Maya Gabeira fala sobre surfar a maior onda do mundo: 'Só sabia que não podia cair de jeito nenhum'

Após estabelecer o novo recorde mundial de surfe em ondas gigantes, entre homens e mulheres, oficializado nessa semana, a surfista brasileira fala o que a marca representou para ela e para as novas gerações das ondas

Legenda: Maya Gabeira fala sobre recorde mundial e a sensação de ser exemplo a ser seguido
Foto: Ricky Nomad

Quando o alemão Sebastian Steudtner puxou Maya Gabeira para a onda, os dois sabiam do enorme potencial, mas não imaginavam que seria o novo recorde mundial de uma onda surfada por mulher: 22,4 metros (73,5 pés). "Treino com ele há anos e é uma pessoa que acredita em mim", disse Maya, ainda eufórica por colocar seu nome mais uma vez no Guinness, o livro dos recordes.

A façanha ocorreu na praia do Norte, em Nazaré, Portugal, durante a disputa do Nazaré Tow Surfing Challenge, em 11 de fevereiro. O recorde foi homologado nessa semana e ela se juntou a Rodrigo Koxa, outro brasileiro, que detém a melhor marca masculina, com 24,38 metros (80 pés), obtida em 2017.

A conquista de Maya se torna ainda maior porque foi no mesmo local, em 2013, que ela quase morreu afogada após cair de onda semelhante. De Portugal, onde vive, Maya falou sobre a nova marca e o legado que deixa para as mulheres no esporte.

Você está com 33 anos e já tinha decidido se arriscar menos nas ondas gigantes. Esse recorde chega num momento inusitado?

Para ser sincera, não era um plano. Quando anunciaram a competição, isso virou meu grande foco, por ser o 1º evento profissional. E eu seria a 1ª mulher fazendo dupla com homem, com o Sebastian.

O fato de ter sido em Nazaré, onde você quase morreu surfando, te traz lembranças importantes?

Eu moro aqui há muitos anos. Tem que ser aqui, não dá para ter um recorde mundial fora, pois formam as maiores ondas do mundo. Minha relação com Nazaré começou turbulenta, tensa. Mas sempre tive visão de que esse lugar seria importante para o esporte.

Você vem quebrando muitas barreiras no surfe, por estar em um esporte predominantemente masculino. Foi muito difícil abrir essas portas?

Sempre é. Ser minoria é uma dificuldade, e demora até estabelecer nosso espaço. Mas também tem o lado bom disso, pois tive menos competição, menos adversárias para batalhar meus recordes (risos). Mas conseguimos a criação das categorias, do recorde feminino, de ter respeito da comunidade.

Acha que deixa um legado para as novas gerações de mulheres no surfe?

Sim, e acho isso maravilhoso. O que mais me motiva quando penso nesse feito é que todas as mulheres podem olhar e se sentir representadas num espaço que não é fácil. Uma mulher surfou a maior onda da temporada. É poderoso o que aconteceu este ano: uma mulher com performance alta numa modalidade dominada por homens. Ainda tem um próximo objetivo, que é estimular mais mulheres a pilotar o jet ski nessas condições.


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