Vidro, lançado na última quinta (17), divide opiniões da crítica e do público

Longa é o último da trilogia formada por Corpo Fechado e Fragmentado

Escrito por Redação ,

Não é novidade que M.Night Shyamalan é um dos diretores mais controversos do cinema atual. O cineasta indiano é lembrado principalmente pelos plot twists - ora incríveis, ora nem tão bons assim - que insere em suas produções. Foi assim, com o final impensável de Fragmentado (2017) em que ele surpreendeu o público ao revelar uma conexão da trama com o universo de Corpo Fechado (2001), lançado quase duas décadas antes. Em Vidro não foi diferente. O filme que encerra a trilogia tem recebido impressões que vão do êxtase à extrema frustração.

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Enquanto Corpo Fechado direciona todas as atenções para a jornada de David Dunn (Bruce Willis) se descobrindo herói, Fragmentado foca no desenvolvimento do vilão Kevin Crumb (James McAvoy) e suas 24 personalidades. Sabendo disso, o público pipoca espera nada menos do que uma fusão empolgante e esmagadora dos dois mundos, com as intervenções do genial Elijah Price/Mr. Glass, vivido por Samuel L. Jackson. O que chegou aos cinemas, na realidade, foi um Vidro com bem mais contras do que prós.

O lançamento tem um bom 1° ato, que guarda a melhor cena de ação, um embate direto entre David Dunn e a Besta, persona de Kevin que tem traços animalescos e uma força sobrenatural. Já o 2º ato é arrastado, demora a se desenvolver e abre um grande leque de furos. Um deles é o fato de que o imenso centro psiquiátrico em que Kevin, Dunn e Elijah estão internados possui, aparentemente, apenas dois seguranças. O restante dos funcionários aparece somente no fim do filme. Onde eles estavam nesse meio tempo, quando foram necessários, não se sabe.

Outra grande interrogação é o artifício dos refletores de luz, capazes de forçar a troca de personalidade de Kevin sempre que acionados sobre o rosto dele. Um tanto quanto forçado e pouco crível, considerando que em nenhum dos filmes anteriores há indícios de truques que funcionem com tanta precisão. O lado bom desse descuido é assistir a versatilidade e o brilho de James McAvoy ainda mais ressaltados em cena, ao encarnar as diversas personalidades de Kevin, em sequência. Vidro também guarda um defeito que vem dos seus antecessores: explicações tão excessivas que chegam a subestimar quem assiste. Se este é o último filme de uma sequência, o público tem uma bagagem de informações, e é desnecessária tanta exposição de detalhes já conhecidos.

Com um clímax inesperado - como de costume-, o 3º ato pode ser encarado de forma mais negativa, como nesta resenha, mas há quem prefira ver beleza na tentativa de humanizar a figura dos super-heróis. Mesmo cheio de falhas, há de se reconhecer pontos sólidos como o jogo de cores, bem trabalhado desde o primeiro filme da trilogia, e o elenco de peso.

É indiscutível que M.Night Shyamalan merece créditos por ter criado, do zero, um universo complexo que se sustentou durante quase duas décadas, e até um desconto por sempre ter de se provar, a cada trabalho, diante da descrença da crítica.

A Vidro e seu status de "grand finale" de uma trilogia extremamente original, restou a mais alta das expectativas por parte do público. E talvez tenha sido o maior problema.