Ceará se manterá financeiramente por 3 meses na pandemia; Leão tem incertezas

Durante a crise social e econômica que se instaurou por conta do novo coronavírus, Vovô e Leão projetam meses seguintes com dúvidas sobre a saúde financeira de seus times. Patrocinadores querem renegociar valores

Legenda: Marcelo Paz diz que Fortaleza vive momentos de incerteza com crise provocada por coronavírus
Foto: JL Rosa

Na busca pelo equilíbrio financeiro durante a pandemia do novo coronavírus, os caminhos estão se tornando mais complexos para Ceará e Fortaleza. A conta não fecha porque a despesa se mantém, mas as fontes de receita são escassas sem futebol. Com a missão de março concluída, os times trabalham no limite para se sustentar nos próximos meses.

A tarefa é manter o fluxo de caixa apesar da suspensão das atividades. No cálculo, o retrospecto positivo auxilia na formação de uma sobrevida econômica, mas não é suficiente. Assim, as diretorias traçam um plano estratégico para seguir com a instituição funcionando através das receitas fixas dos clubes.

Nos dois casos, os valores envolvem planos de sócio-torcedores, cotas de TV, Timemania e os patrocinadores. À priori, verbas fixas, mas que estão sujeitas à alteração apesar das despesas.

Dentro do paralelo, o presidente alvinegro Robinson de Castro, por exemplo, já cravou em entrevista ao Estado de São Paulo: “Vamos ficar vivos? Vamos. Vamos pagar todos as nossas contas? Não”. O saldo ainda está positivo pelas dívidas trabalhistas quitadas no início da gestão. Com salários em dia, o Vovô se tornou um dos símbolos de gestão responsável e consegue administrar ainda bem longe do vermelho. No entanto, o caixa só se sustenta até junho.

Sentei com o meu financeiro para ajustar o fluxo de caixa que estava fechado para os próximos três meses. A situação é delicada, mas tínhamos receitas programadas para abril, maio, e se for tudo dentro do que está previsto, conseguiremos não ter problemas. Dentro dos ajustes que fizemos, nos próximos três meses, se tivermos a entrada de receitas programada, conseguiremos superar esse momento, e honrar com os compromissos. Claro que os campeonatos precisam voltar, existem contratos, mas se tudo acontecer dentro do que estamos prevendo, dentro de um cenário, vamos conseguir passar sem muito prejuízo”, explica João Paulo, diretor financeiro do clube.

A perspectiva positiva, no entanto, requer uma atenção específica com os patrocínios. Dos que o time havia fechado, a projeção orçamentária mínima era de R$ 9,5 milhões - quase 10% do orçamento de R$ 100 mi previsto pela diretoria, o maior da história do clube.

“Alguns patrocinadores pediram para fazer um acordo e estamos negociando. Não tem nada definido. É natural que todos, nesse momento, pretendam mudar isso. Ninguém pediu cancelamento, querem uma negociação, permutas”, revela.

Na perspectiva de que o futebol seja uma das atividades que possa demorar a retornar, o Ceará trabalha para angariar receita com a venda de materiais. Uma linha de produtos a preço popular teve a coleção aprovada e aguarda o retorno das atividades não essenciais para iniciar a confecção.

Legenda: Robinson de Castro tem sobrevida de 3 meses com o seu Ceará
Foto: Thiago Gadelha

Plano tricolor

Os 90 dias listados, por ora, são mais breves no Fortaleza: o clube ainda avalia o prejuízo mensal e tem saúde financeira para atravessar o mês de abril. Assim como o Ceará, a diretoria leonina conseguiu um acordo de redução salarial com o elenco para auxiliar na manutenção dos empregos dos demais funcionários.

A medida paliativa vem acompanhada de um incremento no sócio-torcedor em 20% durante a paralisação dos jogos de março - ao todo, foram mais 2.937 adeptos.

Mas ainda se faz necessário novas receitas para atravessar o cenário de crise segundo o presidente Marcelo Paz.

Estou trabalhando aqui com a perda mensal entre R$ 3 a 4 milhões. Agora, se entrar no Campeonato Brasileiro e as cotas não forem pagas, porque o Campeonato não começou, aí essa conta aumenta muito. Estou considerando ainda que o campeonato vai acontecer com 38 rodadas. É desejo dos clubes, da CBF e das federações. Mas é muito impactante. A gente está tendo que fazer diversos cortes aqui, engenharia financeira, criatividade, para superar essa crise. Estimando entre 9 e 12 milhões se for no pior dos cenários (por três meses de paralisação)”, reforça.

Além da cota de TV, os patrocinadores estão entre os elementos cruciais para a manutenção do clube. E já há uma preparação para que cortes de verba ocorram nas próximas semanas.

Isso porque a arrecadação mínima estipulada pelo Fortaleza com patrocínio era de R$ 8 milhões - parte considerável no também orçamento recorde do clube: R$ 109 mi. O cálculo envolve ainda cotas de auxílio da Prefeitura de Fortaleza e do Governo do Estado do Ceará, que tinham distribuição de montante estimado em R$ 3,2 mi tanto para o Leão como para o Vovô.

“Não tivemos nenhum pedido oficial (de rescisão). Existe a tendência, é algo natural. Superamos março, estamos em abril e temos projeto para o fim do mês, mas fica a incerteza, é quase certo que vamos renegociar. Tentaremos mantê-los porque, sem jogo, faz parte das receitas garantidas que temos, como o sócio-torcedor”. Todo dia precisamos pensar no que fazer”, aponta Maurício Guimarães, diretor financeiro tricolor.

Nos bastidores, o clube intensificou os cuidados com os serviços de e-commerce e prepara um lançamento para os torcedores. Com a marca própria Leão 1918 consolidada, o objetivo é reverter a venda das lojas físicas fechadas através da internet.