De jogador a vice-presidente: Maurício faz trajetória com o Maracanã até a elite

O agora vice-presidente do clube, comemora chegada na Série A do Cearense, espera surpreender na competição e destaca volta por cima no clube após aposentadoria como jogador

Legenda: Maurício (de preto) em momento de oração com o elenco do Maracanã
Foto: Divulgação / Maracanã EC

Chegar em uma primeira divisão de um campeonato estadual não é uma missão fácil para clubes menores e de orçamentos reduzidos. Militar em divisões inferiores é uma realidade enfrentada por muitos clubes menores do Estado do Ceará, mas quando o trabalho encaixa, é possível chegar à gloria de um acesso para a elite e mudar o patamar do clube.

E algumas pessoas acompanham toda a trajetória de luta e de conquistas destas equipes, como foi o caso de Maurício, no Maracanã. Ele é torcedor declarado do clube, foi jogador nas divisões inferiores, conquistou o primeiro acesso do Alviceleste
na Série C de 2007, para a Série A em 2012, mas viveu uma frustração de deixar o Azulão após o rebaixamento em sua única participação na elite em 2013.  Ele encerrou a carreira no ano seguinte, em 2021 voltou como dirigente, como vice-presidente do clube, e conquistou dois acesso, chegando novamente na elite.

"Pra mim é um sonho. Fui nascido e criado em Maracanaú. O Maracanã é o primeiro time profissional do nosso Município. E é um clube que ainda não tem uma tradição na elite do futebol cearense. Por isso é muito gratificante chegar até aqui. Eu fui jogador do Maracanã no primeiro acesso do clube, na Série C em 2007, no título jogando em 2009, com o Ageu do Santos como técnico, mas também na queda do clube na Série A de 2013. E quando aconteceu o rebaixamento, também aconteceu um mudança política no Município e no clube. Eu ainda joguei a 2ª Divisão em 2014, mas deixei o clube em seguida e me aposentei, com 28 anos. Eu decidi que voltaria ao clube como dirigente para gerir o clube da forma correta. Em 2021 voltei ao clube e conquistei dois acessos, para a Série B e Série A do Cearense. Agora é dar sequência e surpreender", explicou ele.

 

Volta por cima e sonho

 

Assim, 7 anos depois, ele voltaria ao clube como dirigente e conseguiu a volta por cima, realizando a mesma trajetória como jogador, saindo da Série C do Cearense para a Série A. Enfim, a realização de um sonho idealizado após pendurar as chuteiras, mas projetando um desfecho bem diferente.

"Participei da trajetória do clube como jogador, e agora teria a chance como vice-presidente e é diferente. É desafiador. Quando voltei em 2021, a Série C de 2022 e Série B do Cearense de 2021 seriam jogadas no mesmo ano. Então, nos planejamos para formar um time forte para conquistarmos os dois acessos.  Em alguns meses conseguimos, com muito trabalho e deu certo. Mas tem muita coisa por vir. E não queremos repetir 2013, queremos que o time permaneça na elite".  

Legenda: A retomada do Maracanã começou em 2021 com o título da Série C do Cearense
Foto: Pedro Chaves / FCF

Maurício quer que o Maracanã faça história no Estadual, garanta sua permanência na elite e chege nas fases finais do Campeonato, enfrentando finalmente Ceará ou Fortaleza. Pelo regulamento, os 3º e 4º colocados da 1ª Fase enfrentam Leão e Vovô, respectivamente.

"Temos 14 jogos na 1ª Fase. Enfrentaremos times de mais tradição que nós. O nosso primeiro objetivo é não cair, e depois conquistarmos algo a mais, como uma vaga na Série D do Brasileiro, quem sabe na Copa do Brasil. Além disso, o Maracanã nunca enfrentou Ceará e Fortaleza profissionalmente. Eu queria realizar também esse sonho. Em 2013 o regulamento era semelhante e não enfrentamos os dois".

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Lição

 

O mandatário acredita que a experiência como jogador em 2013 na Série A do Cearense serve como lição para fazer diferente. Naquele ano, o grupo campeão da Série B foi praticamente desfeito com a premissa de que na elite era preciso um grupo de jogadores novo pra chegar em outro patamar. Deu errado e Maurício era um dos remanescentes do elenco.

"Nosso time que foi campeão em 2013, tínhamos uma base muito boa, mas para as pessoas que dirigiam o clube, o elenco tinha que ser todo desfeito e contratado novos jogadores, de patamar mais elevado para jogar a Série A. Era pra ter sido mantida uma base e o técnico Ageu dos Santos. Já existia um entrosamento e a base foi trocada. Ficaram 3 jogadores: eu, o Geovane e Bengala. Então, a principal lição foi essa, é tanto, que quando subimos da Série C para a B, mostrei a importância de manter uma base, subimos, e mantivemos uma base da Série B para a Série A. E os jogadores aqui no Estado jogam todas as divisões. Apenas Ceará e Fortaleza se diferenciam, os demais clubes tem rotatividade e jogam todas as divisões. Ou seja, a lição foi manter uma base forte e reforçar a equipe pontualmente".

 

Para surpreender

 

Seguindo esta filosofia, oito atletas tiveram seus contratos renovados: os zagueiros Nanin e Ciro Sena, os volantes Dedê e Dindê, o lateral-esquerdo Francisco Fábio, o goleiro Luís Carlos, e os atacantes Douguinha e Índio.

Legenda: Para a disputa na elite do futebol cearense em 2022, o Maracanã manteve a base campeã da Série B
Foto: Pedro Chaves / FCF

E além das renovações, o Alviceleste contratou outro nove: os atacantes Wesley Pimbinha, Nael, Dudu Itapajé e Brayan, os meio-campistas Juninho Quixadá, Michel e Paulinho, o lateral-esquerdo Elves, e o lateral-direito Gustavo.

"Como já tínhamos uma base, e contratamos jogadores de nível semelhante, para se criar uma competitividade, uma "sombra", para não deixar o nível cair. E contratamos jogadores como Wesley Pimbinha, Nael, Juninho Quixadá, Brayan. Contratamos naqueles setores necessários para reforçar", disse ele.

O Maracanã estreia no Campeonato Cearense de 2022 contra o Atlético Cearense, neste domingo, às 15 horas, no estádio Domingão, em Horizonte (CE).

 

Legado de Ageu

 

O clube manteve o técnico Júnior Cearense pra o comando no estadual e Maurício acredita que o clube possa surpreender com a qualidade do elenco e do treinador. O dirigente vê em Júnior Cearense um estilo semelhante a de Ageu dos Santos, já falecido, e que fez história no Maracanã e em outros clubes do futebol local.

"O Maracanã hoje tem muito do que o Ageu deixou. A forma de trabalhar, de lidar com os jogadores. E o Júnior Cearense tem muito do Ageu, tem ele como referência. E isso pode ajudar muito, pelo estilo de trabalhar. O Júnior vai surpreender com o Maracanã, pois ele os jogadores na mão, fazem os jogadores de doarem por ele. Ele conhece tudo de futebol cearense por ter a carreira quase toda aqui, jogando nos times grandes e nos times do Interior". 

E Maurício conta uma história curiosa com Ageu dos Santos, na conquista do acesso em 2012. Ageu faleceu em 2018 após lutar contra um câncer de próstata, deixando um legado no nosso futebol.

"Estávamos hospedados em Quixadá, na penúltima rodada da Série B de 2012. Se vencessemos o jogo teríamos o acesso garantido. Estavamos vindo de duas derrotas, contra o Sâo Benedito e Uniclinic. Quando foi na entrada do ônibus, o Ageu do Santos nos esperava com uma planta Pião-Roxo, para tirar o mau olhado. Ele pegou o galho dele e todo jogador que passava ele dava uma pisa com esse galho. Quando ele terminou, o Pião muchou. E ele disse que iamos ganhar o jogo e que a mazela toda sairia. Deu certo, vencemos e conseguimos o acesso", lembrou ele.