Com uso de 2,5 toneladas de metais, Casa da Moeda finaliza medalhas do Rio-2016

Cerca de 80 funcionários trabalharam em quatro turnos no último ano para confeccionar o objeto de desejo dos atletas

Duas toneladas e meia de metais e mais de um ano de trabalho depois, praticamente todas as 2.488 medalhas olímpicas e 2.642 paralímpicas que serão entregues aos vencedores dos Jogos Olímpicos do Rio estão prontas. Na última quarta-feira (6), na Casa da Moeda do Brasil, onde são produzidas as medalhas, os 80 funcionários que trabalharam em quatro turnos no último ano para confeccionar o objeto de desejo dos atletas que estarão no Rio-2016 já circulavam pelos prédios com o semblante de dever cumprido.
 
Transformar pedaços brutos de ouro, prata e bronze em medalhas de quase meio quilo cada uma exigiu integração de diversos setores, criatividade e intenso trabalho manual. Mesmo em 2016, na era da automatização, as medalhas dos Jogos do Rio mereceram muito trabalho artesanal. A preocupação era com os detalhes, especialmente para deixar próxima da perfeição a imagem da deusa Nike, figura mitológica que representa a vitória e que, desde os Jogos de Atenas-2004, aparece em uma das faces da medalha olímpica. O molde foi cunhado à mão.
 
Material reciclado
 
Com a matriz pronta, um forno de fundição, máquinas de corte e prensas hidráulicas trataram de dar forma às medalhas. Parte da composição é feita com metal reciclado. “Trinta por cento da medalha de prata são feitos com prata reciclada. Na de bronze, que é uma liga de cobre e zinco, 40% do cobre é oriundo de materiais da própria Casa da Moeda. E 100% do ouro é isento de mercúrio, o que exclui material vindo de garimpos que não atuam sob boas práticas”, explicou Marcos Pereira, superintendente do departamento de Meio Ambiente e Qualidade da Casa da Moeda.
 
Pereira lembrou ainda que a fita utilizada nas medalhas possui 50% de fios PET reciclados, e que os estojos de madeira em que são guardados os prêmios e os certificados entregues aos atletas possuem certificação que garantem a origem ecologicamente correta. “Estamos entregando as medalhas mais sustentáveis da história dos Jogos Olímpicos.”
 
A produção das medalhas olímpicas durou mais de um ano. Cada uma delas leva, em média, 48 horas para ficar pronta. O prazo inclui desde o processo de fundição do material até a aplicação de um verniz quando ela está totalmente pronta - o material garante que as medalhas mantenham a sua característica original, principalmente de cor, durante muitos anos.
 
Inspiração
 
Há 41 anos trabalhando na Casa da Moeda, o escultor Nelson Carneiro se dedicou por quase duas semanas no molde da deusa Nike que originou a matriz das medalhas dos Jogos do Rio. Tudo à mão, sobre uma bancada com uma simplória luminária acima.
 
Formado em escultura e belas artes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carneiro afirma que tentou representar as brasileiras na medalha do Rio-2016. “Não se fala muito das curvas da mulher brasileira? Pois procurei dar leveza e suavidade a elas”, explicou. Para isso, o escultor de 60 anos de idade diz se inspirar nos trabalhos de Rodin, Michelângelo, Donatello e do artista brasileiro Sergio Camargo. “Eu procuro estudar o que eles fizeram, até porque ninguém inventa nada.”
 
Nelson Carneiro trabalha há 13 anos como escultor na Casa da Moeda - antes, passou pelos mais diversos setores da estatal. Ele diz se orgulhar de diversos de seus trabalhos - citou a medalha comemorativa à canonização dos papas João Paulo II e João XXVIII, em 2014 -, mas demonstrou satisfação especial por ter o seu traço na medalha dos Jogos do Rio-2016.
 
“Não imaginava isso. Eu entrei aqui com 18 anos. Se falava muito em quando chegaria os anos 2000, em bug do milênio, não se falava em Olimpíada. Fiz uma série de trabalhos marcantes, como a medalha do papa. O da Olimpíada é algo que vai ficar para sempre”, relatou.