Unindo pista e religiosidade, MC Tha faz show em abertura a XII Bienal de Dança

A funkeira domina o palco do Órbita Bar, nesta quarta-feira (16), trazendo elementos da Umbanda e da música popular brasileira

Escrito por Redação ,
Legenda: Religiosidade, liberdade sexual e valorização dos sons brasileiros são pautas frequentes da paulistana MC Tha.
Foto: Divulgação

Som oriundo das periferias culturais do País, o funk tem passado por mudanças claras e constantes, amadurecendo e mirando nos mercados internacionais. Fruto desse amadurecimento, MC Tha é um expoente do estilo musical. Mesclando o batidão a outros ritmos brasileiros, além da forte influência da Umbanda, o trabalho da funkeira abre com maestria a programação da XII Bienal Internacional de Dança do Ceará, nesta quarta-feira (16), no Órbita Bar.

Médium de terreiro de Umbanda, a conexão do trabalho de Thaís da Silva com a religião não foi proposital, mas natural. "Meu trabalho com a música sempre foi muito sobre as coisas que sinto, que tenho contato. Então automaticamente esse meu lado foi parar na minha música, nas minhas composições", revela a MC em entrevista exclusiva ao Verso. "A música para mim funciona como um autoconhecimento. Quando conheci o terreiro, eu também me conheci".

Apesar da coragem notável de se posicionar sobre o tema e trazer uma linguagem que desmistifica a vivência em um terreiro, os temas de suas composições vão muito além da religião de matriz africana. Liberdade sexual, empoderamento feminino e valorização dos sons brasileiros são bandeiras que também fazem parte da identidade da cantora.

Carreira

A paulista, que começou sendo a primeira mulher MC de seu bairro, tem ganhado cada vez mais espaço na cena musical após o lançamento do seu primeiro álbum, "Rito de Passá", em junho deste ano. Liderando um movimento de fusão do funk a outros estilos musicais, o disco ousa misturá-lo a ritmos dançantes do Norte e do Nordeste, além de composições que resgatam a religiosidade umbandista, com atabaques e fortes representações de entidades. Na capa, MC Tha é Iansã, Oxirá feminina que, vestida de vermelho, rege o amor.

Com dez faixas, a homenagem à ancestralidade se mostra repaginada com os singles "Pra Você", "Bonde da Pantera" e "Valente", que representam um funk menos convencional e com influências da Música Popular Brasileira de Gal Costa e Maria Bethânia, por exemplo.

Por esses motivos e outros, a MC tem alcançado prestígio de diferentes públicos, principalmente o LGBTQ+. "Comigo Ninguém Pode", "Clima Quente" e "Coração Vagabundo" estão entre outros hits da cantora.

Unindo pista e fé, MC Tha tem conquistado palcos de todas as regiões do País, como nos festivais Coquetel Molotov (PE) e Bananada (GO). Após o show em Fortaleza, as próximas paradas da cantora são o Festival Mada (RN) e o Lollapalooza, evento que acontece em abril de 2020, em São Paulo. Dentre outras atrações nacionais confirmadas estão os funkeiros Ludmilla e Kevin o Chris, e o cantor da nova geração da MPB, Jão.

Nova geração

Mesmo com todo o renome que o funk tem conquistado no mercado internacional, MC Tha diz ainda não estar satisfeita com o cenário. "Acho que ainda falta protagonismo para quem produz diretamente o funk dentro das periferias", lamenta. E complementa: "Não sei se temos muito o que comemorar".

Entretanto, se mostra como força ativa nessa luta em prol da nova geração de artistas, ritmos e experimentações. "Artistas como eu, saindo do nada e conquistando por meio da música, traz esperança. E isso é o que não podemos deixar morrer nesse momento que estamos atravessando".