Um mergulho na Jeri dos bons ventos

Além do atrativo cultural do último Festival Choro Jazz, aproveitamos as belezas de Jericoacoara para aprender parte do universo do kitesurf

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
Legenda: Dias de música e esporte
Foto: Antonio Laudenir

A temporada de férias era perceptível nas movimentadas ruas da Vila de Jericoacoara. Era a primeira semana de dezembro. Roteiro turístico internacional, pedaço de chão generoso pelas belezas naturais e território possível ao encontro de diferentes culturas. Entre os trabalhadores dos restaurantes, hotéis, barracas e outros serviços disponíveis na região, a expectativa em torno da temporada era das melhores.

Sob a proteção do ICMBio, o Parque Nacional (Parna) de Jericoacoara reserva ao visitante toda uma demanda de educação ambiental e turismo ecológico. O potencial turístico é firmado pelas formações rochosas da Pedra Furada e do Serrote. Do campo de dunas, presente em quase toda a extensão do parque, temos o destaque da Duna do Pôr do Sol. O passeio ecológico inclui manguezais e lagoas temporárias. As praias, sejam as mais movimentadas ou isoladas, são propícias à prática de esportes náuticos.

Aliado ao trunfo paisagístico, a minha visita a Jeri ganhava o especial reforço da 10ª edição do Festival Choro Jazz. Marco artístico da cidade, com atuação comprovada na educação musical de crianças e adolescentes, o evento reunia músicos do País inteiro. Topar com algum visitante carregando instrumentos musicais é comum. Nos bares, rodas improvisadas de choro e samba explicam a energia inconfundível daquele espaço.

As apresentações oficiais do festival aconteceram na Praça principal. Na noite de Jeri, nomes como Toninho Horta, Jaques Morelembaum, Samba de Fato, Zé Renato e Arismar do Espírito Santo (uma figura amada pelas crianças que estudam na escola mantida pelo evento) entregaram shows imperdíveis. Para quem pretende investir em futuras visitas, a dica imperdível é arrumar as malas no período do Festival. Uma chance de acompanhar shows gratuitos de grande qualidade e aproveitar pela manhã ou tarde os recursos naturais.

Legenda: Noites com o melhor da música instrumental
Foto: Taina Cavalcante

Uma das primeiras impressões da viagem: você só pode afirmar que vive Jeri quando passa a caminhar pelos becos e ruas de pés descalços. O intuito é desligar a mente e aproveitar o lento correr do dia. Conversar com os moradores e pedir opiniões sobre os serviços é uma das melhores formas de ambientação. Uma dica foi valiosa à estadia. Lígia Aquino deixou Fortaleza e optou por morar em Jericoacoara, onde atua diretamente na área do turismo voltado aos esportes náuticos. Ela apresenta o trabalho da Taruga Kiteboarding School, mantida por Tarciano Ferreira.

Agendamos uma aula experimental para a manhã do sábado (7/12). O intuito é conhecer um pouco da prática do kite e da popularidade inerente ao esporte no Ceará. Destinos como Cumbuco, Aquiraz e, claro, Jericoacoara reúnem cada vez mais diferentes nacionalidades e idiomas. Nessas localidades, o turismo de esportes radicais segue como impulsionador da economia local.

Equilíbrio

Logo no primeiro contato, Tarciano detalha como funciona a organização de instrutores e como a prática é decisiva na boa convivência entre visitantes e o respeito à diversidade ecológica. O instrutor também atua nas ações da Associação Jericoacoara Kitesurf (AJK). Ao todo, são 32 escolas disponíveis ao público. Elas possuem, garante, todo um Sistema de Gestão de Segurança (SGS) que precisa ser elaborado e enviado para análise da gestão do Parque.

Legenda: Durante a aula teórica de kitesurf
Foto: Victor Alfonso

A AJK realiza ações em conjunto com o ICMbio do Parna. A missão destes profissionais é divulgar os melhores picos para o kitesurf da região, a organização de todas as escolas e a certificação de instrutores, o que vale também para esportistas advindos de outros países.

"Hoje, a prática dos esportes náuticos atrai muita gente. O kitesurf tem muitos adeptos. No Ceará, muitas escolas ajudam na área. É lógico, em especial, essa região, que possui uma qualidade melhor de ventos e o turismo daqui é voltado para essa galera. É um trabalho que respeita a natureza, não é predatório. Todo ano, esse turismo aumenta mais. Nossa temporada forte começa em junho e vai até fevereiro", aponta o professor.

Legenda: Sol e vento propícios ao esporte
Foto: Antonio Laudenir

A dinâmica das aulas respeita a evolução do aluno. O primeiro passo para quem deseja investir em aulas de kite é entender que segurança é vital. O kitesurf, divide Tarciano, é um esporte que você não pode fazer só. "O divertido é estar com os amigos, aquela adrenalina e depois a emoção da confraternização", explica.

Aos 35 anos, o profissional desembarcou em Jeri no início de 2000. Chegou ali por conta da formação enquanto professor de capoeira. Em 2020, são 10 anos de experiência só como professor. Mesmo com anos de experiência ele afirma: "Downwind? Sempre em companhia, nunca só. A palavra inglesa explica a forma de navegar, velejar ou mesmo remar a favor do vento. Ou seja, você segue na mesma direção que ele aponta. A aula do sábado é voltada para um conhecimento geral do esporte. Inclui montagem de equipamento e acesso às regras de segurança e navegação. A aula acontece na companhia do instrutor colombiano Victor Alfonso e da aluna Tábata Lua.

Natureza

Estamos no Riacho Doce, pequena lagoa que desce de um córrego de Jijoca e se encontra com o mar. Conhecemos uma lista de acessórios fixos. Temos o trapézio (para o processo de navegação), o kite, a barra e a prancha. É recomendado usar o colete. Ele é anti-impacto e previne contra qualquer choque mais direto na altura do tórax. O capacete é indispensável, ainda mais quando o praticante já está no nível de fazer as manobras ou quando vai fazer o downwind em lugares desconhecidos.

Legenda: Victor Alfonso (camisa azul), Tarciano Ferreira e a aluna Tábata Lua
Foto: Antonio Laudenir

Após a armação do kite, o passo seguinte é checar a posição do vento. Daí tiramos a zona de decolagem. Nessa experiência inicial, entender a relação do corpo com os ventos é fundamental. Não precisa de força. A sensação de liberdade desse esporte exige concentração. Uma ótima chance para quem deseja esquecer dos problemas e cuidar de corpo e mente.

O equipamento custa em torno de sete a oito mil reais. Porém, bater um papo com os instrutores das escolas para conseguir um material mais barato é o ideal. Não é só uma aula de kitesurf em si. Equilíbrio e natureza atuam na mesma batida do coração.

Para curtir Jeri

Legenda: DJs Nego Célio e Tomé na área: a faixa de praia no fim da tarde é um atrativo ao encontro
Foto: Antonio Laudenir

Como chegar 

De Fortaleza para Jericoacoara, litoral Oeste do Ceará, são em média de 300 km, incluindo um trecho entre as dunas. De carro Para quem vai de veículo próprio o caminho é a CE (085). Ao chegar no município de Jijoca, terá duas alternativas: deixar o carro na cidade e seguir num transporte especial (com tração), ou pagar um guia que irá te conduzir até a Praia de Jericoacoara. 

De ônibus 

Diariamente partem ônibus da Rodoviária João Thomé. O primeiro sai às 4 horas da manhã e, o valor, varia entre R$ 81,15 a R$ 102,75. 

Aulas de Kite 

Quem gosta de esportes, Jeri é uma boa alternativa para aprender ou colocar em prática a modalidade. As aulas são ofertadas pela Taruga Kiteboarding School diariamente. Os valores variam de R$ 220 (a hora) ou R$ 660 (o dia). O curso básico é R$ 1.890. 

Contatos da Taruga Kiteboarding School : (88) 9 99210-7028 ou tarugakiteboardingschool@gmail.com

Música de todos 

Para quem deseja incluir Jericoacoara no roteiro de viagens de 2020, vale a pena visitar a Vila durante os dias de Festival Choro e Jazz. A localidade respira música. Especializada em crepes, o restaurante Naturalmente trouxe a seleção musical dos DJs Nego Célio, Tomé. Nas caixas de som, muito soul e som black inspiravam o fantástico pôr do sol.


 

 

 

 

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