Cearenses relatam dificuldades após suspensão de voos entre Brasil e Portugal

Cenário de crise causada pela Covid-19 no país europeu também foi relatado pelos viajantes

De passagem comprada para voltar à Fortaleza de forma definitiva, o estudante cearense André Luís Schimmelpfeng Chaves teve os planos frustrados com a suspensão dos voos entre Portugal e Brasil, medida anunciada nesta quarta-feira (27) para conter o avanço das infecções por coronavírus no país europeu. A situação vivenciada por André não é isolada e reflete o ambiente de preocupação, diante da alta de casos do novo coronavírus no mundo.

André Luís mora em Varsóvia, capital da Polônia, e comprou assentos em um voo direto entre Lisboa e Fortaleza para o dia 5 de fevereiro, mas já foi informado do cancelamento da viagem. “Ontem chegou essa notícia, essa bomba. Já estava tudo preparado, apartamento pra ser entregue daqui a dois dias, tudo empacotado”, relata André. O jovem está no fim do curso de Relações Internacionais e Estudos Europeus e decidiu voltar ao Ceará, já que o último semestre será feito por meio de aulas remotas.

Mesmo com a permissão de voos de repatriação entre Portugal e Brasil, exceção à regra da suspensão, André não poderia embarcar, pois volta ao país com sua namorada, Paulina Zborowska, que é polonesa. Ela trabalhará como correspondente de uma TV da Polônia no Brasil. Além disso, o casal transporta a cachorrinha de estimação na viagem. “Nem toda companhia aérea aceita”, diz.

Encontro adiado

André tinha pretensão de passar quatro dias na casa do irmão, que mora em Portugal. Desde o fim de fevereiro de 2020 os dois não conseguem se encontrar devido às restrições distintas de cada país que residem. “Não sei nem quando é que vai ser possível a gente se encontrar. Se eu conseguir ir pro Brasil agora, provavelmente mais seis meses aí, no mínimo”, lamenta André.

Agora, o cearense procura alternativas para voltar ao país natal. Já que não tem mais como permanecer na Polônia, André estuda a possibilidade de entrar no Brasil a partir de outro país, como a França. “O problema é que vários países, como os EUA e Itália, estão cancelando voos para o Brasil. Então tenho receio de comprar as passagens e a França também cancelar voos ao Brasil”.

Preocupação

Raquel Nogueira Nonato, 35, passou por obstáculos para voltar de Portugal ao Brasil em 2020. Em maio do ano passado, a cearense passou 30 horas em um avião que fez conexões em diversos países até chegar em Fortaleza. Planejando voltar a Portugal para finalizar o seu mestrado em Direito das Empresas e do Trabalho, Raquel comprou passagens para o início de janeiro de 2021 com antecedência, com o intuito de não passar por mais problemas.

Apesar de ter residência comprovada em Portugal e ter acesso garantido ao país, a professora está receosa sobre sua volta com o novo cenário de agravamento da pandemia, que impõe restrições mais rígidas a voos. A companhia aérea responsável pelo voo já havia remarcado sua viagem, agora prevista apenas para abril, antes mesmo da suspensão de voos válida a partir desta sexta-feira (29).

“Vai ter um momento que eu vou ter que voltar para Portugal. Porque eu tenho que defender a minha dissertação, em maio. Não sei como vai ficar essa situação”. Raquel e o marido, Elton Wagner, ainda temem mais problemas com as companhias aéreas, como aumento de taxas ou cobranças indevidas.


 
Cenário de crise

Há duas semanas em Portugal, a jornalista Juliana Diógenes precisou fazer o exame RT-PCR em Madrid, na Espanha, onde fez uma conexão, para conseguir desembarcar em Porto, o destino final, nas 72 horas seguintes. “A gente achou que não ia dar certo, que em algum momento ia ter fechamento de aeroporto, porque Madri tinha enfrentado uma crise de muita neve, os aeroportos fecharam, mas deu tudo certo, nós conseguimos chegar”, conta.

A jornalista viajou a Portugal com a pretensão de morar e cursar um mestrado integrado de psicologia. “Desde o ano passado, só estão permitindo a entrada de pessoas em Portugal com alguns vistos, entre eles, o de estudo. Algumas restrições já existiam”.

Com os dias de vivência em Portugal, Juliana relata que a situação de Covid-19 no país “está bem grave” e considera que alguns moradores da região já estão "impacientes com as restrições”. “Os números máximos de morte estão sendo batidos todos os dias, são recordes. Alguns pacientes estão sendo transferidos para outros países, inclusive. Escolas fechadas, sem previsão de reabertura, só está funcionando mercado, farmácia, clínica. As pessoas realmente estão sendo orientadas a ficar em casa”, detalha.

“A gente recebeu essa notícia de restrição dos voos tanto do Brasil quanto para o Brasil aqui em Portugal com muita normalidade. A gente já esperava que isso ia acontecer, porque realmente a situação no Brasil e aqui não está fácil, mas uma das tentativas é tentar barrar a circulação desse vírus. Então, a gente se preocupa com as pessoas que estavam de férias no Brasil e precisam voltar para Portugal. Realmente, é uma situação que não é legal, não é fácil, mas infelizmente acreditamos que seja um mal necessário para esse momento. E que em breve a gente possa ser vacinado e tudo possa ser resolvido o mais rápido possível”, conclui.