Cearenses superam pandemia e voltam a surfar na pororoca

Na cidade de Arari, no interior de Maranhão, surfistas do Ceará conseguem formar "bolha" de isolamento para manter tradição de encarar ondas de rio

Legenda: Surfistas cearenses enfrentaram a pororoca do rio Mearim, no interior do Maranhão
Foto: SÉRGIO KENUI

O mês era junho. O São João se aproximava e, com ele, o último evento astronômico do semestre, relevante para um surfista de pororoca: um eclipse lunar. Os surfistas George Noronha, Marcelo Bibita e Sérgio Kenui estavam prontos para surfar, mas foi preciso esperar o início da flexibilização do isolamento social imposto ao município de Arari, no Maranhão. O local é o mais próximo do Ceará onde o fenômeno ocorre. Para a alegria dos três, a abertura do comércio e de outras atividades ocorreu bem no dia do eclipse.

Após contato com as Secretarias de Turismo, Saúde e Vigilância Sanitária de Arari, foram realizados testes de Covid-19 na véspera da viagem, além dos protocolos para criar uma bolha de segurança. A ideia era fazer uma surf trip com responsabilidade e segurança.

Como na pororoca, as ondas têm local e hora exata para acontecer, não havia como perder mais tempo. Noronha, Bibita e Kenui percorreram o trecho Fortaleza/Teresina de carro e depois seguiram para o Maranhão. Em Arari, todos precisaram apresentar os resultados dos exames à Vigilância Sanitária antes de encarar a pororoca do Rio Mearim, após mais de três meses de proibição.

Dia a dia

O 1º dia de operação foi o mais tenso para os três. A maré era boa, devido à lua nova. Como de costume, a chegada foi antes do nascer do sol. Devido a toda operação ter relação direta com os movimentos das marés, o 1º dia é sempre o que inicia mais cedo.

E, apesar do tempo usado nos preparativos ainda foi possível surfar um bom trecho no final da sessão conhecida como "Paredão da Morte". O tempo também é uma variável importante e, nesse primeiro "ataque", todos conseguiram alguns minutos de onda. Era preciso manter o foco, pois a pororoca seguia à frente e para surfá-la de novo era preciso ultrapassá-la. De volta ao bote, houve uma nova "caçada". Após quatro horas, todos comemoraram o fenômeno e o surfe na pororoca. No 2º dia de tentativa de surfar na pororoca, os equipamentos estavam testados e prontos para o uso, o que facilitou a vida de todos.

Neste dia, nem todos conseguiram surfar a pororoca como desejavam. Marcelo Bibita e o paraense Gilvandro Júnior, que se integrou ao grupo no Maranhão, conseguiram pegar a onda no momento certo. Mas Sérgio Kenui e George Noronha não tiveram a mesma sorte e tiveram que acompanhar de longe a performance dos companheiros.

O 3º dia também seria o último dia de operação. E na despedida da pororoca, os surfistas foram premiados com a mais longa onda.

Foram quase 20 minutos de onda ininterrupta do momento em que foi avistada até seu fim. Isso sem contar as outras duas sessões de cerca de seis minutos, cada.

Após três dias de intensas atividades, todos decidiram arriscar e tentar pegar a "onda no braço", já que os equipamentos e o jet ski utilizados não estavam mais com eles. O aluguel de tudo era por três dias. Então, se quisessem repetir o feito, precisaria ser sem a mesma estrutura. Assim foi feito e quando a pororoca foi avistada, o guia que os acompanhava indicou o lugar exato para ficar. A onda chegou forte, contudo foi o trecho mais curto de todas as surfadas.

"Surfar a pororoca superou minhas melhores expectativas. Fiquei extasiado com a adrenalina com que tudo acontece, ao mesmo tempo em que me senti seguro por saber que estava perto de algumas das pessoas com mais experiência em pororocas no Brasil e no mundo", comentou Sérgio Kenui, estreante na aventura.

"Esse projeto foi um grande desafio. Eram muitas questões envolvidas: éticas, morais e claro, de saúde, afinal de contas, tenho 56 anos. Surfe e saúde são duas premissas da maior importância na minha vida profissional e acadêmica. E isso criava uma pressão gigante, pois, todos os protocolos teriam de ser seguidos disciplinadamente à risca por todos para que tudo desse certo", finalizou Marcelo Bibita.


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