Com avanço da Covid-19, Estado anuncia nova ampliação de leitos e renova decreto de calamidade

Governo do Estado articula, ainda, a chegada de mais vacinas no início da próxima semana

Com 81,17% dos leitos de terapia intensiva (UTIs) destinados a pacientes com Covid-19 ocupados atualmente e os casos e óbitos pela doença aumentando dia após dia, o Governo do Ceará decidiu, na noite dessa terça-feira (2), endurecer medidas de prevenção contra o novo coronavírus. Além da renovação do decreto de calamidade pública por mais seis meses, haverá um aumento da capacidade de assistência dos hospitais públicos a infectados graves. Serão 100 leitos de UTI a mais só no Hospital Leonardo da Vinci, de acordo com o secretário estadual da Saúde, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, dr. Cabeto.

"Acompanhamos as solicitações de internação hora a hora", assegurou o gestor. Segundo ele, em até dois meses, contando com as estruturas disponíveis hoje, o Estado pretende ter, ao todo, 900 leitos exclusivos para tratar infectados graves - 700 só em Fortaleza. "Temos, também, um número aumentado de internações de crianças", alertou, sem detalhar em números a gravidade desse aumento, mas cogitando ter relação com variantes do vírus. "Pode, sim, estar havendo uma mudança no comportamento do vírus e, talvez, na gravidade".

Além de mudanças no horário de funcionamento de serviços não essenciais e incremento no número de leitos ativos de UTI, o governador Camilo Santana (PT) anunciou em transmissão ao vivo na noite de ontem (2) que vai solicitar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) controle do fluxo de passageiros no aeroporto da Capital. "Não temos autonomia pra isso, mas queremos exigir o exame negativo, pra que pessoas que cheguem a Fortaleza não tragam esse vírus de outros locais", disse o governador.

Busca por assistência

Para justificar as medidas, Camilo disse que aumentou significativamente, nos últimos dias, a demanda por assistência de saúde em hospitais públicos e privados do Estado. Conforme a plataforma IntegraSUS, há uma semana, a taxa de ocupação de leitos de UTI no Ceará era de 75,62% e a de leitos de enfermaria era de 51,53%. Ontem, até 19h04, essas taxas eram de 81,17% e 55,84%, respectivamente - com 85 pacientes internados em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).

Para o biólogo e epidemiologista Luciano Pamplona, o que aponta o agravamento da pandemia é justamente o aumento das taxas de ocupação em UTIs. "Hoje, a gente tem muito paciente que está sendo acompanhado na enfermaria por uma precaução, pra evitar que evolua pra gravidade. Então, o aumento de internação em enfermaria não preocupa tanto. Preocupa, sim, a internação em UTI, porque não tem leitos sobrando. E o limite não é só físico, mas, também, de profissionais", compreende o profissional.

Além do Hospital Leonardo da Vinci, devem receber incremento de leitos de UTI e de equipes médicas, segundo Camilo, as unidades 1 e 2 do Instituto Dr. José Frota (IJF), o Hospital da Mulher e as unidades de campanha do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), do Hospital Geral Dr. César Cals e do Hospital do Coração.

Vacina

Diante da possibilidade de uma explosão de casos e óbitos no Ceará, o Governo tem tentado conseguir mais doses dos imunizantes autorizados pela Anvisa até o momento.

"Nós temos a perspectiva mais próxima de (mais doses da) CoronaVac", adiantou dr. Cabeto. Segundo ele, a expectativa é de ter um posicionamento do Ministério da Saúde e do Instituto Butantan - um dos desenvolvedores da vacina - sobre quantidades até o início da próxima semana. "Não temos, ainda, previsão para vacinar em massa a população", lamentou Camilo.

Garantindo que "o que nós podemos fazer, estamos fazendo", o prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), presente à transmissão, pediu que pessoas que chegarem à Capital, vindas de outras cidades, façam testes para detecção da Covid-19. "E, se tiverem algum sintoma, não venham", reforçou o gestor municipal.

Sarto também recomendou evitar viajar de Fortaleza para o Interior, para embarreirar a disseminação das novas cepas do vírus que podem já estar circulando aqui - o que não foi confirmado pelo secretário estadual da saúde. "Esses dados estão pra estudos", destacou o dr. Cabeto.

A epidemiologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Caroline Gurgel, acredita, por outro lado, que as variantes do vírus já estão se movimentando, e que teriam vindo com os pacientes transferidos de Manaus para o Estado em janeiro. "Do ponto de vista de saúde pública, de virologia, epidemiologia, você não recebe uma nova variante de um vírus em que você mal sabe como tratar o paciente", criticou.

A especialista também criticou a demora do governo em tomar atitudes mais rígidas no controle da pandemia. "Tomaram tarde. O pessoal viu o que estava acontecendo novamente com Manaus e não fez nada. Ficou esperando, postergando". Além disso, ela acredita que o endurecimento das regras sanitárias é prenúncio de medidas ainda mais rígidas. "Isso é um ensaio pra um lockdown. Dependendo da quantidade de casos de internação e de óbitos, acredito que a gente vá vir a ter (outro) daqui pro fim de fevereiro".

Jovens como vetores

Segundo as autoridades sanitárias, jovens são os principais vetores do novo coronavírus atualmente. Isso porque estão se aglomerando mais e afrouxando medidas de proteção individual como o uso da máscara e de álcool em gel. "70% dos infectados são jovens. São essas pessoas que estão nas grandes aglomerações. Isso levanta não só o pensamento de que a cepa (do vírus) pode ser diferente, mas, também, o comportamento das pessoas no ambiente social", analisa dr. Cabeto.

Por isso, para o epidemiologista Luciano Pamplona, se fazem necessárias restrições específicas para o Carnaval. "O que a gente está vivendo agora é reflexo de três momentos: eleição (de 2020), Natal e Réveillon. Por isso, a preocupação é grande com o Carnaval, que é mais ou menos a mesma situação: aglomeração envolvendo comida e bebida, sem máscara".