Além de Fortaleza, estão incluídas na lista cidades como Caucaia, Cascavel, Juazeiro do Norte, Canindé e outras
Fortaleza é um dos 128 municípios de todo o Ceará que terão prioridade para receber os médicos do programa Mais Médicos para o Brasil, do governo federal, anunciou ontem o Ministério da Saúde. O dados revelam, então, que 70% do Estado está nesta lista de carência de médicos. Entretanto, isso não significa que essas cidades vão receber os profissionais, pois todos os municípios do País poderão se inscrever no edital, lançado nesta terça-feira.
Em todo o Brasil, 1.557 cidades são prioritárias para receber servidores pelo programa Mais Médicos, 1.042 delas na Região Nordeste. O assunto tem gerado polêmica, já que instituições ligadas à Medicina não concordam com o projeto FOTO: KID JÚNIOR
Além da Capital cearense também estão incluídos na lista municípios como Caucaia, Cascavel, que fazem parte da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), e também Juazeiro do Norte, Quixadá e Canindé. O Ministério da Saúde ainda determinou que essas cidades são prioridade no projeto após realizar levantamento para saber onde existem equipes incompletas no Programa Saúde da Família (PSF) e outros programas.
Em todo o Brasil, 1.557 cidades são prioritárias para receber servidores pelo Mais Médicos, 1.042 delas na Região Nordeste. O projeto vai atender municípios considerados de grande vulnerabilidade, sendo 1.290 cidades de alta vulnerabilidade social, 201 cidades de regiões metropolitanas, 66 cidades com mais de 80 mil habitantes de baixa receita pública per capita e 25 distritos de saúde indígena.
Para aderir ao programa, segundo o edital publicado, ontem, no Diário Oficial da União, o município elegível deverá acessar o endereço eletrônico http://maismedicos.saude.gov.br e fornecer todas as informações que são pedidas.
As cidades interessadas devem oferecer moradia e alimentação aos médicos e receberão recursos para construção, reforma ou ampliação de unidades básicas de saúde.
Os investimentos federais na qualificação de equipamentos de saúde somam R$ 152,8 milhões no Ceará e R$ 2,8 bilhões em todo o País. Até 2014, o governo federal pretende investir R$ 15 bilhões na área da saúde, incluindo a contratação de novos médicos.
Sem efeito
Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec), José Maria Pontes, essa iniciativa do governo federal não terá o efeito esperado. "Podem mandar um milhão de médicos para trabalhar no Ceará e nada será resolvido. Isso vai acontecer porque o problema é falta de estrutura e orçamento", acrescenta.
Outra adversidade, ressaltou Pontes, é a falta de segurança nas promessas feitas por prefeituras do Interior do Estado. Hoje, existem no Simec 137 ações, envolvendo quase mil médicos, de profissionais que foram trabalhar em outros municípios e não receberam seus salários. "Outros profissionais vão para cidades mais distantes devido ao Plano de Cargos e Carreiras (PCC). Mas nós não temos isso e ficamos inseguros", comentou.
Ele acrescentou que amanhã vai para Brasília participar de reunião na Federação Nacional dos Médicos (Fenam) para que seja decidido qual o próximo passo da categoria. Enquanto isso, o Conselho Federal de Medicina (CFM) afirmou, ontem, que analisa as medidas judiciais cabíveis e espera anunciar um plano de ação contra a sugestão anunciada pelo governo federal.
O titular da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa), Arruda Bastos, destacou que ainda existem muitas cidades no Interior com equipes da saúde básica incompletas. "No Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab) tivemos mais vagas do que médicos inscritos", lembrou o gestor estadual.
Veja a lista completa dos municípios cearenses priorizados no Diário do Nordeste Online.
Estudantes não aprovam projeto
Não foram apenas os médicos que receberam de forma negativa o lançamento do programa Mais Médicos Para o Brasil, do governo federal. Alunos do Colégio Farias Brito, em Fortaleza, que pretendem cursar Medicina, acreditam que essa medida não é ideal para resolver os problemas de saúde em todo o País.
Estrutura, costumes e língua são algumas das dificuldades que os médicos do exterior poderão enfrentar no Brasil, afirmam os alunos Foto: Kiko Silva
Para o estudante Mateus Andrade, 17, antes dessas mudanças propostas pelo Ministério da Saúde, é necessário que haja investimento na estrutura de hospitais e postos de saúde. "Se o médico não tiver como trabalhar, isso não vai adiantar nada".
Mesmo com as diversas alterações na formação dos futuros médicos, Andrade garante que não vai desistir de buscar o seu sonho. "Acredito que o Conselho (de Medicina) e todos os médicos vão se mobilizar contra essas mudanças".
A estudante Sofia Rocha, 17, acredita que os profissionais estrangeiros que podem vir trabalhar no Brasil terão problemas com os costumes e, principalmente, com a língua. "Temos doenças e também algumas palavras que só as pessoas que moram aqui conhecem", disse.
Já o estudante Jonata Azevedo, 22, ressalta que as mudanças devem acontecer também em outras áreas para que tudo seja balanceado. "Toda a nossa sociedade é interligada. Dessa forma, quando uma área está com problemas acaba afetando todas as outras. Por isso, o governo precisa fazer algo mais completo".
Mercado
De acordo com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a decisão do governo de autorizar a vinda de médicos estrangeiros sem a aprovação no Exame Nacional de Revalidação de Diplomas (Revalida) é para evitar que esses profissionais disputem mercado com os médicos brasileiros. "O Ministério da Saúde e o da Educação não querem tirar emprego dos médicos brasileiros. Queremos trazer médicos de fora do País apenas se as vagas não forem preenchidas".
THIAGO ROCHA/ ANNE FURTADO
REPÓRTERES