Com sintomas da Covid-19, pacientes na UPA do Jangurussu aguardam por leitos

Familiares são informados por funcionários da UPA de que não há vagas disponíveis em hospitais de campanha

A falta de leitos na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Jangurussu é relatada por familiares de pacientes com Covid-19 ou com sintomas da doença. Os parentes descrevem que os enfermos são acomodados em cadeiras enquanto recebem medicamento e esperam vaga em leito, em alguns casos, por 24 horas ou mais. 

A vendedora Camila do Nascimento levou o irmão Francisco Gevanilson, de 35 anos, para ser atendido na unidade durante a madrugada de terça-feira (28). “Ele ‘tá’ na sala de observação, com acesso restrito. Dizem que ele está aguardando pra ser internado. Está numa cadeira, sentindo muita dor. Implorou por um medicamento pra dor”, revela. 

No local, ela ouviu que o irmão deveria ser tratado com cloroquina em um hospital de campanha. Ele também aguarda a transferência, mas não sabe quantas pessoas estão à sua frente na fila de espera. Ele permanece em uma cadeira, sem leitos disponíveis na própria UPA.

Uma situação similar foi relatada pela costureira Maria Carmelita Soares. Ela levou o marido Francisco Hélio da Silva, de 52 anos, para receber atendimento às 14h da quarta-feira (29). “Ele chegou já desfalecendo, nem conseguia levantar a cabeça. Atenderam, e colocaram ele em uma sala de isolamento onde o espaço é mínimo. Tem 20 pessoas sentadas perto uma das outras, todos pertinho. Ele está numa cadeira desde ontem, segundo eles, tomando medicação. Está com uma máscara pra respirar”, lamenta.

O marido de Carmelita já havia recebido o resultado positivo para Covid-19. Ela diz, porém, que foi informada por funcionárias da UPA que não existem leitos disponíveis em hospitais de campanha no momento, e que Francisco teria que aguardar para ser transferido. 

“Ele ainda está respirando, pode ficar num leito e se recuperar. Parece que aqui só sai quando está morrendo, pra entubar. Ontem saiu um monte de gente morta. Eu não sei mais o que fazer”, diz a costureira. 

Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informa que as seis Unidades de Pronto Atendimento municipais possuem leitos de observação equipados para atender pacientes, suspeitos ou confirmados com a Covid-19, com perfil de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde os casos mais graves são intubados para respiração através de ventilação mecânica. 

“Os pacientes com indicação para internação em UTI são regulados por meio da Central de Regulação de Leitos do Município para hospitais de alta complexidade, que são referência para o atendimento de pacientes com casos mais graves da Covid-19, como o Instituto Doutor José Frota (IJF2) e o Hospital de Campanha instalado no estádio Presidente Vargas”, diz a pasta. “Ressaltamos que a transferência dos pacientes de uma unidade básica de saúde para um leito de UTI depende do quadro clínico do paciente, como sua estabilidade para o translado”. 

Testagem

Outros relatos apontam para a falta de médicos suficientes para dar conta do atendimento na unidade do Jangurussu. No caso da professora Maria Damasceno, 56, a visita à unidade foi motivada pela tosse e febre que começou a sentir nesta semana. Ela tem lúpus e foi examinada primeiro em um posto de saúde. Lá, foi orientada a passar pelo teste da Covid-19 em uma UPA.

“No Itaperi, pediram que eu viesse para o Jangurussu. Chegando aqui, falaram que só atendem caso grave, porque só tem um médico e ele só atende os pacientes internados. Lá dentro está uma confusão. Não se espero ou se vou embora”, pondera. Pouco tempo depois, Maria ouviu de um funcionário que os testes estavam disponíveis, mas não havia médico disponível para aplicá-lo. A professora teve que voltar para casa. 

Em relação às testagens, a SMS declara que prioriza a realização de testes de Covid-19 em pacientes com síndrome gripal com quadro indicativo para internação. Nos demais casos, é realizado o acompanhamento do paciente conforme critérios clínicos epidemiológicos. “Vale ressaltar que o exame é realizado em todos os profissionais da saúde que apresentem sintomas de síndromes gripais”, acrescenta. A quantidade de médicos na UPA do Jangurussu não foi comentada.