Melhor do mundo no futsal, Amandinha ressalta força feminina no esporte; veja entrevista

Atleta cearense concedeu entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste neste Dia da Mulher

Legenda: Cearense foi eleita melhor do mundo de futsal nos últimos sete anos
Foto: Foto: Natinho Rodrigues / SVM

Um reinado sem fim. A dinastia cearense de Amandinha no futsal completou sete anos consecutivos em 2021, todos eleita a melhor atleta da modalidade no mundo. E o nome chega no diminutivo mesmo, os 1,58m de altura também. A grandeza fica guardada na simplicidade, no talento e nas raízes sempre evidenciadas de Fortaleza. 

Neste 8 de março, o Dia da Mulher, o Diário do Nordeste conversou com a estrela brasileira sobre o futuro e os desafios ainda reservados para quem soma apenas 27 de idade.

O papel feminino em amplitude, nunca dissociado. A ala tornou-se um mártire de representatividade, faz parte do esporte. O respeito e a igualdade, esses são elementos de uma partida histórica em andamento com pequenos triunfos no caminho, como o sonho de Amandinha.

Confira a entrevista completa

Amandinha é a principal estrela da Seleção Brasileira de futsal
Legenda: Amandinha é a principal estrela da Seleção Brasileira de futsal
Foto: divulgação

Na sua carreira, teve alguma mulher que te inspirou no lado esportivo?

"O meu ídolo no futsal sempre foi o Falcão, mas eu sempre assisti as mulheres, o futebol feminino, a Seleção, o basquete, então assisto todo esporte desde criança. No futebol feminino (os ídolos) são Marta, Cristiane e Formiga, que encabeçaram essa causa feminina e não tem como não admirar a história delas, a luta. São mulheres empoderadas e que inspiram muito a gente na busca por reconhecimento, para querer sempre mais para as futuras gerações”.

Você também se considera uma inspiração para a nova geração? É um objetivo?

Eu acho que essa é uma motivação diária. Todo dia a gente acorda para treinar, coloca o corpo no limite, sempre buscando dar o melhor para realizar os nossos sonhos, desejos, e o que faz o nosso coração feliz, acima de tudo, é inspirar. À medida que a carreira vai crescendo, percebi como eu estava motivando e inspirando pessoas, e vi que eu gostava. Com tanta gente que se inspira em mim, eu levanto com mais gás de querer ser, não um exemplo, mas uma inspiração. De saber da minha história que em nenhum momento eu desisti na dificuldade ou deixei alguém atrapalhar meus sonhos, e cheguei aqui enfrentando tudo isso. Para todo mundo que me admira, eles também me fizeram melhor”.

Legenda: Falcão e Amandinha são considerados os melhores atletas de futsal de todos os tempos
Foto: Foto: divulgação / Penalty

Como observa o cenário atual do esporte feminino?

“O que me deixa contente e que me motiva é que cada vez mais as mulheres estão se unindo, isso faz toda a diferença, a gente se fortifica. Todas as vezes que uma sofre com preconceito, as outras estão lá para proteger e mostrar que aquela pessoa que sofreu não está sozinha. Mostramos cada vez mais coragem, que estão conquistando o seu espaço, seja no esporte ou qualquer outra profissão. Cada vez mais mulheres têm voz, antes tinha uma na política, agora são inúmeras. Buscamos o nosso espaço e conquistamos, isso é fruto da nossa união. Merecemos ter chance de lutar pelos nossos sonhos, pelo que a gente almeja. Se tem sonho de ser um jogador, se dedique porque vai acontecer, a vida está aí para a gente aproveitar e correr atrás do que amamos, não é algo imposto pela sociedade que vai esmorecer isso dentro do nosso coração. Imagina você viver anos e décadas tristes porque não conseguiu fazer o que sonha? Tenho 11 anos de profissão no futsal e vejo o crescimento da modalidade dia a dia. Isso se deve pelo posicionamento das mulheres, coragem de mostrar o seu valor”.

Você foi convidada para participar pela primeira vez do evento Reis e Rainhas do Drible, que reúne estrelas de diversas modalidades. Como recebe essa notícia?

“Fiquei deslumbrada e bastante ansiosa, muito feliz pela oportunidade. A ficha caiu no dia, quando me vi naquele momento representando tantas mulheres juntamente da Natália (Futevôlei) e da Raquel (Freestyle). Foi muito bacana, era quebra de tabu, só o coração para sentir o sentimento, a sensação de fazer parte daquele momento. Estava ao lado do meu ídolo máximo (Falcão), esportivas que estão lutando diariamente pelo seu espaço. Em todas as entrevistas que dei, falei que naquele momento não era a Amandinha ali, era uma nação feminina, uma conquista. Através da gente, mais mulheres terão oportunidade de mostrar que são dribladoras, tem técnica incrível, fazem gol e tem qualidade suficiente para mostrar no Brasil e no mundo que lugar de mulher é onde ela quiser”.

Amandinha foi multicampeã da modalidade pelo Leoas da Serra, clube de Santa Catarina
Legenda: Amandinha foi multicampeã da modalidade pelo Leoas da Serra, clube de Santa Catarina
Foto: divulgação

Amandinha, você conquistou todos os títulos possíveis no futsal. Tem algo mais para buscar?

“O atleta é motivado por desafios e todos os dias o futsal nos dá um obstáculo novo. Seja financeira, se vai ou não ter competição, se vai ter transmissão. E vamos atrás de quebrar essas barreiras, se não vai ter a gente luta para ter, se não vai ter Seleção… Isso não é da Amandinha, mas de todos os amantes do futsal feminino. Além disso, da luta diária pelo crescimento, quero sempre mais, estar no topo, ser lembrada. A minha história tem um grande feito no esporte, a Amandinha não será esquecida, mas a cada dia a gente pode crescer e inspirar mais pessoas, conquistar troféus e mostrar que com a nossa dedicação a gente consegue chegar onde quer e ser feliz”.

Em 2021 teremos a disputa dos Jogos Olímpicos de Tóquio, mais uma vez sem a presença do futsal como modalidade. Essa competição ainda é um sonho para você?

“Eu sonhava, queria muito participar de um ciclo olímpico, mas entendo a parte burocrática,  o Falcão sempre me deu exemplo. O fato de ser um esporte FIFA e o Mundial ser no mesmo ano das Olimpíadas, isso a FIFA não abre mão, acredita que Olimpíada tira a Copa do Mundo, algo político. A gente espera que, se um dia o futsal for olímpico, todos os atletas se preparem para sentir aquela emoção nas Olímpiadas. Eu sei que seria uma conquista para o futsal, um grande feito, mas eu não sonho tanto com isso como sonho como a Copa do Mundo feminina ser organizada pela FIFA, como é com o masculino. Eu queria que realizassem também isso, é um sonho”.

Amandinha tem 27 anos e busca se manter no topo do futsal mundial
Legenda: Amandinha tem 27 anos e busca se manter no topo do futsal mundial
Foto: divulgação

Durante a pandemia de Covid-19, muitos eventos esportivos foram suspensos ou cancelados. Como a Amandinha encara esse cenário de incertezas também no futsal?

"Pelo fato de conhecer toda a galera do futsal feminino, eu sei que independe de incerteza, porque o nosso esporte esporte gira em torno de incerteza, a entrega diária é a mesma, seja treinando em casa,  ginásio ou academia. Seja com competição em uma semana ou um ano. A gente luta pelo pão  de cada dia, isso é o que mais abrilhanta, ter tanta gente apaixonada se entregando tanto. Se estou aqui sempre colocando minha cara a tapa, brigando pela modalidade é porque sei que a nossa entrega é máxima, e elas merecem todo o reconhecimento por tudo que fazem”.

No cenário esportivo, o Ceará revelou diversos atletas. Muitos até estarão nas Olimpíadas como a Silva Lima, no surfe, e a Vittória Lopes, no triatlo. E a maioria precisa se desenvolver fora do Estado. Por que isso é preciso?

“É nítido como eu, no futsal, e muitos esportistas cearenses tiveram de sair para conseguir algo a mais. Temos Manoel Tobias, Valdin e outros grandes craques do futsal mausclino mesmo, com história na Seleção, e que infelizmente não puderam viver a carreira deles no Ceará. Aqui, conheço muitas jogadoras que tiveram de jogar fora, vir ao Sul, para ter uma visibilidade maior, vida melhor, então por que temos que sair? Pergunto por que não temos total apoio da cidade, para deixar esses craques maravilhosos, atletas olímpicos aqui? São cearenses e nem sempre conseguem ter o apoio necessário para valer toda a entrega. Eu não sei explicar o porquê  de não conseguir  ficar no Ceará, mas a saída ocorre para a gente ter algo mais na carreira”.


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