Aline Pellegrino avalia atuações de Ceará e Fortaleza no futebol feminino e faz balanço do Brasil

A ex-atleta visitou a Capital e conheceu as estruturas das principais equipes femininas do Estado

Legenda: Revelada em 1997 pelo São Paulo, Pellegrino defendeu o Brasil até 2013 durante a carreira de atleta profissional
Foto: Lucas Figueiredo / CBF

O ano de 2020 trouxe incertezas ao esporte nacional por conta da pandemia de Covid-19, mas um sonho antigo foi sacramentado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Em setembro, uma mulher assumiu a Coordenação de Competições Femininas da entidade. Aline Pellegrino, ex-atleta da Seleção Brasileira, assumiu a Pasta criada pelo presidente Rogério Caboclo.

A gestora assumiu a missão de supervisionar os torneios da categoria e, nos três últimos meses, traçou análise positiva do Campeonato Brasileiro. “É uma chegada no momento diferente, por questão da pandemia. A Série A1 tinha voltado, a A2 não, tivemos uma preocupação maior, mas com a qualidade das meninas conseguimos, apesar das dificuldades, colocar o futebol feminino em outro patamar. Ano que vem teremos Libertadores, será mais momento de planejamento” concluiu.

Na 2ª divisão nacional, as atletas de Ceará e Fortaleza alcançaram as quartas de final, se aproximando do acesso. Durante visita à Capital, Aline conheceu os respectivos trabalhos e gostou dos resultados apresentados.

“Tenho muita felicidade das minhas idas ao Ceará, as coisas estão bem estruturadas. Tive oportunidade de conhecer Marcelo Paz, presidente do Fortaleza, e os integrantes da comissão técnica do Ceará, que as meninas por pouco não subiram. Elas têm qualidade e estrutura. Muitos clubes devem se espelhar nas equipes cearenses”, finalizou.

A entrevista exclusiva na íntegra é disponibilizada no Podcast ‘Elas no Esporte’, produção do Sistema Verdes Mares entregue nas principais plataformas de produto digital, além do site do Diário do Nordeste. Confira trechos do bate-papo com Alline Pellegrino.

Confira entrevista

DN: No Brasil, existe uma maior tradição nas equipes femininas paulistas, cariocas, mas hoje há também ascensão de outros times. Qual análise que você faz do cenário da modalidade?

Tem muito do eixo Rio-São Paulo, que o crescimento do futebol está nesse lado. Mas tive uma amostra que isso está mudando, o futebol está nivelado no Brasil, além dos times da região Sudeste, temos o crescimento do Nordeste, sem esquecer também da categoria de base. O Sub-16, por exemplo, tivemos destaques no Rio Grande do Sul, Minas e Brasília. Os que estão subindo da Série A2, mais um clube de Santa Catarina, do Distrito Federal, Bahia e Rio de Janeiro. O cenário não está em nichos, é campeonato diverso. Tenho visto bons projetos. Fortaleza e Ceará estão nesses exemplos de evolução.

DN: Ainda há muita dificuldade para captar recursos para o futebol feminino?

Eu acho que é um processo natural, os patrocinadores estão chegando, além dos recursos, todo mundo hoje da cadeia produtiva do futebol feminino, como clubes e federações, fazendo o investimento, faz parte do processo. Para um time ter esse Patrocinador Master, vender os direitos de transmissão, é algo que vai ser natural, até porque estamos melhorando o produto. Vimos o profissionalismo na Série A1, nossa elite do futebol.

DN: Em momento histórico, Seleção Feminina estreia camisa sem estrelas do masculino, uma camisa voltada para a conquista feminina. Como está a sua ansiedade para Olimpíadas de Tóquio?

Tirar as estrelas do escudo para os uniformes femininos foi algo bom, a gente quer conquistar títulos, a nossa corrida começou com a chegada da técnica sueca Pia Sundhage, isso mostra o momento do futebol feminino, um pilar estratégico para a CBF. Muitas ações vêm acontecendo que mostram que estamos caminhando para o desenvolvimento. Estamos no caminho certo, acredito muito no trabalho da Pia. E eu, com a parceria da Duda Luizelli (Coordenadora da Seleção Brasileira Feminina), temos tudo para fortalecer a Seleção.

Legenda: A sueca Pia Sundhage é a técnica da Seleção Brasileira feminina
Foto: CBF

DN: O calendário de 2020 foi impactado devido à pandemia de Covid-19. Como estão os planos para 2021?

A gente conseguiu retornar com a Série A1 (em 2020). Tivemos grandes estádios, o VAR, e tudo isso colocou o futebol brasileiro em novo patamar. Com relação ao ano de 2021, estará mais apertado pelo calendário, são duas Libertadores, mas é ano ainda de manutenção. Plano maior é de 2022. Olhar para o que deu certo e, a partir desse ano, dar uma chacoalhada no futebol.

DN: Quais são as novas medidas planejadas pela CBF para profissionalização do futebol feminino no Brasil?

A questão da licença que traz como um dos critérios ter a equipe feminina adulta e de base foi muito importante. E esse regulamento é todo ano renovado, a Conmebol lançou uma específica para Libertadores. A profissionalização passa pela carteira de trabalho, mas também pela necessidade de atividades diárias profissionais. A tendência é que a cada ano tenha um novo processo.

DN: Qual o sentimento de ocupar o atual cargo?

O avanço é para todos, é a Aline, a Duda, a competição melhora, cresce, chega em mais veículos, tem maior cobertura. O crescimento do futebol feminino no Brasil não passa apenas pela atleta, tem árbitra, técnica, narradora, repórter, e nós temos avançado juntas. Fico feliz, tenho certeza que estamos, sim, no caminho certo.