Liberação de futebol no RJ pega times da Série A de surpresa; Corinthians ameaça não jogar

Presidente do Timão, Andrés Sanches, disse que time não entraria em campo

Legenda: Maracanã é o estádio que o Flamengo manda os jogos
Foto: Mauro Pimentel/AFP

O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), anunciou na sexta-feira (18) o retorno do público aos estádios de futebol na cidade no próximo dia 4, com a partida entre Flamengo e Athletico-PR -marcada para o Maracanã.

No entanto, tal discurso do político não basta para que a ideia seja colocada em prática. Restam conversas, reuniões entre diversos órgãos e uma série de ajustes em regras vigentes para que o torcedor, enfim, retome seu lugar nas arquibancadas.

O comunicado de Crivella, inclusive, surpreendeu participantes de reunião no mesmo dia na qual a pauta foi debatida. Após o encontro, uma nova rodada de conversas foi marcada para a próxima semana.

Como a CBF não verbalizou tal pensamento, muitos clubes mostraram descontentamento com a possibilidade de um retorno precoce na data anunciada por Crivella. Na visão de times como Corinthians, Palmeiras, Atlético-MG e Grêmio, seria inadmissível ter o retorno do público em apenas uma unidade da federação envolvida no Brasileiro, quebrando a isonomia da disputa.

O presidente do Corinthians, Andrés Sanches, foi enfático: "O Corinthians só aceita a volta do público aos estádios se todos os times da Série A tiverem a mesma oportunidade, independente do estado ou cidade. Se não forem as mesmas condições pra todos não entraremos em campo", disse no Twitter.

Ao menos dois dirigentes da alta cúpula da CBF asseguraram à reportagem que não trabalham com a ideia de retomada em um estado enquanto outros ainda não tenham garantias do poder público para tal. Até por isso responsáveis pelo torneio na confederação não consideram a presença de público já em Flamengo x Athletico-PR uma opção razoável.

Diante disso, a aposta de envolvidos é de que a espera do torcedor supere as duas semanas -ideia inicial de prefeitura e federação do Rio.

Além da possível quebra da isonomia, outro fato incomodou os clubes que questionam as conversas aceleradas na capital fluminense. Para muitos deles, o Flamengo rompeu um acordo feito no início do Brasileiro. Em conversas e reuniões virtuais, dirigentes dos 20 times da série A planejavam solicitar um debate para que o público retornasse aos estádios em novembro, na virada do primeiro para o segundo turno.

Mesmo com as discordâncias e a cautela da CBF no momento, as partes envolvidas acreditam em um retorno em breve. A expectativa geral é de público nos estádios ainda em 2020.

Não bastam, no entanto, palavras do prefeito Marcelo Crivella. Faltam acordos e entendimentos em todas as cidades que usualmente recebem jogos do Brasileiro -São Paulo, Santos, Bragança Paulista, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Salvador, Goiânia, Recife e Fortaleza.

Próximos passos no RJ

A ideia é incluir agora, além da Secretaria Municipal de Saúde e da Vigilância Sanitária, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, empresas que administram as linhas de trens e ônibus e responsáveis por toda a logística envolvida em uma partida. Somente, então, Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) e clubes envolvidos na ideia finalizarão o protocolo idealizado para o retorno.

Tal protocolo será submetido à CBF. Ainda oficialmente calada, a confederação aguarda uma posição do Ministério da Saúde após enviar uma proposta de retorno gradual do público aos estádios antes de se movimentar no assunto.

Bem como no documento enviado à Brasília, a entidade mostra cautela e não acredita em um retorno já no início do próximo mês, com o jogo do Flamengo no Maracanã. Na visão de dirigentes da entidade, seria necessário ao menos mais um mês de debates e acordos com os poderes públicos de todos os estados envolvidos no Campeonato Brasileiro até que a ideia fosse executada.

Com o aval do Ministério da Saúde em mãos, a confederação conversará com clubes para alterar a regra número um da diretriz técnico do Brasileiro, o documento que rege o torneio. "As medidas aqui estabelecidas levam em consideração que a retomada do futebol se dará sem público. Qualquer alteração nesse quadro será devidamente comunicada e este documento será ajustado se necessário for."

É justamente a partir desse documento que se sustenta o argumento da CBF diante do comunicado de Crivella, segundo apurou a reportagem. A entidade defende que qualquer decisão relacionada ao seu campeonato precisa respeitar a diretriz em vigor -ou posterior alteração, cenário condicionado a conversas com clubes.