Especialistas apontam como identificar e orientar crianças e adolescentes sobre abuso sexual

Criar laços de confiança com os jovens e informar sobre quais carinhos são permitidos são algumas medidas recomendadas pela coordenadora do Programa Rede Aquarela

O trauma causado por abusos sexuais é intolerável independente da idade. Para crianças e adolescentes, que ainda estão descobrindo a si mesmos e muitas vezes desconhecem os limites entre o eu e o outro, a dor e o isolamento podem ser ainda piores. Nesses casos, família, amigos, vizinhos ou até mesmo a escola precisam estar atentos aos sinais e abrir um diálogo constante para prevenir possíveis situações de abuso, conforme explica a coordenadora do Programa Rede Aquarela, Kelly Meneses.

Formada em direito, com especialização em crianças e adolescentes, ela aponta que a relação de confiança é essencial para que o jovem esteja confortável para falar e buscar ajuda. “É muito importante que a família, a escola, ou qualquer instituição que cuida de crianças e adolescentes, estabeleçam um diálogo, mostrando que é possível confiar, falar sobre qualquer assunto. Tem que investir nesse vínculo de confiança”, esclarece.  

São muitos os sinais que o jovem costuma apresentar, como tendência ao isolamento, timidez e redução de conversas e brincadeiras. Além da relação de confiança, Kelly aponta que também é relevante explicar, principalmente para a criança, quais são as partes do corpo que podem ser tocadas.

“Informar quais são as partes íntimas, qual carinho bom, qual é o carinho que é abusivo. Que se alguém se aproximar, ou tentar tocar e se sentir invadida, pode procurar um adulto e pedir ajuda”, afirma a coordenadora. 

Conforme explica, os abusadores costumam manipular as criança por meio do “segredo”, ao dizer que não podem contar para outras pessoas aquilo que é compartilhado entre eles. “Precisa explicar para a criança que não se deve guardar segredo, que nenhum segredo pode ser guardado”, reforça. 

Denúncia

Uma vez notificado um caso de abuso, a psicóloga do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Ceará (Cedeca), Ana Cristina Melo, aponta ser essencial realizar a denúncia de forma rápida e afastar a vítima da pessoa que ocasionou o trauma. Responsável por realizar o atendimento psicológico das vítimas e fortalecê-las ao longo do processo criminal, após a denúncia, ela reforla a relevância de agir com rapidez.

“Quando a gente identifica uma violência, instantaneamente a gente tem que fazer com que ela cesse. É preciso pensar em casas de familiares que possam receber a criança. Se ela não tiver família, pode-se pensar em um acolhimento por parte do Estado”, pondera. 

Para que a denúncia chegue a ocorrer em casos de suspeitas, Ana Cristina compartilha a necessidade de conscientizar a população quanto aos riscos da violência física, psicológica e sexual contra menores de idade, para que o coletivo perceba que “nós, como sociedade, também fazemos parte desse monitoramento”. Vizinhos, parentes e amigos, devem denunciar casos do tipo. 

Prevenção

O Programa Rede Aquarela, criado em 2005 pela Fundação da Criança e da Família Cidadã (Funci), realiza uma série de ações em Fortaleza voltadas para a prevenção, orientação e atendimento para vítimas de violência e familiares. Segundo Kelly Meneses, são realizadas oficinas, palestras e disseminação de cartilhas para crianças, adolescentes e profissionais que realizam trabalhos voltados para esse grupo, sejam da escola, da igreja ou de ONGs. 

Principalmente em maio, em que há o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, materiais informativos foram distribuídos para escolas e instituições parceiras. Mesmo neste ano de pandemia, com o ensino remoto, as escolas continuam com o papel de informar jovens sobre o assunto e estarem presentes como rede de apoio para além da família e amigos. 

“Compomos uma campanha virtual, com o objetivo que as escolas e famílias recebessem esse material informativo. Tem conteúdos específicos em relação à criança, ao adolescente, à exploração sexual, explicando também como encontrar os canais de denúncia”, diz a coordenadora da Rede Aquarela. 

O Cedeca é outro órgão que também atua na defesa os direitos de crianças e adolescentes, com base na Convenção Internacional dos Direitos da Criança, na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Federal 8069/90). No site oficial, são disponibilizadas cartilhas com foco para cada idade, utilizando linguagem mais didática para os textos usados com crianças. 

Serviço

Para denunciar, é possível entrar em contato com a Comissão Especial de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Ceará, pelo número (85) 99922-1124, ou com o Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude (CAOPIJ) do Ministério Público do Ceará, pelo telefone (85) 3452-4539.

Em Fortaleza, o Conselho Tutelar realiza atendimento das 17h às 8h, de segunda a sexta-feira, e 24 horas por dia aos sábados, domingos e feriados. O contato é (85) 3238-1828 e (85) 9897-0547. Além disso, também é possível contactar o Disque 100