Os caminhos que levaram o Ceará ao pentacampeonato

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O Diário do Nordeste mostra os passos seguidos pelo Ceará para ver o penta de 1915 a 1919 reconhecido oficialmente

Até o reconhecimento por parte da Federação Cearense de Futebol (FCF) — no dia 17 de dezembro último, atendendo decisão do Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol (TJDF) — do pentacampeonato conquistado pelo Ceará Sporting nos anos de 1915, 1916, 1917, 1918 e 1919, várias etapas foram superadas pelos alvinegros. O Diário do Nordeste reconstituiu essa epopéia e depois de observar os autos do processo, apresenta alguns documentos que foram decisivos para a consumação do maior anseio da torcida do Ceará.

O início da pesquisa em busca de documentos oficiais foi há quase treze anos, na gestão do ex-presidente Emanuel Gurgel. Na ocasião, ele delegou ao advogado Clarke Leitão a tarefa de procurar elementos que comprovassem o penta.

O início de tudo

O Conselheiro Luiz Queiroz Campos resolveu formar uma grupo para iniciar uma ampla pesquisa. O objetivo era comprovar a história narrada no Livro ‘‘A Verdadeira História do Futebol Cearense’’, do autor Frederico Maia, escrito em 1955 e em várias outras publicações.

O primeiro passo foi ir à Biblioteca Pública Moisés Pimentel. Lá, foram encontrados exemplares raríssimos, do jornal Diário do Estado, pertencente ao Partido Conservador Cearense e que circulou nas o primeiras décadas do século passado. Nas empoeiradas edições, fatos como a criação da Liga Metropolitana Cearense de Futebol (LCMF), que realizou as cinco competições, foram comprovados — ver matéria sobre o assunto abaixo.

Em seguida, era preciso conseguir documentos alusivos à LMCF. Numa primeira investida no Arquivo Público, não se encontrou nenhum documento. Segundo Luiz Campos, a constatação não desestimulou o grupo. Por ironia do destino, os alvinegros encontraram ´a luz no fim do túnel´ numa publicação de 1970 do seu maior rival, o Fortaleza.

Era uma revista que se chamava ‘‘Leão 70’’ e foi escrita na época por tricolores históricos como José Raimundo Costa, Blanchard Girão e Alfredo Sampaio, dentre outros. Nela, uma matéria causaria uma reviravolta no caso.

´Golpe de Estado´

Intitulada ‘‘Golpe de Estado’’, a reportagem conta que, a Associação Desportiva Cearense (ADC), cuja data de fundação conhecida por todos até então era 1920, não ocorreu de direito, apenas de fato. Alguns dissidentes da diretoria da ADC de posse da informação ‘‘bombástica’’, foram as cartório Pergentino Maia e registraram a entidade, dando-lhe, enfim, personalidade jurídica. Imediatamente após isso, procederam a filiação junto à Confederação Brasileira de Desportos (CBD), hoje, CBF. Diante dessa descoberta, ficava claro que nem a LMCF, nem a ADC, até 1935, tinham personalidade jurídica.

Arquivo Público

Os pesquisadores mais uma vez retornam ao Arquivo Público e comprovaram o que dizia a revista Leão 70. A instituição fornece uma certidão negativa, afirmando que ‘‘o primeiro registro da ADC foi lavrado no livro 2, às folhas 66 a 77, número de ordem 136, em 29 de janeiro de 1936, no Cartório do 3º Ofício de Notas Pergentino Maia’’. O Diário do Nordeste, num furo jornalístico, publicou matéria a respeito do assunto, inclusive com a íntegra do documento, na edição de 16 de outubro de 2005.

Quatro dias depois, o assessor jurídico da FCF e atual vice-presidente, Mauro Carmélio, em entrevista à nossa reportagem, admite que a ADC só foi registrada em 1936. Na ocasião, o advogado do Ceará, Clarke Leitão, dizia que ‘‘o assunto estava sacramentado’’.

Para Clarke, ou a FCF reconheceria os títulos a partir de 1915 ou teria que fazê-los somente de 1936 para cá. ‘‘Pela pesquisa, constatamos que em todos os outros estados funcionavam ligas chamadas de metropolitanas, embora patrocinasse os certames estaduais. Aqui foi a mesma coisa’’.

HEGEMONIA

39 títulos oficiais de campeão cearense passou a ter o Ceará após o reconhecimento do pentacampeonato conquistado de 1915 a 1919

PROTAGONISTAS
Vários personagens participaram do caso

Emanuel Gurgel
Foi o presidente do Ceará em 1995, período no qual atribuiu a tarefa ao advogado Clarke Leitão de buscar as provas sobre o penta do Vovô para, depois, levar o caso à Justiça Desportiva e Comum, se preciso fosse

Clarke Leitão
Foi o primeiro advogado do Alvinegro a tratar do assunto, há 13 anos, e o único a permanecer no caso até o seu desfecho. Independentemente da diretoria que comandava o clube, nunca deixou o assunto morrer

Emerson Damasceno
Não ficou tanto tempo à frente do Departamento Jurídico do Vovô, mas teve participação importante: foi ele quem trouxe do Rio de Janeiro a jurisprudência do caso Botafogo, que teve o título de 1907 reconhecido

Gonçalves Feitosa
Como diretor jurídico do Ceará, juntamente com Clarke, deu entrada no dia 13 de outubro de 2005 no pedido de reconhecimento do penta junto à FCF, que só veio atender após determinação judicial do TJDF

Irazer Gadelha
Após salvar o Ceará, juntamente com Clarke, do rebaixamento para a Série C no ´caso Preto´, foi importante em várias fases do processo. Mesmo convalescendo de doença, foi ao TJDF defender o Ceará

Haroldo Martins
É o mais novo desse grupo, embora seja o atual diretor jurídico do Ceará. Em 11/12/07, mesmo sem apoio dos dirigentes de então, protocolou no TJDF a ação declaratória do penta, que foi acatada em 10/12/08