Simone Sousa estreia na carreira solo com o disco 'Mar do Meu Amar'; Veja outros lançamentos

Trabalho reúne músicos de primeira linha e será apresentado na abertura do Festival Além da Rua

Escrito por Antonio Laudenir  , laudenir.oliveira@diariodonordeste.com.br
Legenda: Sabedoria ancestral do corpo e ritmos como samba, carimbó, bolero e baião
Foto: Francisco Gustavo

O mar tem um efeito poderoso aos ouvidos de Simone Sousa. Guia estética e emocionalmente a costura de ritmos abraçados pela cantora, compositora e professora. Capixaba de nascimento e cearense de vida, dois pedaços de chão banhados pelo Atlântico, a artista tem no movimento das águas uma perspectiva unificadora de influências. Atravessa e conecta as 11 músicas do álbum “Mar do Meu Amar”, primeiro trabalho solo que será lançado hoje, às 21h, na abertura do Festival Além da Rua

Com entrada franca, o show de lançamento sucede apresentação realizada em Sobral, onde Simone Sousa atualmente reside e trabalha como professora do Curso de Música da Universidade Federal do Ceará (UFC). Graduada em Música e Teatro, com 20 anos de carreira como cantora, a multiartista se alimenta de várias linguagens artísticas em sua produção musical. 

O projeto “Mar do Meu Amar” nasceu em 2015, a partir de ensaio fotográfico homônimo trabalhado pela fotógrafa Thamila Santos. O próximo passo exigiu a construção de um espetáculo musical. Unindo dança e movimento à direção cênica de Jânder Alcântara, o musical investiu em repertório autoral e inclusão de grandes sucessos da música brasileira interpretados por artistas negros. 

O repertório, as imagens projetadas no palco e a exposição fotográfica de Thamila ampliaram o processo de interação com a plateia. Aqui, a utilização de recursos tecnológicos atravessa a ideia de liberdade e fluência sonora. Faltava colocar este universo num disco cheio, capaz de sintetizar tal entrega.

Legenda: Multiartista se alimenta de várias linguagens artísticas
Foto: Foto: Francisco Gustavo

O apoio financeiro via Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult CE) supriu apenas o processo de gravação. O disco será lançado no formato físico graças à campanha de financiamento coletivo organizado por Simone Sousa. A força do primeiro álbum também deságua na linguagem cinematográfica, por meio de websérie e minidocumentário em colaboração com o diretor Francisco Gustavo. 

“Mar do Meu Amar é o meu primeiro álbum solo e é também um projeto de uma vida. Tem um longo caminho até que ele chegasse, e está aqui porque este é o lugar de onde eu falo. Cantando é como eu digo coisas importantes”, explica a cantora no texto de apresentação do financiamento coletivo online. 

Estudo do corpo

Simone descreve o trabalho como um “corpo múltiplo, de quereres e desvios”. Nesta travessia, é acompanhada dos músicos João Marcos (baixo), Kelvin Mota (guitarra e violões), Jefferson Portela (percussão) e George Frederick (sintetizadores). Outra presença é a voz de Quésia Carvalho

Assim, a pesquisa e encontro com a sabedoria ancestral do corpo pretendida por Simone Sousa conecta-se ao samba, carimbó, bolero e baião. O eletrônico e elementos percussivos tão próximos da natureza percorrem estes sons. A força cênica advinda da experiência profissional da artista contempla outras vozes. Interessa percorrer um caminho lírico capaz de evidenciar empoderamento, desejos, fúria, delicadeza e negritude. 

Legenda: "Cantando é como eu digo coisas importantes", divide a capixaba
Foto: Foto: Francisco Gustavo

Single de divulgação ao lado de “A Voar”, a faixa “É no Mar” inaugura a estreia de Simone Sousa com um interessante jogo de batuques e cordas. O grave do baixo conduz uma construção solar e moderna. Aqui já estão presentes alguns dos elementos preciosos à musicalidade do disco. “Retumbante” amplia com guitarras e serviço de coral uma condução delicada, com cheiro de terra.  

“Nana Burukê”, composta por Alan Mendonça e Joyce Custódio reafirma ainda mais a presença da percussão e conta com participação de Patrícia Sousa. Violões suavizam a costura em “Bicicletando” e vale destacar um certo ar vintage nos timbres. “A Voar” viaja ao som dos sintetizadores de George Frederick e te conduz para a “Vinheta Arrepio” (nome muito apropriado) com Jefferson Portela e Mestre Arrepio.  

Memórias visuais constroem “Novena”, canção bem similar das primeiras faixas de “Mar do Meu Amar”, o que confere unicidade ao projeto. O casamento entre mãos e vozes segue impresso e mostra um conjunto afiado. “Toda em F(ô)rma” é talvez a mais “eletrônica” do disco e só melhora a experiência da audição.

"Barraqueira" é perfomática e passeia por um samba quase experimental ou jazzístico. O bolero de "Saudade Imensa" ganha a participação de Márcio Brandão nos vocais e o resultado é instigante. "Marear" conclui com cores regionais um cuidadoso registro de estreia.

Simone Sousa e convidados entregam um trabalho intenso e cheio de brilho. Revela um delicado ambiente sonoro de resgate de raízes, da entrega a novas tendências da música. Um disco tão hipnótico quanto o mar. 

Serviço

Show Simone Sousa - Lançamento do disco “Mar do Meu Amar”. Hoje, às 21h, no Largo dos Tremembés, ao lado do Estoril (Rua dos Tabajaras, 397, Praia de Iracema). Gratuito. 
Contato: 85 99625-0118.

Foto: Divulgação

Mar do meu Amar
Simone Sousa
Independente
2019, 11 faixas
R$ 20 

ESTANTE

Tool retorna triunfante

Legenda: 13 anos depois de “10,000 Days”, quarteto Tool lança “Fear Inoculum” e coloca um disco de metal no topo da Bilboard 
Foto: Foto: Travis Shinn

Aos olhos da cartilha comercial, seguida pela indústria fonográfica, um artista passar anos sem lançar material inédito é sinônimo de prejuízo. O caráter autoral deve estar a serviço de um engrenagem ávida por novidades e novos produtos jogados no mercado. Felizmente, a regra deste jogo nem sempre dá as cartas. O Tool de Maynard James Keenan, Adam Jones, Danny Carey e Justin Chancellor é bem safo neste quesito.

Após hiato de 13 anos e quatro meses sem registro inédito, restou aos fãs neste intervalo o serviço da expectativa e especulação. A longa espera terminou e o reencontro, em 2019, superou as expectativas. O quinto álbum dos californianos, surgidos no início dos anos 1990, é uma viagem bem sucedida ao universo montado pelo grupo. 

Com mais de 80 minutos, as 10 faixas evidenciam músicos muito bem à vontade em suas funções. Mais de uma década, os norte-americanos mostram maturidade e a tal sabedoria atravessa o reconhecimento da musicalidade até hoje explorada pela banda. A sinfonia alucinante buscada em “Fear Inoculum” reina no desconforto e construção de temas naturalmente encaixados. 

Ácidos

A guitarra de Adam Jones duela com o baixo de Chancellor e o clima etéreo é aprofundado no serviço percussivo de Danny Carey. Keenan, por sua vez, persegue o lisérgico e destila por meio de melodias expressivas, persuasivas. O Tool se mostra comedido e interessado nos detalhes de cada condução. A faixa homônima explode em uma parede de guitarras tortas e, “Pneuma”, descortina um tom fúnebre e, os quase 12 minutos, nem são percebidos. 

Cada uma das longas canções é entrecortada por suítes como “Litanie contre la Peur” e “Legion Inoculant”. “Descending” e “7empest”, uma porrada das boas movimenta bem as intenções de “Fear Inoculum”. A construção do tempo, das letras e as muitas camadas orquestradas pelo quarteto, ampliam o apelo musical de uma banda consciente de seus passos. 

A arte do álbum carregada de símbolos é outra esfera a ser desenvolvida e dissecada pelos fãs. O novo recado do Tool descortina reflexões no modo que consumimos arte, em especial algo tão volátil como a música na era do streaming. Se foram necessários 13 anos para entregar um disco, que o seja. Deixa os caras trabalharem.

Fear Inocolum
Tool

Foto: Divulgação

RCA
2019, 10 faixas

Outros lançamentos

Bacurau - Trilha sonora oficial
Vários artistas

Foto: Divulgação

A força fílmica de “Bacurau” também se ancora na excelente condução de canções e temas. Tomaz Alves Souza e Mateus Alves exploram sintetizadores oitentistas sob as bênçãos do músico e diretor John Carpenter. Diálogos originais do filme também estão presentes. Um exemplo é a esperta “As boas vindas de Carranca”. 

Urânio
2019, 14 faixas

Free
Iggy Pop

Foto: Divulgação

Com 10 faixas, o ícone punk exalta a força estética de um crooner da noite, marca já eficiente nos últimos trabalhos. O iguana mergulha em timbres eletrônicos esfumaçados por pianos e instrumentos de sopro. “Free” só cresce a cada audição e mostra um Iggy imponente e inflamável até mesmo nos silêncios. 

Loma vista
2019, 10 faixas

Rubberband
Miles Davis

Foto: Divulgação

Gravado há 34 anos e arquivado por todo esse tempo, “Rubberband” reascende o legado de Miles Davis (1926-1991) em seus últimos momentos de jazz fusion. Vale conferir o material que sofreu intervenções dos produtores originais Randy Hall e Zane Giles, além de Vince Wilburn, Jr., sobrinho de Miles que tocou bateria nas sessões da época. 

Warner
2019, 11 faixas

Coruja Muda
Siba

Foto: Divulgação

Terceiro disco solo do cantor e guitarrista pernambucano, ex-integrante do Mestre Ambrósio, costura do frevo aos labirintos da embolada. Siba se permite a dialogar sobre o tempo e a violência. Desafia a sociedade ao sugerir os animais com figuras de linguagem. Guitarras e batidas resultam num álbum dançante, nordestino e altamente poético. 

EAEO Records
2019, 11 faixas

 

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