibilizada a primeira versão do aplicativo ‘Renal Health’. Dois anos depois, quase mil pessoas já aderiram à ferramenta na maior parte do Brasil.

O professor do curso de Medicina e da pós-graduação em Saúde Coletiva da Unifor, Geraldo Bezerra, conta que o ‘Renal Health’ foi desenvolvido junto ao Núcleo de Tecnologia da Informação da Universidade, com foco nos pacientes que passam por diálise ou fizeram transplante renal. Atualmente, a maior parte dos usuários está em São Paulo seguida pelos estados do Ceará e Rio de Janeiro.

“Alunos da graduação, pós-graduação participaram do desenvolvimento. Nós vimos que cartilhas, papéis, não era mais algo tão efetivo. Então veio a ideia de usar a tecnologia. Entrevistamos vários pacientes em um estudo de aceitabilidade da tecnologia. Uma das perguntas aos transplantados era se gostaria de utilizar algum aplicativo assim. A taxa de aceitação já foi mais de 90%”, recordou o professor.

Dentre as ferramentas existentes no aplicativo há possibilidade dos pacientes realizarem um automonitoramento a partir da organização da agenda de tratamento, horários das medicações, relatos de possíveis efeitos e reações e controle de quanto de líquido ingerido ao longo do dia. 

Geraldo se orgulha do sucesso da ideia, e afirma que a proposta é aumentar a adesão ao tratamento contando com apoio de hospitais, outras universidades no Brasil, e até mesmo no exterior. “No Ceará temos parceria com o Hospital Geral de Fortaleza, Hospital das Clínicas e clínicas de diálise na Capital e em municípios próximos. Temos convênio com universidades em Pernambuco, Alagoas e na Holanda. Estamos sempre atualizando a ferramenta”, comemora Geraldo Bezerra. 

Público infantil

A partir da percepção profissional no dia a dia, a professora do curso de Fisioterapia da Unifor, Julyana Maia, idealizou uma ferramenta que pudesse auxiliar a rotina de crianças autistas e de seus familiares. A ideia ganhou formato tecnológico por meio do aplicativo ‘Interautismo’.

Julyana recorda que a escolha do nome não foi por acaso: “a interação auxilia diretamente o cotidiano de uma criança autista”. A finalidade da ferramenta é prescrever brincadeiras terapêuticas para que pais e crianças brinquem no cenário real treinando habilidades sociais e a comunicação com apoio de profissionais especializados.

“As brincadeiras utilizadas nos consultórios para tratar crianças na área que ela necessita são realizadas com intuito terapêutico. Essas atividades precisam acontecer em casa também. Isso auxilia nas habilidades motoras, no campo da linguagem, e em muitos outros”, destaca Julyana. Atualmente, esta criação específica segue para validação e deve ser disponibilizada no próximo ano.

 

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