Juninho Quixadá fala sobre 'lesão que nunca teve' e saída do Ceará; confira entrevista completa

Com exclusividade, repórter Denise Santiago ouviu o ex-atleta alvinegro

Legenda: Juninho Quixadá teve bons momentos no Ceará, mas passou maior parte do tempo sem atuar
Foto: JL Rosa

Encerrar uma trajetória no campo não é decisão fácil. O ato de "pendurar as chuteiras", às vezes, pode assustar, principalmente quando o atleta ainda sente que pode contribuir. O corpo, o psicológico, a distância da família. Esses foram alguns pontos que contribuíram para o meia atacante Juninho Quixadá repensar a carreira. A hora de parar não está sendo uma decisão simples, ainda pede uma reflexão.

Juninho Quixadá foi um dos destaques da campanha do Ferroviário no título da Série D, em 2018. No mesmo ano, ele chegou ao Alvinegro em momento delicado da equipe, o rebaixamento parecia ser realidade em 2018. O atleta contribuiu e, sob o comando do técnico Lisca, a equipe deu arrancada. O meia atuou em 14 jogos, marcou dois gols. Mas a boa fase foi interrompida por um problema que passou a ser recorrente: lesão.

Juninho Quixadá comemora o seu último gol vestindo a camisa do Ceará, contra o Atlético/MG, em 2008. Este seria o último jogo antes de uma fase delicada do atleta no clube
Legenda: Juninho Quixadá comemora o seu último gol vestindo a camisa do Ceará, contra o Atlético/MG, em 2018. Este seria o último jogo antes de uma fase delicada do atleta no clube
Foto: JL Rosa

Quixadá saiu do jogo contra o Atlético/MG (2018) sentindo, a princípio não se sabia a gravidade do problema. Dias depois, o meia postou em sua rede social que ficaria de "molho" por cerca de 20 dias. Começavam as dolorosas idas e vindas do departamento médico do Ceará.

Em entrevista exclusiva à repórter Denise Santiago, Quixadá esclareceu sobre algumas dúvidas que perduraram por algum tempo.

As lesões foram os principais problemas?

Eu só tive na verdade uma lesão, não foram lesões. O que atrapalhou foi que eu tive um desequilíbrio que não foi percebido e toda vida que eu começava a ganhar carga, começava a me causar dores, e eu creio que isso também aconteceu com outros atletas lá. Eu nunca tive lesão no quadril. A lesão atrapalha o rendimento físico do atleta, mas se a gente olhar assim, o Ronaldo fenômeno teve uma lesão grave no joelho e voltou. Eu acho que você tem lesão e as lesões são recuperáveis. Você não pode encerrar a carreira por conta de lesão.

Assista aos melhores momentos da entrevista com Quixadá

O que você acha que aconteceu?

Quando falo nessa questão do Ceará, principalmente de lesão eu tenho que tomar muito cuidado para as pessoas lá dentro não pensem que é pessoal. O atleta não pode ter uma lesão e não voltar a jogar. O grande problema foi a maneira como "ela" foi tratada. Quando o protocolo não tá dando certo, o problema é seu? O grande erro, na minha visão, é que alguns profissionais do departamento tratam os casos iguais com todos os atletas. Você não pode ter um problema no braço e no joelho e esse problema ser iguais em todos os atletas. Eu acho que a gente sempre tem que procurar um meio termo, nem todo atleta se adequa ao tratamento, é preciso bom senso.

Ficou alguma mágoa da sua parte?

Eu sempre fui um cara que questionei muito as coisas consideradas erradas ao meu ver. Por exemplo, se você vier a mim “querendo me bater” a gente vai resolver ali. Agora se você fala mentiras ao meu respeito, isso me machuca muito mais. Eu cometo injustiça? Posso cometer, mas quem me conhece sabe que eu procuro ser a pessoa mais sensata possível. Não aliso muito quando quero falar alguma coisa, por isso eu tive muitos problemas. 

Juninho Quixadá ao lado de Edson Cariús. A dupla foi responsável pela boa fase do Ferroviário na Série D de 2018
Legenda: Juninho Quixadá ao lado de Edson Cariús. A dupla foi responsável pela boa fase do Ferroviário na Série D de 2018
Foto: Kid Júnior

Quando você saía da fase de transição, se sentia pronto para jogar, o que você achava quando não entrava em campo? O corpo ainda “sentia”?

Eu chegava para o técnico e falava assim: eu tô bem! Se você achar que eu posso contribuir, eu estou bem pra jogar. Não sei quem me barrava, por isso que eu até evito falar disso porque, para não causar mal entendimento. Eu não sei o que aconteceu, só sei que vinha decisão em cima de mim. Eu tinha amigos lá dentro que falavam pra mim: “olha você não vai jogar hoje”, eu respondia: é mesmo? E assim ficava.

Se você estava com condições, porque que não aguentava os 90 minutos?

Não é que não aguentava os 90 minutos. Eu conversei sobre isso até com um amigo meu, eu sou um cara muito intenso. Eu faço aquilo que outro jogador faz em um tempo mais reduzido. Por exemplo, tem jogador que corre 12 quilômetros, eu corria 8, 9 em 70 minutos. A minha intensidade era muito alta, por isso que eu me desgastava mais rápido. Eu não tinha aquele negócio de ficar “segurando” a bola, tocando de lado, cada hora que eu pegava a bola, era alguma coisa que eu tentava fazer para ajudar o time. Por isso que quando eu saía, todo mundo percebia que eu tinha saído.

O que aconteceu no Vitória?

Como eu não estava jogando mais, pedi meu contrato, fui embora, não queria estar lá por dinheiro. Não foi nada de lesão, chegou um tempo que eu pensei: O que eu estou fazendo aqui? Longe de casa, chegou o mês de dezembro, mês do meu aniversário, naquele negócio fechado, pensei bem… vou pra casa, vou ficar com minha família. Vou cuidar das minhas coisas, aproveitar esse tempo para colocar a cabeça no lugar, falei com os meus familiares e empresário, tomei a decisão de sair de Salvador e voltar à Fortaleza.

Juninho Quixadá com a camisa do Ludogorets (BUL)
Legenda: Juninho Quixadá com a camisa do Ludogorets (BUL)
Foto: AFP

Você já teve vontade de defender as cores do Fortaleza?

Eu acho que é a mesma opinião que eu tenho sobre o Ceará, eu acho assim o Fortaleza também é um clube, principalmente quem é daqui sonha em jogar, hoje Fortaleza e Ceará estão em um patamar muito alto, espero que mantenham. Eu já tive algumas oportunidades de ir para o Fortaleza que infelizmente não deram certo, mas eu não veria nenhum problema se tivesse acontecido. É um clube grande.

O futebol foi injusto com você, em algumas situações?

Se a gente for falar em questão política, poxa a política foi injusta com as pessoas porque tem gente passando fome. Eu vejo algumas pessoas que fazem a política, que fazem o futebol, tudo é um sistema tem que funcionar daquela maneira e acabam que muita gente prejudica o clube, por ego, por querer fazer aquilo que ele quer. Eu já vi muito treinador que prejudica a equipe porque não gosta de um posicionamento seu e não quer saber se você tá bem. Uma briga de vaidade. E eu me posicionava, por esse motivo eu acho que fui prejudicado.

Você acha que merecia mais oportunidades no Ceará?

Com certeza, o Ceará foi o clube, apesar de ter sido pouco tempo, eu passei por coisas inesquecíveis, o carinho do torcedor comigo é uma coisa incrível. E eu não cheguei ao patamar de ídolo. Eu sou muito grato por isso. O torcedor cheio de informações sobre ao meu respeito, ficou preocupado comigo, muitas mensagens de carinho eu recebia.

Com toda experiência que você teve fora do país, aqui no Estado, já parou pra pensar no hoje? Nos seus 35 anos, com a possibilidade de encerrar a carreira?

Eu sempre pensei na verdade que eu ia parar nessa faixa, de 34...35, eu sempre fui preocupado com família, acho que isso consumiu um pouco de mim. Depois que meu pai faleceu, me fez pensar em muitas coisas, você vai colocando a cabeça no lugar e acaba tirando algumas conclusões que você não pensava antes. Graças a Deus eu cheguei bem, sempre fui um cara que me cuidei.

Sobre as citações em relação ao departamento médico do Ceará, a assessoria de comunicação do Ceará informou que o Centro de Saúde e Performance (CESP) do clube não irá se pronunciar.